“Enquanto cultuavam o Senhor e jejuavam, o Espírito Santo disse: Separai-me Barnabé e Saulo para a obra para a qual os tenho chamado.
Então, depois de jejuar, oraram e lhes impuseram as mãos;
e deixaram que partissem” (Atos 13.2,3)
Resumo
Os ritos de passagem marcam as etapas da nossa vida nos inserindo numa próxima fase, nos transferindo para um novo status.
Um dos acontecimentos que me traz saudade dos tempos de seminarista no Seminário Teológico Batista Mineiro é o Dia de Educação Teológica, comemorado pelos batistas brasileiros no terceiro domingo de novembro – O Dia do Seminarista. Na semana que antecedia ao “grande dia”, a União Feminina Missionária da cidade de Belo Horizonte organizava, em uma das salas do edifício onde funcionava o curso, uma homenagem para os alunos. Colocavam a mesa com gosto; diziam palavras de afirmação e incentivo; oravam e juntos conversávamos, ríamos e comíamos as delícias de uma festa. No domingo, cada seminarista era homenageado por sua igreja, recebendo presentes.
Lembro-me do meu primeiro ano quando ainda não trabalhava fixo com uma igreja. O pastor Mancebo me procurou, pois, a Primeira Igreja Batista do Bairro da Lagoa em Ribeirão das Neves, cidade da grande Belo Horizonte, queria homenagear um seminarista vindo do interior que estivesse sem igreja. Eu passei o domingo com os irmãos e à noite voltei com uma cesta de vime repleta de pequenos presentes, ofertados por pessoas gentis e sensíveis. Aquele foi o meu primeiro rito de passagem e estabeleceu meu status de seminarista. Eu precisava daquele marco. Ele delimitou o período do meu estado anterior impulsionando-me a fazer a travessia, tirando-me do estágio intermediário em que ora me sentia de um lado, ora do outro. Agora eu me sentia inserida no universo dos que se preparavam para o ministério. Solenemente eu havia recebido uma cesta no dia do seminarista, marcando aquele momento importante da minha vida. O rito social da entrega da cesta completava o rito religioso da aceitação do chamado de Deus. Possivelmente a igreja não tenha compreendido a dimensão da importância do bem que me fez.
Precisamos dos ritos de passagem porque eles dão sentido ao esforço que fizemos para uma conquista. Na minha Graduação em Educação Artística meu Trabalho de Conclusão de Curso foi a elaboração e execução, em grupo, de um projeto de artes. O incrível foi que a prática do projeto em uma escola não me fez sentir satisfeita. Por algum motivo, como estudante, eu necessitava passar por todas as etapas e apertos causados por uma Monografia. Assim, na primeira pós-graduação, eu esperava ansiosamente o momento de iniciar meu projeto de pesquisa. Fui a primeira a concluir o trabalho e quando a data da apresentação pública já estava marcada, foi publicada a lei eximindo a obrigatoriedade do TCC nos cursos de Pós. Enquanto meus colegas vibravam com a notícia eu me frustrava, porque conscientemente, eu precisava do marco de um exame diante de uma banca para me sentir confortável no meu novo status. Eu precisava do rito daquela passagem. E foi por isso que enfrentei todo o nervosismo e apresentei o trabalho.
Joseph Campbell antropólogo americano afirma em seus estudos que, quando uma sociedade abandona seus ritos de passagem da puberdade, por precisarem desesperadamente deles, para se firmarem como indivíduos na próxima etapa da vida, os próprios jovens criam seus ritos e na maioria das vezes de forma negativa. A importância dos ritos para indivíduos e sociedade é inegável. O povo hebreu tinha seus ritos, iniciados em tenra idade. O menino era circuncidado ao oitavo dia de vida. Jesus deixou-nos exemplos como o batismo, marco da transição de alguém no estágio de assistente para o de membro da igreja. Deixou-nos a Ceia do Senhor como lembrança do marco do sacrifício Dele por nós.
Quando o Espírito Santo separou e chamou Barnabé e Saulo para a obra missionária, houve um momento solene, um rito de passagem, “impuseram-lhes as mãos e os enviaram”. A partir daquele momento eles se tornaram missionários.
Após os anos de estudo nos Seminários e Faculdades Teológicas alguns marcos importantes acontecem na vida estudantil do futuro líder, como a formatura, a aprovação pelo concílio, culminando com a consagração realizada solenemente com a imposição das mãos por outros líderes já consagrados pastores. Assim termina um ciclo e inicia outro. De rito em rito somos confirmados pela igreja e sociedade. Continuamos nossa jornada crescendo e amadurecendo como pessoas, transformando e sendo transformados como servos dAquele que nos chama para uma boa obra.
REFERÊNCIA
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito: editora Palas Athena. Org. por Betty Sue Flowers.1991.