Não é de hoje que se busca uma educação relevante para que a aprendizagem seja verdadeiramente completa e de forma eficaz em sua inter-relação (professor e aluno). No mundo secular existem diversos métodos e estudos para que a educação alcance o indivíduo dessa maneira. Cada escola escolhe a sua maneira de ensinar.
No contexto eclesiástico vemos a maneira didática e completa através dos relatos bíblicos que estão à disposição de todos. Desde a Criação é possível ver um Deus educador.
A sua maneira de ensinar trata de um relacionamento entre um Deus soberano, que quer ensinar à sua criatura (o homem) como viver no mundo, como se relacionar com a divindade e como fazer escolhas. O ensino de Deus é profundo, a compreensão disso ajuda a entender a sua preocupação com o homem. A didática divina é superior a qualquer outra.
Deus se preocupa em ensinar sua criatura de forma completa. Seu processo de educação ocorre através de um relacionamento íntimo, de respeito, amor e conhecimento profundo da sua criatura. E é exatamente assim que deve ocorrer a educação Cristã. Essa deve ter a perspectiva de uma educação relevante e Cristocêntrica. A encarnação de Jesus é a maneira mais amorosa de um Deus educador mostrar com mais clareza como ocorre o processo educacional de crescimento individual, respeitando a característica de cada indivíduo.
Cristo veio mostrar que a falta de compreensão do indivíduo em sua totalidade (visão holística do ser) tem demonstrado o quanto se tem errado na maneira de ensinar, já que o que prevalece num contexto eclesiástico são apenas momentos: cultos dominicais, pregação do pastor, Escola Bíblica Dominical e pequenos grupos. Uma vida cristã de crescimento que tem se baseado apenas em pequenos momentos. Isso não está certo. As pequenas porções de afeto, deixam margens para grandes desafetos. De acordo com Meyer, (1976, pg. 173) a relação que Jesus tinha com seus seguidores era essencialmente afetiva, porque o indivíduo é muito mais que um ser intelectual, é também emocional e precisa muito mais do que conhecimento. Falta essa compreensão no que se refere à educação cristã.
Jesus viu no ensino a gloriosa oportunidade de formar as ideias, as atitudes e a conduta de um povo em geral. Ele não se distinguiu primeiramente como orador, como doutor reformador nem como chefe, e, sim, como mestre (PRICE, 1988: 15)
Muito tem se falado de discipulado, mas poucos têm ido até o fim no processo discipulador. Na realidade, não se pode interromper, porque o processo de discipulado é contínuo, ele deve ser para vida toda. “Nossa verdade e nosso poder provêm do “para onde” e não do “de onde”. (BUBER, 2012: 35)
Assim como Deus se apresentou a Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi e os profetas, Ele deseja se apresentar a todos através de um ensino completo, consistente, profundo, constante e afetuoso. Ele veio até os seus. Jesus está nos seus, e deseja que esses compreendam a maneira eficaz de uma educação para a vida. “Ele nunca se dirigia aos seus ouvintes com superioridade; sempre respeitou sua capacidade; via a vida da perspectiva deles. A simpatia é o prelúdio da sabedoria e a compreensão é a base do progresso”. MEYER, 1976: 174)
Para esclarecer a Educação do Encontro Jesus usou várias metodologias e esquemas para que nada se perdesse pelo caminho. O estar disponível e junto, também se caracteriza como uma forma de ensinar.
Se hoje se converte alguém em sua igreja, como será a reação dos que ensinam? O novo na fé não sabe, não conhece, tem apenas em sua mente a experiência maravilhosa de ter conhecido Jesus como seu salvador e Senhor. Não sabe nem explicar como isso aconteceu. É nesse momento que se percebe o quanto é necessária uma aproximação do novo na fé. É preciso entender que a conversão é um dos momentos mais especiais para o crente, e a recepção de novos crentes, por aqueles que já conhecem o evangelho e tem Cristo, como seu Senhor e Salvador, deve ser afetuosa e demonstrar a este novo irmão o afeto que Cristo deseja de nós, no entanto, essa demonstração tem sido momentânea, infelizmente dentro da Educação Cristã vemos os novos convertidos, segundo Germano (2013, pg. 36), como “coitadinhos”, quando na realidade devemos tratá-los com irmãos.
O processo de crescimento é doloroso. A maneira que se ensina não precisa ser dolorosa, precisa sim, alcançar seu objetivo: uma vida abundante em Cristo. Esse era o objetivo dos ensinos de Jesus. “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com plenitude” (João 10.10)
A maneira como se olha as pessoas revelará como tem sido o olhar para uma educação verdadeiramente cristocêntrica. Ao invés de julgar, por que não olhar a necessidade do outro e buscar meios para ensiná-lo a ter um encontro com Cristo de crescimento e mudança? Assim aconteceu com Zaqueu:
1 Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade.
2 Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era rico e chefe de publicanos.
3 Ele tentava ver quem era Jesus e não conseguia, por causa da multidão e porque era de pequena estatura.
4 Correndo na frente, subiu num sicômoro a fim de vê-lo, pois Jesus tinha de passar por ali.
5 Quando chegou àquele lugar, Jesus olhou para cima e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje tenho de ficar em tua casa.
6 Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria.
