O ensino da Bíblia é tópico que não pode ser negligenciado em tempo algum, em qualquer situação, em qualquer contexto. Dele advém toda a formação para um ser humano preparado para viver os desafios seculares e, com muito mais propriedade, conhecer a Deus, adorá-lo, servi-lo e temê-lo. Em Hebreus 4.12, vemos definida sua máxima importância: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes; penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é capaz de perceber os pensamentos e intenções do coração”.
A contemporaneidade ampliou o olhar da igreja para os “campos brancos” dos indivíduos denominados “atípicos”. Temos reconhecido a necessidade de mapear as pessoas com deficiência existentes em nossas comunidades de fé identificando suas necessidades, para o planejamento e implementação dos ajustes necessários que as possibilitem aprender na Escola Bíblica. Diante de um sistema educacional inclusivo em construção e, com o crescente número de pessoas atípicas, somos responsáveis por pensar e proporcionar o acesso à compreensão da Bíblia a todos. Para isso, uma equipe de trabalho deve ser formada para desenvolver as adaptações curriculares na Escola Bíblica.
É importante lembrar que currículo é a conexão entre a teoria e a prática, entre o planejamento e a ação. É pelo currículo que uma igreja caminhará unida sobre o que ensinar, quando ensinar, como ensinar e quando avaliar. Uma igreja que não planeja, é uma verdadeira “colcha de retalhos”, com seus ministérios e departamentos fragmentados, gastando energia e gerando cansaço nos poucos obreiros da seara. Somente após a etapa curricular da igreja concluída, as adaptações curriculares terão melhor alcance e resultados.
De acordo com Glat (2002), as adaptações curriculares “são ajustes realizados no currículo para que ele se torne apropriado ao acolhimento das diversidades do alunado – currículo verdadeiramente inclusivo; currículo dinâmico.” (GLAT, 2012). Na igreja, estas adaptações serão respostas oferecidas, de forma a favorecer o acesso ao ensino-aprendizagem da Bíblia a todos. No âmbito destas adaptações no currículo, as mais significativas são aquelas que levam em conta a história de vida, o conjunto de saberes bíblicos já construídos e aprendidos anteriormente (caso existam), além das características pessoais em seu modo de aprender. Em uma anamnese com os responsáveis pela criança ou adolescente, por exemplo, a equipe colherá informações para adaptar o currículo a atividades com recursos visuais, auditivos e tecnológicos, exploração da percepção sensorial, utilização do concreto ou abstrato, incluindo leituras, filmes, atividades dirigidas, com modificações no plano de aula para a realização das propostas previstas, adaptação de materiais para deficientes visuais e auditivos, eliminação de conteúdos secundários, ajuste no tempo para trabalhar determinados objetivos, no nível de dificuldade das perguntas e jogos, incluindo atividades alternativas às previstas e aulas de reforço.
Uma Escola Bíblica reúne diferentes faixas etárias, e deve buscar uma participação integral e bem-sucedida para todos os que se achegam. É necessário buscar atender as peculiaridades e necessidades relacionadas às etapas de aprendizado e desenvolvimento esperados para determinada idade, ajustando os conteúdos à compreensão de todos os alunos. Quando possível, recomenda-se ter uma sala ou espaço para regulação das crianças atípicas, onde elas possam voltar à calma. Um lugar com luz reduzida, pouco barulho, mobiliário planejado e estímulos cuidadosamente selecionados. Um cuidado a mais seria contar com abafadores de ouvidos para os que têm irritabilidade ao som alto. Contar com salas de regulação, aparatos tecnológicos, recursos didáticos e, até inteligência artificial não substituem a nossa única fonte de fé e prática – a Bíblia Sagrada.
A Escola Bíblica – entenda-se aqui, toda a reunião de pessoas com o objetivo de estudar a Palavra de Deus, é um pilar de fortalecimento da igreja. Olhar para os neuro divergentes nos aproxima de suas famílias, e as aproxima do desejo de estudar a Palavra, pois terão ali, um local com educadores e currículo preparados para receber e integrar a todos numa atmosfera de amor cristão e receptividade. Que tenhamos um coração sensível e uma urgência para alcançarmos a muitos a partir das adaptações curriculares.
Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares / Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial. – Brasília : MEC/SEF/SEESP, 1998.
COROPOS, Patrícia. Conhecer para incluir. Disponível em: www.coropos.com Acesso em 24 jun 2023. 2021.
GLAT, Rosana; OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de. Adaptação Curricular. Disponível em: <http://www.cnotinfor.pt/inclusiva/pdf/Adaptacao_curricular_pt.pdf > Acesso em 13 jun 2023. 2012.