O ambiente educacional é, por natureza, um campo de batalha para a saúde mental. A pressão por resultados, a sobrecarga de trabalho, a relação complexa com alunos e pais e os desafios estruturais das instituições são fatores que contribuem para o adoecimento de muitos profissionais. No entanto, para o educador cristão, essa realidade ganha uma camada extra de complexidade, um fardo que, se não for gerido com sabedoria, pode levar a um esgotamento profundo, não apenas físico e mental, mas também espiritual.
O peso da vocação: Mais que uma profissão, um Ministério
Para o educador cristão, o trabalho vai além da sala de aula. Ele é visto, e muitas vezes se enxerga, como um ministro ou missionário. Essa perspectiva, embora nobre, adiciona uma série de expectativas e pressões. A ele se espera que seja um modelo de conduta, que demonstra uma fé inabalável e que guie seus alunos não apenas academicamente, mas também espiritualmente. Isso cria uma pressão interna para a “perfeição” e um sentimento de culpa diante de falhas ou dificuldades.
O problema é que essa sobrecarga dupla — profissional e espiritual — pode levar a um estado de exaustão silenciosa. A busca por ser um bom profissional e um bom cristão pode resultar em um autocuidado negligenciado. O educador pode se sentir culpado por tirar um tempo para si, acreditando que todo o seu tempo e energia devem ser dedicados ao “ministério”. As dificuldades no trabalho podem ser erroneamente interpretadas como uma falha espiritual, levando a um ciclo vicioso de questionamentos e insegurança na fé.
O chamado ao autocuidado: Uma questão de sabedoria
O autocuidado não é um ato de egoísmo, mas de sabedoria e responsabilidade. A Bíblia, inclusive, nos dá importantes diretrizes sobre a importância de descansar, renovar as forças e não se sobrecarregar.
Referências Bíblicas:
Marcos 6.31: “E ele lhes disse: Acompanhai-me a um lugar deserto e descansai um pouco. Porque os que iam e vinham eram muitos, e eles não tinham tempo nem para comer“. Jesus, em meio à intensa jornada de seu ministério, reconheceu a necessidade de descanso para seus discípulos.
Salmo 23.2: “Ele me faz deitar em pastos verdejantes; guia-me para as águas tranquilas” O salmista ilustra o cuidado de Deus, que nos leva a lugares de descanso e renovação, tanto física quanto espiritual.
Mateus 11.28-30: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve“. Jesus nos convida a entregar a ele o peso que carregamos, encontrando descanso em sua presença.
Estratégias de autocuidado para o Educador Cristão
Para evitar o adoecimento e prosperar na vocação, o educador cristão precisa intencionalmente incorporar o autocuidado em sua rotina. Algumas estratégias práticas incluem:
Estabeleça limites claros: Defina horários para trabalho, descanso e lazer. Não leve trabalho para casa ou para o seu tempo de folga, e aprenda a dizer “não” a demandas que sobrecarregam sua agenda.
Cultive um tempo com Deus: O tempo de oração e leitura da Palavra deve ser uma fonte de renovo, e não mais uma tarefa a ser cumprida. Busque um relacionamento genuíno com Deus que revigore a sua alma.
Priorize o descanso físico e mental: Durma o suficiente, alimente-se bem e pratique atividades físicas. Reserve tempo para hobbies e atividades que lhe dão prazer e ajudam a “desligar” a mente do trabalho.
Busque suporte: Fale sobre suas dificuldades com um amigo de confiança, um líder espiritual ou, se necessário, com um terapeuta. Reconhecer a necessidade de ajuda não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria e coragem. O cuidado com a saúde mental é tão importante quanto o cuidado com a saúde espiritual.
O ministério da educação é um dom precioso, e para exercê-lo de forma saudável e duradoura, o educador cristão precisa aprender a cuidar do templo que é o seu próprio corpo e mente. O autocuidado não é uma opção, mas uma necessidade vital.
Referências:
Bíblia de Estudos e Sermões de C. H. Spurgeon. Curitiba. Publicações Pão Diário, 2018.
https://www.scielo.br/j/cadbto/a/KcG59hsZhTXBN7pC5Vs777g/?format=pdf&lang=pt