“A vida já havia cessado nos povoados; já havia cessado, até que eu, Débora, me levantei, até que me levantei como mãe em Israel” (Juízes 5.7)
Liderar é inspirar as pessoas, orientar e mais ainda desejar o crescimento dos liderados. LeRoy Eims, abre seu livro, “A formação de um líder”, com a seguinte pergunta: Quem está apto a liderar? (pg 15). Muitos poderiam dizer que Jesus não estava. Ele era filho de carpinteiro, veio de Nazaré e não estudou na melhor escola da época, contudo, tornou-se o maior Líder da história, impactando e transformando vidas até os dias de hoje.
Se você percorrer a Bíblia toda, partindo do Antigo Testamento para o Novo, vai perceber o modo como ela registra as virtudes, homenageia e reconhece a mulher. Na Bíblia, a mulher tem papel importante em inúmeras narrativas, é portadora do selo da imagem de Deus, assim como o homem (Gn 1.27; 5.1-2; Gl 3.28). Uma frase de John MacArthur esclarece: “Em Provérbios, a sabedoria é personificada como mulher. A igreja do Novo Testamento é igualmente representada por uma mulher, como a Noiva de Cristo” (2019, pg 6) (Efésios 5.25-27,32; Ap 19.7).
Na vida social e religiosa de Israel, a mulher tinha participação nas festas e adoração, na organização familiar, na criação dos filhos, lhes dava os nomes (Gn 29.31- 30.24; 1Sm 1.20), entre outras atividades. À exemplo de Miriã, irmã de Moisés, profetisa e compositora (Mq 6.4); Eva, Sara, Joquebede, Ana, Ester e quantas outras poderíamos citar. Aqui, cabe lembrar que Deus levantou uma mulher para liderar sobre Israel antes da monarquia, Débora (Juízes 4.4), a juíza e profetisa de Israel. Poderíamos seguir até Apocalipse com muitos exemplos.
Depois da liderança de Josué e a conquista de Canaã, o povo de Israel passou por um período de instabilidade intensa, um ciclo vicioso caracterizado por apostasia e falta de arrependimento (Jz 21.25), um período de guerras civis, declínio espiritual e moral das tribos. Um problema sério estava acontecendo, quando esses homens morreram, diz a Bíblia, que o povo deixou de contar aos seus filhos as maravilhas e milagres do Senhor e estes não o conheciam e adoraram a Baal e Astarote (Jz 2.1). Deus levantava um líder, eles se arrependiam, eram perdoados e recebiam livramento vindo da parte de Deus, mas depois se perdiam em seus devaneios novamente.
Quando se trata de liderança não podemos considerar apenas estilos e técnicas. Liderança tem a ver com caráter. E Débora era essa mulher que se levanta para guiar Israel, “[…] até que eu, Débora, me levantei, até que me levantei como mãe em Israel” (Juízes 5.7). Mãe aqui, é uma palavra bem adequada, porque refere-se à uma mulher que tem profundo cuidado, um amor incomparável, que abraça, mas também repreende; ela é destemida, corajosa e sábia, observamos que seu nome faz referência a abelhas que são incansáveis, organizadas e imbatíveis. Pense comigo… Em que residia a autoridade da liderança de Débora? Posso destacar 3 pontos:
1. Primeiro ponto: Ter disposição para fazer a vontade de Deus
A Bíblia diz que ela era “Ora, quem julgava Israel naquela época era a profetisa Débora, mulher de Lapidote” (Jz 4.4). Ser mulher de Lapidote quer dizer que Débora tinha obrigações familiares, assim como eu e você, contudo ela não punha desculpas na roupa para lavar ou na casa por limpar, “Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim, e os israelitas iam a ela para que julgasse suas questões” (Jz 4.5) Ela estava disponível para fazer a vontade de Deus. Não importa se você é homem ou mulher você precisa estar disponível. Ela era disciplinada, dispunha do seu tempo para cuidar das pessoas. Uma líder transmite confiança, inspira e promove a restauração. A reação que temos em algumas situações é que vai definir se realmente temos o caráter de Cristo e se aplicamos isso à nossa vida cotidiana na comunidade de fé.
2. Segundo ponto: Profetizar com coragem e sabedoria
Talvez ela se sentasse debaixo de uma Palmeira entre Ramá e Betel, com o corpo bem cansado dos trabalhos domésticos, mas a alma sedenta para abençoar (v. 5). Era sábia e paciente. A líder que profetiza transmite a palavra de Deus, aceita a sua missão, é bem-aventurada (Lc 1.35). Só uma líder empoderada do Espírito Santo se juntaria à Baraque para subir e vencer. Contudo, por causa do medo dele: “Se fores comigo, irei; mas não irei se não fores”, ela respondeu: É certo que irei contigo, mas a honra desta expedição não será tua, pois o SENHOR entregará Sísera nas mãos de uma mulher”.
Um líder não precisa desesperar as pessoas, ele deve ser tranquilizador, porém, firme, acreditar nas promessas divinas (Jz 4.6-10). Aqui, o que percebemos é que Deus procura líderes corajosos e verdadeiros, independente do sexo. A reação de Débora sempre era positiva, ela sabia o Deus que servia, era líder com a mente e com o coração.
Enfrentamos ainda em nossos dias sérias resistências quanto ao papel ministerial da mulher nas responsabilidades eclesiásticas, delegando às mesmas, “tarefas de mulher”, como se no serviço do Senhor o mandamento não fosse único: “ide por todo mundo, pregai o evangelho” (Mc 16.15). O próprio Jesus as incluiu as mulheres, em todo seu ministério (leia Jo 4, Jo 8.1-11)). Ele restaura a dignidade da mulher, conduz ao centro os excluídos e desarma os costumes que produzem morte ao invés de vida. Será que em nossas comunidades de fé, as mulheres ficam em segundo plano nas ações de liderança, principalmente pastoral? Deus escolheu Débora para liderar sobre Israel. Esse não é um discurso sobre igualdade de gênero, mas sobre a excelência da mulher, líder-cristã, que reflete no seu caráter moral e espiritual diante de Deus e dos homens, o caráter de Cristo.
3. Terceiro ponto: precisa ser mediadora da paz (pacificadora)
“Ó SENHOR, morram assim todos os teus inimigos! Entretanto, os que te amam sejam como o sol quando se levanta na sua força. E a terra teve sossego durante quarenta anos” (Jz 5.31)
Conduzir um povo (a igreja) ao caminho da paz, talvez seja o maior desafio das lideranças atualmente. Cada indivíduo movido por um egoísmo próprio, ou talvez, por uma vontade demasiada de conquistar um lugar ao sol, acaba se esquecendo do mandamento principal “amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-39). João completa, “quem não ama seu irmão não conhece a Deus por que Deus é amor” (1Jo 4.8). Como diz Débora, somente os que amam ao Senhor brilharão como sol em toda sua força.
Jesus deixou bem claro que nosso valor não reside no cargo que ocupamos, a inquietação dele com os fariseus e saduceus era justamente porque pregavam algo que não viviam e desejam manter suas riquezas através daquela estrutura hierárquica e religiosa desigual. Jesus, o maior líder e maior educador da história, falava com autoridade (Mt 7.29) porque vivia o que ensinava e sempre esteve cheio do Espírito Santo.
Referências
Bíblia Sagrada- ARA
EIMS, LeRoy. A formação de um líder: princípios de liderança espiritual. Mundo Cristão: São Paulo, 1998.
MAXWELL, Jonh C. O coração e a mente do líder. CPAD, Rio de Janeiro:2010.