“Então Jesus lhes contou esta parábola…”
Resumo
Na trajetória da vida no ano de 2021 muitos “heróis” terminaram sua “jornada” no mundo comum e entraram para o mundo especial da eternidade. Porém, tanto os que se foram, como os que ficamos continuamos heróis da nossa própria jornada.
A primeira vez que ouvi falar sobre a “Jornada do Herói”, foi em uma aula de roteiro com o Erick Azevedo na Casa dos Quadrinhos em Belo Horizonte. Fiquei encantada, seguindo com o professor os passos da jornada para no final descobrir que a “jornada do herói” era na verdade a trajetória de todos nós.
Que todos gostamos de histórias é fato inquestionável. À beira das fogueiras; no teatro da Grécia antiga; acompanhando os grandes mestres; nas salas de cinema, de TV; diante de um livro ou de um púlpito, as histórias são contadas em todos os lugares e de inúmeras formas. Sua importância para o ser humano é tal, que desde a antiguidade pessoas se especializam em escrever, encenar e contar histórias. Uma das formas mais antigas, conhecidas e usadas até hoje para roteirizar uma história é a “Estrutura Aristotélica”, também conhecida como a “Poética de Aristóteles”, em que a história é organizada em três atos e dois pontos de virada. O primeiro ato trata da apresentação dos personagens em sua ambientação, situando o leitor ou espectador no contexto, em mais ou menos 25% do tempo ou páginas; o segundo ato é o desenrolar da história, seu desenvolvimento com todos os acontecimentos importantes da trama, sendo a maior parte, com média de 50%; e o terceiro ato é o desfecho da história nos outros 25% do tempo ou páginas. Entre cada ato é colocado pelo escritor um ponto de virada, que é um acontecimento impactante que tem como finalidade mudar o rumo da narrativa, trazendo para o leitor ou expectador um novo incentivo para continuar ouvindo, lendo ou assistindo.
A importância das histórias para o ser humano vai para além do entretenimento. Grandes mestres de várias culturas fizeram uso delas para transmitir seus ensinamentos de forma mais agradável, leve, sem juízo de valor. Jesus o Mestre por excelência e nosso exemplo maior fez uso das histórias ficcionais, as parábolas, para ensinar as verdades espirituais, levando seus ouvintes à reflexão e à tomada de decisões. Seguindo seu exemplo, pregadores de várias gerações fazem uso das chamadas “ilustrações” em seus sermões a fim de exemplificar um ensino difícil de ser transmitido. E basta um pregador iniciar a narração de uma história para que os desatentos se voltem a ele com total interesse.
Por tal importância, é que muitos estudiosos se dedicam às pesquisas sobre o fenômeno, com destaque neste artigo para o antropólogo Joseph Campbell e o roteirista Christopher Vogler. Campbell em seus estudos descobriu que os grandes mitos, e epopeias escritas em todos os tempos e culturas apresentam estrutura semelhante, seguindo praticamente as mesmas etapas com pequenas variações. A esta estrutura ele chamou de “Jornada do Herói”. Vogler anos mais tarde, a partir dos estudos de Campbell, adaptou a Jornada do Herói para os roteiros de filmes e animações de Hollywood e estúdios da Disney, com grande sucesso de bilheteria. Fez palestras, oficinas e registrou suas experiências, gerando o livro que chamou de “A Jornada do Escritor”, especificando doze passos do herói, desde sua saída do mundo comum até o seu retorno transformado.
Se olharmos para as histórias bíblicas tais como as de Abraão, Jacó, José, observamos nelas os passos levantados por Campbell e confirmados por Vogler. Segundo essa estrutura, o personagem precisa sair do seu ambiente normal, do seu mundo comum para atender a um chamado, devido a um desequilíbrio, conflito, ou de ordem sobrenatural. Às vezes ele quer recusar o chamado e por isso precisa de um mentor para incentivá-lo, deixando o personagem no limiar do seu ambiente natural com o mundo especial da aventura. A partir do momento em que ele decide aceitar o chamado entra para o mundo especial. No ambiente totalmente diferente desse novo mundo o personagem começa a experimentar as situações mais adversas que uma boa aventura proporciona, com inimigos, aliados, lutas, provações e finalmente a recompensa. E nesse ponto ele está pronto para voltar ao seu mundo comum, passo denominado retorno transformado, pois já não é mais como antes, está rico de experiências.
Seguindo a lógica de que as artes imitam a vida e andam de mãos dadas, a nossa identificação com as histórias que seguem os passos da Jornada do Herói faz com que sejam as nossas preferidas, aquelas que lemos ou assistimos mais de uma vez sem nos cansarmos, pois nos vemos representados nelas, já que ao nascer iniciamos uma jornada semelhante à dos heróis do passado ou da ficção.
Essas informações têm tudo a ver com educadores; pregadores; professores de crianças ou adultos nas igrejas evangélicas, porque somos contadores das melhores histórias que existem, que não só ensinam sobre valores e virtudes, ensinam principalmente, sobre Jesus, Salvação, Vida Eterna. E se Jesus usou o recurso das histórias em seus ensinos, por que nós não o imitaríamos?
Referências
CAMPBELL, Joseph. O poder do Mito, Editora Pala Athena.1991.
VOGLER, Christopher. A jornada do Escritor – estrutura mítica para escritores, São Paulo. Editora Aleph.