“Jesus chorou!” (João 11:35)
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. Assim disse o Mestre diante de uma grande multidão ao proferir um discurso que lido todo não leva mais que meia hora, mas que traz imbricado uma grande revelação acerca dAquele que o profere. Já se falou com muita propriedade que as bem-aventuranças são um autorretrato de Jesus. De fato, o são, pois nEle se cumprem cada uma delas.
Este é um dos menores versos registrados nas Escrituras, mas que traz consigo a forte indicação da humanidade de Jesus. É bem pacífico entre os comentaristas dos evangelhos que o evangelista João tem um forte propósito de mostrar em todo o texto que Jesus é Deus. Não um deus distante, como pensavam os gregos, mas um Deus que ao mesmo tempo que é majestoso, com tudo, e muito mais, que o termo possa significar, está também preocupado com os que são seus. Está perto, compartilha da dor e está pronto a acudir. Um olhar pelos outros evangelhos nos propicia nuances diferentes do Mestre.
O que há de importante em chorar? Certamente tem algo de muito importante. Mas não é o ato de chorar que nos torna humano, mas de algum modo o que nos leva ao choro ou como a percepção da realidade que nos cerca nos estremece por dentro e nos leva a externar derramando lágrimas. Se bem que às vezes choramos sem que uma gota caia! De qualquer forma, o Mestre está lá, diante de uma situação difícil e chora pelo que está acontecendo, chora pelos seus, chora pela consequência advinda da desobediência do primeiro homem e que sujeita toda humanidade e traz desespero aos que ficam.
Parece que a situação irremediável a que estamos submetidos não nos comove mais! Talvez seja a constância com que nos deflagramos nela que nos faça estar acostumados. Não nos comovemos com a dor do outro, a não ser que o outro seja aquele do nosso círculo, e olhe lá! Parece que nossa capacidade de nos condoer com e pelo outro está diminuída. Jesus vê a situação de Lázaro, seu espírito se agita e se comove, enquanto caminha para o túmulo, para onde cada um de nós irremediavelmente se destina, e onde poucos meses depois o próprio Mestre estaria, para com toda sua glória ressurgir de entre os mortos.
Agora por que Jesus chora? Ele não sabia o que Ele mesmo faria? A resposta é “sim, Ele sabia!”, pois diz aos seus discípulos que a ausência dele enquanto Lázaro estava apenas doente de morte era para eles necessária, pois assim eles creriam. Jesus volta à questão de que há determinadas enfermidades com propósitos específicos (Jo 9). Então por que chora, se já sabia o que se sucederia? Talvez porque os que choram é que serão consolados ou são os que choram que movem o coração de Deus e podem dizer ao Pai, como Jesus, “aliás tu sempre me ouves”! Assim, o choro que vale é o que comove o coração de Deus e que revela de alguma forma nossa própria humanidade.
Mas e quando choro, por que as pessoas não ressuscitam como Lázaro? Essa é uma boa pergunta. Eu não tenho resposta, mas gosto de pensar que a ressurreição de Lázaro cumpriu um propósito específico de glorificar o Senhor Jesus e mostrar que aqueles que creem nEle não morrerão eternamente. Assim, vamos continuar chorando pelos nossos, até que a certeza desta verdade também faça parte de suas vidas, pois nosso Senhor já nos falou: “Eu sou a ressurreição e a vida”.