Quando tratamos de “olhares e cenários”, na Antiguidade clássica, do cristianismo primitivo a Idade Medieval (designação surgida durante a Renascença) entre outros períodos históricos, vamos deparar com a afirmação dos ensinamentos cristãos comprometido com a missão de fazer discípulos, ou seja, multiplicá-los, embora a concepção religiosa grega fosse bem diferente da cristã.
Cabe aqui um olhar atento primeiramente para um cenário de expansão e consolidação do cristianismo do primeiro século para entender que estamos tratando de construção histórica da educação “religiosa”/cristã; de um processo educativo de continuidade e descontinuidade voltado a priori, para a proclamação do Evangelho entre os gentios. Eu, confesso que o processo de doutrinamento/catequização e evangelização sempre estiveram presentes na obra educacional da igreja cristã.
Sob égide da doctrina e da disciplina constitui-se o fundamento da expansão e consolidação do cristianismo, já que tinha uma proposta diferenciada das demais religiões ocidentais, suas crenças e hábitos. O cristianismo estava fundamentado nos valores e princípios do Reino, mesmo sob a tutela do Império Romano e a influência dos gregos. A propósito, o objetivo consistia em preparar os cristãos para uma vida de santidade, submissão e fidelidade a Cristo (Cl.1.28). Sabemos que existiam outros objetivos como confrontar as verdades do Evangelho com as heresias.
Sabe-se que uma nova forma de interpretação do mundo evolui-se da concepção poética para uma forma mais racional e argumentativa, baseada na palavra. Contudo, isso de certa forma sedimenta um padrão de identidade do que entendemos por educação cristã. “E eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada um havia temor, e muitos sinais e feitos extraordinários eram realizados pelos apóstolos” (Atos 2.42-43).
Nas sociedades primitivas ou pré-históricas, cada pessoa sabe mais ou menos o que a sociedade sabe. Se educa pelo exemplo, seja de forma individual – com os pais – ou de forma coletiva – em fratrias etc. pense, por exemplo, nos artesãos medievais, que levavam seus filhos como aprendizes à oficina de outro mestre, (oficina é a sua família, pois aquele sentava-o à sua mesa, colocava-o a seu serviço e assumia a responsabilidade por sua formação moral). A educação cristã/religiosa é tudo, está em todo lugar, não havia se secularizado.
A transmissão é essencialmente oral, na tradição, no “saber comum”, experiencial, transmitido de forma mais ou menos idêntica, através dos hábitos, crenças, comportamentos, hábitos, valores e costumes a cada nova geração. Enquanto, nas sociedades da Antiguidade, já temos os saberes especializados e institucionalizados.
Mas com o tempo, o fervor dos primeiros séculos esmoreceu, em grande parte pelo fato do cristianismo se tornado a religião oficial do Império Romano. Aliada ao Estado, a Igreja passa a dominar o mundo ocidental, justificando as bases econômicas, políticas e sociais do mundo feudal. Com a institucionalização da igreja, o ensino deixa de ser universal e adequa-se a manutenção do modelo escolástico, isolada do mundo pecador. O sistema de explicação do mundo que se define é teleológico-filosófico: a revelação é a base da concepção de mundo e a lógica (razão), o instrumento de conhecimento.
Com a Reforma Protestante, surgem os institutos bíblicos e os seminários para leigos, a partir da doutrina do sacerdócio. Os “evangélicos” históricos criam as escolas dominicais, estudos bíblicos nas igrejas e nos lares e os leigos voltam a ser instruídos na Palavra.
Como vimos o cristianismo deixou um legado histórico voltado para os valores e a moral cristã. Historicamente, um dos papéis dados a educação cristã consiste na proclamação do Evangelho às pessoas de um modo que possam entendê-lo e, assim a “transformação” dessa pessoa e do meio que em está inserida, isto se dava pelo convencimento para mudá-la, em um período em que as pessoas possuíam cosmovisões cristãs em construção, muito pela influência do pensamento grego.
Para (WAGAR, apud LITTO, p.57, 2012) “O passado passou. O presente passa rapidamente a cada dia. A única coisa que podemos mudar é o futuro”, outros diriam “os acontecimentos do futuro têm sua origem direta nos acontecimentos do passado ou do presente”. (Autor desconhecido)
REFERÊNCIAS
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LITTLEJOHN, Robert; EVANS, Charles T. Sabedoria & Eloquência. Um modelo cristão para o ensino clássico. São Paulo: Trinitas, 2020.
MORAIS, Regis de. Educação contemporânea. Olhares e cenários. Campinas: Alínea, 2003. (Coleção educação em debate)
PETERSON, Eugene H. O caminho de Jesus e os atalhos da igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. (Série – Teologia Espiritual)
SINE Tom. O lado oculto da globalização. Como defender-se dos valores da nova ordem mundial. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
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TAVARES, José. O poder mágico de conhecer e aprender. Brasília: Liber Livro, 2011.
THIESEN, Juares da Silva. O futuro da educação. Contribuições da gestão do conhecimento. Campinas: Papirus, 2011.