“Se tu és Filho de Deus, ordena que estas pedras se transformem em pães., …, lança-te daqui abaixo; …,
E… Eu te darei tudo isto (todos os reinos do mundo)…” (Mt. 4.3, 6, 8 e 9)
Um atalho é um caminho que se toma para encurtar distâncias e que vai por fora do percurso principal. Num sentido mais geral, a aplicação do termo pode ser feita em vários significados, mas sempre no sentido de encurtar caminho. Às vezes um atalho pode ser a melhor opção, mas nem sempre! Outras vezes o atalho pode ser a pior opção, e manter-se no percurso principal é o que tem de melhor a ser feito. O ruim disso tudo é que nem sempre a gente tem clareza ou antevê o que está por vir, principalmente, quando a decisão precisa ser tomada em uma situação difícil. Você já parou para pensar nos atalhos que tomou na vida e as consequências deles? Algumas ações ainda podem ser revistas.
Jesus esteve diante de situações que provavelmente eu ou você escolheríamos um atalho. Mas ele não o fez e, assim, nos deixou a lição de que nem sempre o atalho é o caminho correto a seguir. Mesmo que venha aquela pergunta crucial – será que não tem uma maneira mais fácil? Parece que esse foi o caso da tentação no deserto! Por que Jesus não transformou aquelas pedras em pães? Por que não pulou do pináculo? Por que não aceitou os reinos do mundo naquele momento? Essas perguntas são aplicadas a nós também como indivíduos e a nós como corpo de Cristo, a igreja. E no final podemos até pensar que se ele tivesse tomado um desses atalhos, nem precisaria subir naquela cruz, não é mesmo?
Quantos seguidores mais e quão mais rapidamente as pessoas creriam nele quando saísse daquele deserto mastigando um pedaço de pão, que pouco tempo antes era uma pedra! Poderia ter antecipado isso. Com certeza os seus discípulos não teriam tantas dúvidas de quem ele era. Um milagre naquele momento seria perfeito! Não bastasse isso, teve uma segunda oportunidade de se mostrar como o cara do milagre, mas quando o procuraram, ele simplesmente fugiu (Jo 6.15). Quando olho com esta perspectiva parece que nós (igreja) estamos pegando um atalho, buscando sempre reconhecimento pelo que se faz!
Jesus não foi o primeiro que se apresentou como “aquele que deveria vir”. Os comentaristas bíblicos dizem que vários se apresentavam como tal. Agora Satanás está ali na dúvida, testando um homem simples para confirmar sua suspeita. Afinal, por que ele passou 30 anos “sem levantar suspeitas”? Não seria melhor antecipar tudo e fazer uma demonstração de poder e acabar com aquilo? Quando teve outra oportunidade, Jesus também não usou do verdadeiro poder para demonstração de força, ao contrário deixou-se prender e submeteu-se à humilhação (Mt 12.53). Não sei, mas parece que a busca por um arremedo de poder tem entusiasmado a igreja. São várias, ao longo do tempo, as associações que têm sido feitas para se antecipar o que só deverá acontecer em outro tempo.
Em nenhuma outra oportunidade Jesus se declarou como rei, a não ser diante de Pilatos (Jo 18.37). Os reinos prometidos na tentação não valiam nada e agora Jesus claramente diz que o seu Reino não é deste mundo. Mas parece que estamos tentando fazer um puxadinho do Reino aqui na terra, transferindo-o para cá, para usufruir do que só virá bem depois. Para isso, novamente associações são feitas, as pequenas concessões têm lugar, esperando uma libertação que não é para agora. O Reino dele vive-se entre o “já” e o “ainda não” e não é para ser vivido aqui, pelo menos em sua plenitude. Portanto, devemos pensar se os atalhos tomados são os que nosso Senhor e Salvador tomaria. Ter discernimento disto é importante para a nossa caminhada aqui, na espera do Reino vindouro. As pequenas concessões não ficam só nelas e é assim que os profetas se corrompem. Assim, ao querer tomar um atalho, cuidado!