Considera-se que, diante dessa realidade faz-se necessário projetar cenários possíveis (tudo que a imaginação permitir) e emergentes, sobretudo quando o assunto é a formação permanente de obreiros para o ministério pastoral e de educadores (o fenômeno da feminilização), saber que estamos diante de uma situação que diz respeito a todos nós, isto é, saber lidar com a questão do envelhecimento (geralmente as mulheres vivem mais do que os homens); o fenômeno da longevidade; da queda da fecundidade; da mortalidade masculina e, do adoecimento humano; a falta de reconhecimento pessoal (discriminação e abandono), financeiro e de formação para atuar à frente da organização do ministério de Educação Cristã da igreja. Esses e outros assuntos precisam de uma maior atenção por parte dos profissionais formadores, crentes piedosos, zelosos pela obra de Educação Teológica, Ministerial e de Educação Cristã na igreja.
Essas questões estão relacionadas a inúmeras variáveis, entre elas, psicológicas, familiar, educacionais, sociais, culturais e econômicas entre outras. Confesso que tenho interesse em pesquisar sobre esses assuntos já que os cenários prospectivos apontam nessa direção.
Reconheço que é preciso conscientização sobre o envelhecimento e sua relação com o ministério de Educação Cristã, a integração da gestão da idade, a formação e aprendizagem do educador cristão ao longo da vida, isso sem dúvida cria um senso de oportunidade para todos.
Segundo Howard Gardner aplica-se ao educador cristão as cinco mentes para o futuro: “uma mente mais bem informada e mais crítica, rigorosa, seletiva, disciplinada e organizada em relação ao conhecimento”, parafraseando diria: uma mente e coração que esteja sob a dependência de Deus, com senso de responsabilidade, de oportunidade e de missão. Complementa-se a capacidade de síntese e a criatividade.
Quanto à liderança pastoral é preciso saber lidar com o educador cristão, e, vice-versa, os mesmos não podem ser tratados como sujeitos “invisíveis” aos olhos da liderança da igreja. Possivelmente alguns desses pastores e educadores vão permanecer mais tempo trabalhando na igreja e no âmbito denominacional; sendo assim, nosso foco é “olhares desejáveis”, para quem merece nosso respeito, amor e consideração.
É necessário pensar em que direção estamos caminhando, para quais cenários prospectivos; se teremos que lidar com situações como as mencionadas nesse ensaio tais como enfraquecimento do ministério pastoral, o encolhimento da igreja e o envelhecimento das pessoas etc. Isto é, para olhares e cenários em que nem a igreja e a Educação Cristã estão preparadas. Esses fenômenos serão os desafios em breve. Para Tom Sine (p.21) “todos os desafios do amanhã são oportunidades de manifestar algo da reação misericordiosa de Deus”. Estamos aprendendo a mudar!
Proponho uma educação “cristã” voltada para o futuro que pretenda unir essência e existência do homem, o desejável e o real. Uma nova concepção de educação que pressupõe um ideal, algo desejável e, nesse sentido aproxima-se da essência, que vise a crítica do presente, uma “ação que deve transformar a realidade social e espiritual de acordo com as exigências humanas”. Isto é, uma educação orientada para a existência.
Segundo N. T. Wright no seu livro: Simplesmente Cristão. Porque o cristianismo faz sentido”, na introdução, diz que existem “dois tipos de viajantes: O primeiro parte em direção ao destino e fica muito feliz por resolver as coisas no caminho, ler placas de sinalização, pedir informações e assim chegar ao local pretendido. O segundo tem necessidade de se informar antecipadamente sobre as condições da estrada, onde ela se transforma em rodovia de pista dupla, quanto tempo levará cada trajeto e assim por diante”. Ou seja, é preciso ir até o fim da linha e não ficar a meio caminho.
Qual dos dois viajantes você é? Vamos ajustar nossos olhares em ações, somos otimistas por vocação ou, de um projeto de educação “fracassado” e em crise. Educadores possuem um olhar diferenciado e plural sobre o caminho que estão seguindo em um cenário de mudanças inesperadas, que atinge a todos, que não criamos. Tom Sine (p.17) afirma ainda que “nesta nossa corrida rumo ao novo século, certamente seremos esmagados pelas mudanças se não nos prepararmos para elas”.
Fomos enviados a ensinar uma mensagem, revelação dada por Deus a uma igreja missional. Segundo Stetzer & Putman (2018,p.66) o termo missional expressa “de quem a igreja é e do que ela é chamada a ser e a fazer”. A verdade é que o educador está no “olho do furação”! Que a educação precisa ser reinventada não tenho dúvida, sem fantasias futuristas nem olhares saudosistas.
Esse e outros assuntos apresentados nessas preleções são sem dúvida complexos, polêmicos e de difícil solução, incompreensíveis, fechados, mas precisam ser objeto de estudo e reflexão em outros encontros. Estudo, que ao invés de ser tratado de forma periférica, seja feito com profundidade, ou seja, radicalidade e rigor.
Às vezes julgamos que somos originais com um determinado tipo de afirmação e nos perguntamos: O que isto tem a ver comigo? Saiba que a agenda dos últimos dias é assunto de Deus, não nosso. O que nos cabe então? Como pastores e educadores de Cristo; cabe a nós fazermos o que Jesus fez e fazer dos propósitos de Deus os nossos propósitos. Isso sem dúvida nos ajuda a enfrentar cenários plurais e complexos com esperança e consciência de que Deus pode usar nossos conhecimentos e habilidades.
É necessário estudar a percepção que as pessoas têm da realidade circundante, de olhares desejáveis e cenários prospectivos. Com certeza as questões que foram tratadas nesse I Encontro de pastores e educadores cristãos expressam nossas preocupações no dia a dia dos ministérios pastorais e de Educação Cristã que assumimos em nossas igrejas. Portanto, é um texto inconcluso, espero que os objetivos dessas preleções tenham sido atingidos na medida em que fomos discorrendo sobre os diferentes assuntos. E como afirmou um neomarxista Gramsci (apud, SILVA, 1978, p.13) “criar uma cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas “originais”, significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las”, por assim dizer”. No dizer de José Saramago, a viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembranças, em narrativa. Quando o visitante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
REFERÊNCIAS
DELORS, Jacques.(Coord.) Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 7 ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2012.
FAVA, Rui. Educação 3.0. 1 ed. aplicando o PDCA nas instituições de ensino. São Paulo: Saraiva, 2014.
JARAUTA, Beatriz; IMBERNÓN, Francisco. Pensando no futuro da educação. Uma nova escola para o século XXII. Porto Alegre: Penso, 2015.
LITTLEJOHN, Robert; EVANS, Charles T. Sabedoria & Eloquência. Um modelo cristão para o ensino clássico. São Paulo: Trinitas, 2020.
MORAIS, Regis de. Educação contemporânea. Olhares e cenários. Campinas: Alínea, 2003. (Coleção educação em debate)
PETERSON, Eugene H. O caminho de Jesus e os atalhos da igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. (Série – Teologia Espiritual)
SINE Tom. O lado oculto da globalização. Como defender-se dos valores da nova ordem mundial. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
STETZER, Ed; PUTMAN, David. Desvendando o código missional. Tornando-se uma igreja missionária na comunidade. São Paulo: Vida Nova, 2018.
TAVARES, José. O poder mágico de conhecer e aprender. Brasília: Liber Livro, 2011.
THIESEN, Juares da Silva. O futuro da educação. Contribuições da gestão do conhecimento. Campinas: Papirus, 2011.