A exposição das pessoas nos espaços não presenciais para entretenimento, trabalho, estudos, meio de comunicação com o outro fez das redes digitais e artefatos tecnológicos, parte do cotidiano de todos. Da criança ao idoso, da empresa à escola, e sim, a igreja também passou a adaptar-se e crescer nesse sentido.
Como resultado, pessoas conhecem Jesus ao acessar plataformas digitais, redes sociais, espaços de streaming, pois a igreja tem suas paredes abertas para um mundo de livre acesso.
Ao refletir sobre a educação cristã percebe-se que os docentes passam a desenvolver o que chamamos de competências digitais para dialogar e acolher aqueles que estão em contato nesses espaços.
A pergunta da pesquisa foi como os educadores cristãos desenvolvem competências digitais para acolher e influenciar as pessoas que conhecem Jesus ou têm contato com estudos bíblicos no universo digital, a fim de que, permaneçam nos estudos e discipulados iniciados em atividades on-line, mas também iniciem tempo de comunhão com a comunidade de fé de forma presencial?
A partir de pesquisas realizadas entendeu-se que as competências digitais dos docentes serão fundamentais, pois mesmo com o contato aos locais físicos, os meios digitais continuam sendo apoio para aprendizagem e relacionamento discipular.
Para o sucesso ocorrer será preciso ressignificar a metodologia de ensino-aprendizagem. Metodologias ativas, modelos híbridos e tendências na educação são temas que compõem a obra e pesquisa de José Moran, a qual oferece subsídios e aporte para a educação em seus desafios e constantes movimentos de mudança. Conforme aponta Moran (2001)
Nós temos que pensar sobre como dar aula. É desafiador. Não é um modismo, não é algo voluntário e só alguns professores fanáticos irão fazer. Cada um de nós vai, de alguma forma, confrontar-se com essa necessidade de reorganizar o processo de ensinar. (MORAN, 2011, p. 2)
Assim, docentes da EBD também são desafiados a pensar nas suas aulas, pois envolver recursos digitais e tecnológicos não é mais modismo ou tendência e sim necessidade de comunicação para acolhimento e proximidade daqueles que se deseja alcançar, acolher, cuidar e ensinar para tornar-se um discípulo de Jesus que cresça e se multiplique ao replicar o processo com outras pessoas ao espalhar as boas novas.
As aulas não são mais somente nos espaços físicos da escola ou da igreja, mas em ambientes distintos, onde professores e alunos se relacionam e dialogam, mantendo o vínculo educacional, mesmo que não estejam no espaço.
Moran (2015, p.16) afirma que “o professor precisa seguir comunicando-se face a face com os alunos, mas também digitalmente, com as tecnologias móveis, equilibrando a interação com todos e com cada um”. Ao ressignificar essa forma de contato os docentes desenvolvem uma presença significativa na vida dos estudantes.
Em educação sem distância, Tori (2022) estuda o fato de a chamada distância não representar professores, estudantes e conteúdos distantes. Justamente apresenta e aponta estratégias, metodologias, mídias e tecnologias desenvolvidas para aproximar estes sujeitos no espaço de aprendizagem seja ele físico, digital ou híbrido ao envolver os dois ambientes nas diferentes formas ao mesmo tempo, Tori (2017) afirma:
A Escola que vislumbro deve ser não apenas “sem distância”, mas também “sem limites”. Deve ser sem barreiras entre teoria e prática, entre real e virtual, entre presente e distante, entre disciplinas, entre diferentes níveis, entre diferentes culturas, entre possível e impossível. O aluno poderá montar seu cardápio de atividades, poderá escolher quais deseja fazer virtualmente, in loco ou em formato híbrido. A aprendizagem ativa será a base de tudo. Haverá diversidade de mídias e de objetos de aprendizagem. Em uma mesma sala de aprendizagem poderemos ter alunos física ou virtualmente presentes, o mesmo valendo para professores. As atividades extras e os trabalhos colaborativos poderão ser desenvolvidos online e/ou em espaços makers e de estudo. Haverá laboratórios reais e virtuais. Os ambientes de aprendizagem, também reais e virtuais, terão configurações variadas, sendo alocados de acordo com as necessidades de cada atividade. Sistemas de inteligência artificial acompanharão em tempo real todas as atividades dos alunos, emitindo alertas a professores e orientadores, feedback e orientações aos alunos e professores. Sem barreiras, sem distâncias, sem limites. (TORI, 2017, p. 37).