7 Ao verem isso, todos criticavam, dizendo: Ele foi ser hóspede de um homem pecador.
8 Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Vê, Senhor, darei aos pobres metade dos meus bens, e, se prejudiquei alguém em alguma coisa, eu lhe restituirei quatro vezes mais.
9 Disse-lhe Jesus: Hoje a salvação chegou a esta casa, pois este homem também é filho de Abraão.
10 Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. (Lucas 19.1-10)
Jesus traz mudanças. A Educação Cristã deve promover esse tipo de transformação. Não se deve ensinar sem ter um objetivo e uma meta de transformação.
Alguns professores confundem meios com fins. Ensinar a Bíblia é um método; mudar vidas é um objetivo. A razão pela qual ensinamos na igreja é que vidas sejam transformadas. A razão pela qual nós promovemos estudos bíblicos é que vidas sejam transformadas. (DOWNS, 2001, 38)
O Educador não transforma vidas. “Mas o conteúdo da Escritura ensinada no poder do Espírito Santo muda vidas. Deus pode usar nosso ensinamento para fazer mudanças.” (DOWNS, 2001, 39).
A educação do encontro acontece quando a aproximação do educador e do educando não é limitada pelo conteúdo ou pela posição, mas sim, ampliada pela compreensão de suas limitações e formas de aprendizagem. É óbvio que o educador deve ter a sua posição de autoridade, mas nunca utilizar a sua autoridade como autoritarismo. Quando o autoritarismo é instalado a afetividade vai se perdendo.
Uma educação do encontro pode ser muito bem analisada quando líderes religiosos trazem até Jesus uma mulher, que fora encontrada em adultério.
4 disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
5 Na Lei, Moisés nos ordena que tais mulheres sejam apedrejadas. E tu, que dizes?
6 Eles diziam isso para colocá-lo à prova, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo.
7 Mas, como insistissem em perguntar, ergueu-se e disse-lhes: Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirar uma pedra nela.
8 E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão.
9 Ao ouvirem isso, todos foram saindo um a um, começando pelos mais velhos; e ficaram apenas Jesus e a mulher, em pé no mesmo lugar.
10 Levantando-se e não vendo ninguém senão a mulher, Jesus lhe perguntou: Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?
11 Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não peques mais. (EVANGELHO DE JOÃO 8.4-11)
Jesus permanece silencioso, e ouve com atenção a acusação que tinham contra ela. Ele, como um bom professor, tinha o conteúdo (conhecia a Lei de Moisés), e através de duas perguntas resolve todo aquele problema (sabia colocar em prática sua aula). Usava a arte da pergunta para conduzir as pessoas a se interiorizarem e a se questionarem”. (CURY, 2006: 20). Jesus mostra como o sucesso no ensino estava ligado à compreensão do homem como um ser cheio de virtudes e conhecimento. (MEYER, 1979: 171)
Buscando essa compreensão total do homem e de como a educação do encontro alcança seu objetivo PRICE (1988), traz uma visão interessante dos métodos de Jesus no processo pedagógico de uma educação do encontro:
- Ensinava chamando a atenção de seus ouvintes (iniciando uma conversa João 4.7-9); fazendo perguntas (Mateus 16.13); convidando ao companheirismo (Marcos 1.17); chamando as pessoas por seu nome (João 1.42); e empregando palavras que chamavam atenção de seus ouvintes;
- Ensinou o desconhecido (água viva) a partir do conhecido (água) (João 4.7 e 10);
- Ensinou conceitos abstratos em termos concretos – grão de mostarda, reino de Deus (Mateus 13.31 e 32);
- Ensinava por meio de histórias (parábolas), que eram concisas, lógicas e despertavam o interesse de seus ouvintes;
- Ensinava através de recursos visuais (Mateus 21.18 – árvore; Marcos 12.13-17 – moeda; João 4.45-39 – Campos prontos para a colheita);
- Ensinou através de discurso (o sermão do monte – Mateus 5, 6 e 7;
- Ensinou através de seu próprio exemplo (foi batizado e lavou os pés dos discípulos).
Todos esses pontos explicam como acontece a Educação Cristã do encontro. Ela proporciona uma visão diferente e consequentemente uma compreensão holística dos que estão sendo ensinados. A mudança não se caracteriza apenas nos outros, mas também em quem ensina. Revelando que o agir de Jesus na vida daqueles que entendem a educação como encontro não é superficial. Aquele que se encontra com Cristo, saberá ensinar de forma envolvente e totalmente clara e eficaz. Sempre haverá resultados na vida dos que ensinam não para si, mas para que os outros se encontrem.
Referências
BAKER, Mark W. Jesus, o maior psicólogo que já existiu. 1ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.
Bíblia de estudo nova versão transformadora. /tradução Susuna Klassen. 1 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2018.
BUBER, Martin. Sobre comunidade. Seleção e introdução de Marcelo Dalcal e Oscar Zimmermann. São Paulo: Perspectiva, 2012.
DOWNS, Perry G. Introdução à educação Cristã. Ensino e Crescimento. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
GERMANO, Altair. Pedagogia Transformadora – conheça os vários aspectos da pedagogia para a transformação integral de seus alunos. 1ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2013.
MEYER, Frederick. História do pensamento educacional. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
PRICE, J. M. A pedagogia de Jesus. Rio de Janeiro: JUERP, 1980.