A prática educativa que se propõe (seja por parte da Coordenação/Direção da EBD, ou do professor(a)) no processo ensino aprendizagem em sala de aula na Escola Bíblica para o ensino bíblico precisa ser realizada a partir de uma nova racionalidade, menos instrumental e pragmática, mas holística e sistêmica. A igreja deve concentrar seus esforços essencialmente na prática educativa/pedagógica dos professores. Diria que “as igrejas não estão interessadas em modelos altamente programáticos e facilmente assimiláveis, que possam ser reproduzidos sem dificuldade”.
Para exemplificar, pesquisas desenvolvidas na área da Neurobiologia, tem provocado impactos imediatos na educação de um modo geral. Nessa perspectiva o conceito de aprendizagem é visto como um ato autopoiético, – auto “próprio”, “poesis” “criação”, termos criados na década de 1990 pelos biólogos e filósofos chilenos Maturana e Varela.
Sabe-se que esse conceito de aprendizagem resgata a Pedagogia do diálogo, que insiste na ideia de que “conhecimento não se transmite, se constrói!”. Algo que ocorre em espaços coletivos de aprendizagem que estimulem a troca de conhecimentos e a experimentação. Em outra oportunidade pretendo lançar um olhar para o conceito de educação cristã reflexiva.
Percebe-se que o desenvolvimento espiritual do crente passa apenas pelo cognitivo dos alunos, mas e a subjetividade desses sujeitos? Como não manifestar nossos sentimentos ao abordar uma temática como essa “Educação Cristã: olhares e cenários”. De comunicar experiências, saberes e sentimentos, com mais autenticidade, com um compromisso de quem toma uma posição, assume o enfrentamento pela educação cristã autêntica e reflexiva.
Quem se ocupa da educação cristã ministrada em nossas igrejas, é requerido que façam opções educativas, ou seja, assumam um posicionamento sobre objetivos e práticas educativas que promovam uma transformação intencional dos sujeitos envolvidos no processo ensino aprendizagem, isto é, “aprendizagem centrada no estudante” (student centered learning).
Ressalto que, “aula”, é um dos fatores determinantes para manter a frequência (já que o ensino é presencial) e a participação na EBD, nossa principal organização. Outro fenômeno refere-se à infrequência dos membros da EBD (para não dizer à igreja, os “desigrejados”, ou seja, “seguir a Cristo e não depender da igreja institucional”) tem aumentado nesses últimos tempos e, pelo visto não temos estratégias para alcançar os infrequentes ou “desigrejados” e, nem os que estão se afastando da vida comunitária proposta pela igreja. Enquanto isso, os membros mais ativos vêm ficando cada vez mais assoberbados e, os demais membros ainda mais ocupados com tarefas do dia a dia, o que implica profunda mudança de estilo de vida. Estamos presenciando o encolhimento da igreja ocidental e do futuro da educação cristã atualmente.
Vivenciamos desde a primeira metade da década de 1980 um cenário em que EBD era considerado o programa mais eficaz de crescimento da igreja, com a publicação de revistas trimestrais totalizando 52 lições anuais. Essa proposta mudou muito pouco, após quase quarenta anos ou mais.
Em decorrência de fatores externos e internos, centenas de igrejas ou comunidades “batistas”, decidem criar uma cavidade aos domingos pela manhã quando suspendem a realização da Escola Bíblica. Penso que alterar a estrutura porque está desatualizada ou esgotada não produz grandes mudanças, porque não se pondera suficientemente os prós e os contras em relação aos ganhos possíveis do que está em curso e do que se pretende alterar. Tais procedimentos são próprios da educação secular, reformas mal sucedidas e posso dizer que o campo religioso não está isento desses modismos e inovações etc. Muitas igrejas estão fazendo Escola Bíblica para poucos e Escola Bíblica de Férias – EBF para poucos. Para Tom Sine (p.21) “apenas remendos e ajustes não nos ajudarão muito nas nossas vidas, igrejas ou organizações cristãs”.
É preciso desenvolver nos crentes o senso de comunidade cristã, isso é, outro fator determinante para o êxito do nosso trabalho ou prática educativa. Isso implica em compreender como as pessoas se relacionam e o que as mantém juntas. É preciso reinventar o nosso modo de viver e praticar a fé.
Não estou dizendo assim se esses fenômenos têm a ver com o ensino ministrado na igreja. A disciplina de leitura sistemática da Bíblia e de vida devocional dos crentes tem sido algo preocupante. Já somos a geração mais indisciplinada em termos de vida devocional, oração e leitura da Bíblia.
REFERÊNCIAS
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MORAIS, Regis de. Educação contemporânea. Olhares e cenários. Campinas: Alínea, 2003. (Coleção educação em debate)
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SINE Tom. O lado oculto da globalização. Como defender-se dos valores da nova ordem mundial. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
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