Em especial as tecnologias digitais, as quais não eram novidades no campo da pesquisa acadêmica, mas tornaram-se aliadas na prática docente chegando com seus desafios e possibilidades. O próprio Tori (2022) aponta com relação a este texto de 2017:
No momento em que escrevia o texto acima, eu não poderia minimamente imaginar que o futuro que eu vislumbrava, ou pelo menos boa parte, estava prestes a chegar, de forma generalizada e compulsória, meros três anos depois. Em especial a frase “Em uma mesma sala de aprendizagem poderemos ter alunos física ou virtualmente presentes, o mesmo valendo para professores” parecia, em 2017, descrever um cenário um tanto exagerado e que, se viesse a ocorrer, seria em situações muito pontuais. Era naquela época estranho imaginar uma aula sendo realizada com parte dos alunos em uma sala de aula física e outra parte participando remotamente. Ficaria ainda mais estranho se incluíssemos na cena o professor atuando a distância. (TORI, 2022, p. 37-38)
A porta da sala abre para o mundo digital e expõe a necessidade de desenvolvimento de uma nova linguagem e o aperfeiçoamento didático das chamadas competências digitais.
É um pressuposto que a presente pesquisa respondeu é o acolhimento nesse momento entre docentes e discentes para que a permanência nos estudos seja efetiva. Como completa Tori (2022, p. 40):
Muitos que tinham reservas em relação à EAD ou que achavam a tecnologia digital desnecessária, dispensável ou até mesmo prejudicial, tiveram que rever seus conceitos (e preconceitos). Professores e alunos do chamado “ensino presencial” descobriram que é possível estar próximos, ainda que a distância.
Estas descobertas modificaram as estratégias para desenvolvimento dos planos de aulas e aplicação das metodologias de ensino a ponto de ser verdadeira e reconhecida a afirmativa de Tori (2022, p. 40) que “mais importante do que estar sob o mesmo teto, é que a relação de ensino-aprendizagem seja “sem distância”.”.
Ou seja, as mídias digitais são necessárias, até mesmo em atividades fisicamente presenciais, mas não suficientes para reduzir distâncias. Essa tarefa cabe às metodologias. Às mídias cabe atender às demandas metodológicas.
No cenário apresentado até aqui na pesquisa percebeu-se como para o desenvolvimento de metodologias para reduzir as distâncias e cumprir os processos de aprendizagem foram necessárias as competências digitais serem aperfeiçoadas em todos os sujeitos da educação, seja docente, discente ou instituição, inclusive na igreja.
REFERÊNCIAS
MORAN, J. Novos desafios na educação: a internet na educação presencial e virtual. In: PORTO, T.M. E. (org). Saberes e Linguagens de educação e comunicação. Editora UFPel, Pelotas, 2001, páginas 19-44.
__________. Mudando a educação com metodologias ativas. In: Coleção Mídias Contemporâneas. Convergências Midiáticas, Educação e Cidadania: aproximações jovens. Vol. II] Carlos Alberto de Souza e Ofelia Elisa Torres Morales (orgs.). Ponta Grossa: UEPG/PROEX, 2015. – 180p. (Mídias Contemporâneas, 2) p. 15-33.
TORI, R. Educação sem distância: mídias e tecnologias na educação a distância, no ensino híbrido e na sala de aula. 3ª ed. São Paulo: Artefato educacional, 2022.
______. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. 2ª ed. São Paulo: Artefato educacional, 2017.