“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, […]” (Hb 4.12a)
Quando falamos em leitura, especialmente na sociedade atual e nas diversas idades, logo percebemos um alto índice de resistência. Incentivar a leitura é uma tarefa que exige dedicação, esforço, tempo, vontade e, acima de tudo, persistência na busca pelo conhecimento e por estratégias para disseminação desse hábito Para Eliana Yunes (2003, p. 14), “a capacidade de viver de forma mais harmônica e qualitativa está enlaçada à capacidade de ler, se o sujeito todo estiver mobilizado, quer emocionalmente, quer intelectual, quer socialmente,” quer espiritualmente. É neste sentido que a leitura bíblica precisa estar entrelaçada ao ser humano como um todo, trazendo equilíbrio e vida, posto que a Palavra não é só um livro, não é só literatura, é a revelação que penetra a alma e muda o viver.
Na minha caminhada cristã não foram poucas as vezes que comecei a leitura de um livro da Bíblia e parei. Nesse complexo processo de ler, pensar e ressignificar, buscamos encontrar algo de valor, talvez sabedoria, talvez queiramos nos aproximar de Deus. O livro de Provérbios afirma que, se “o buscares como quem busca a prata e o procurares como quem procura tesouros escondidos;” (Pv 2.4), encontraremos. Contudo, nossa prática está configurada em ações profundamente desacertadas e revela quanto precisamos desta (trans)formação interior. Apresso-me em dizer que esse significado de (trans)formação vai além do simples “formar” e até mesmo além do próprio “transformar”. Esse conceito é a própria ação divina no desejo de fazer do homem adorador, desde o Éden, depois na encarnação da pessoa de Cristo e, por último, na manifestação da pessoa do Espírito Santo. “Por que Deus procura verdadeiros adoradores” e estará conosco para sempre.
Entendemos que o ser humano se comunica por meio de uma diversidade de linguagens, respeitando os símbolos, a oralidade e o processo de evolução da escrita. Contudo, a inteligibilidade da comunicação não acontece sem mediações. Segundo Eliana Yunes (2003, p. 11), a coerência e a transparência desta comunicação residem “na ação,
quando nossos gestos e atitudes puderem ser tomados como discursos que confirmem ou neguem a palavra”. É interessante observar que a autoridade do discurso de Jesus
também se baseava nesta afirmativa, quando suas ações refletiam o que Ele verdadeiramente é.
Em 2018, eu, Danielle Viana de Oliveira de Souza, idealizadora e fundadora do Projeto PILAR, fui tomada por uma angústia profunda caracterizada por uma inquietação interior pelo fato de que eu, embora fosse pedagoga e educadora, não gostava de ler. Na verdade, passei anos da minha vida procrastinando e enganando a mim mesma a respeito deste assunto. Depois de remoer os pensamentos e se incomodar com o marasmo próprio de uma passiva e pacata leitora (a autora que aqui escreve), que se contentava com a superficialidade das informações da internet, veio a decisão de tornar-me uma leitora ativa, de fato, e estimular, por meio da criação do Projeto PILAR, esse hábito em mim mesma e nas pessoas. Desta forma, seria possível transformar a ação em uma oportunidade de mudança pelo estímulo individual e compartilhamento de experiências literárias.
Quando você se abre para explorar essas inquietações e decide transformá-las em atitudes benéficas para um viver livre da ignorância, a mudança acontece. Ninguém vai saber tudo sempre, mas quando a leitura é um hábito, ela traz benefícios tanto para saúde do corpo como da alma, porque ela é capaz de transportar nossos pensamentos estruturando-os para a compreensão do mundo pela construção da aprendizagem, criatividade e funcionamento da memória; pela capacidade interpretativa de si mesmo e do outro, assim como de tudo a sua volta. Também, toca nossa subjetividade (Rm 12.2) nos levando a Deus e submetendo-nos a sua vontade para fortalecer nossa espiritualidade.
A sabedoria de Deus é revelada progressivamente na história. Só conheceremos a Deus se o Espírito Santo nos ensinar e só experimentaremos a graça se crermos pela fé em Jesus. A “mente” de Deus é insondável. Nosso relacionamento com Ele sempre parte de uma perspectiva terrena e humana. Para Miranda (2004, p. 56), “na ordem histórica que é a única que conhecemos e experimentamos, todo o ser humano está sob o dinamismo do convite de Deus. Como a salvação se faz na história, Deus quis primeiro se comunicar.
O autor da carta aos Hebreus com certeza se abriu para experimentar essa nova vida em Cristo. A divisa em sua alma não era para condená-lo à morte, mas para trazer vida nova pela ressurreição de Jesus. Jesus é o caminho, a verdade e a vida, então a Bíblia é eficaz porque revela a verdade. Deus não teve a intenção de omitir fatos, nem o fez. Já está bem claro que “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça;” (2Tm 3.16).
Então, como seria possível viver sem lê-la? Quando Deus, em um livro, registra seu plano salvífico, seus desejos e intenções para fazer o homem e a humanidade feliz, Ele queria se comunicar. Queria amá-lo, porque Ele o amou primeiro! (1João 4.19 ).
A comunicação permeia toda a convivência humana. A sociedade atual apresenta uma forma veicular simplificada de transmitir a informação, seus conteúdos são objetivos e rapidamente substituídos. Contudo, práticas de leitura mais profundas, frente aos desafios do cotidiano, lhe darão autonomia e confiança para enfrentar a realidade e para estreitar sua comunhão com Deus, sendo possível conhecê-lo melhor.
Bibliografia:
YUNES, Eliana (Org.). A experiência da leitura. São Paulo: Loyola, 2003.
MIRANDA, Mario de França. A salvação de Jesus Cristo: a doutrina da Graça. São Paulo: Edições Loyola, 2011.
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