Com o decorrer dos séculos, observa-se no desenvolvimento da história da Igreja, episódios envolvidos em um emaranhado de hipóteses exegéticas, minando o conteúdo a ser aplicado pelo educador cristão, afastando e alterando o sentido dos pilares da cosmovisão cristã. Infelizmente, algumas igrejas trilham por alguns caminhos, que desvirtuam os pressupostos, objetivando uma reinterpretação do propósito da comunidade eclesiástica, bem como a falta de investimento para um maior alcance.
O distanciamento dos pilares de uma cosmovisão cristã pelo educador, pode impactar a comunidade eclesiástica de forma radical em dois sentidos: com a progressiva perda da objetividade, ou com a perda de realidade de definições cristocêntricas, de modo que a religião cristã se torna cada vez mais uma questão de livre escolha subjetiva, isto é, perde seu caráter obrigatório intersubjetivo.
A partir dessa perspectiva, há de se observar o ensino da fé efetivado pelo Apóstolo Paulo em 1Co 1.10-17, o qual aplica uma metodologia profunda e radical, expondo aos seus interlocutores o sincretismo religioso que buscava, através de seus pressupostos, distorcer o evangelho de Cristo ensinado por ele.
A narrativa se dá quanto ao modo de viver de uma pessoa, ou seja, se ela vive conforme os padrões do mundo e seus pressupostos ou conforme os padrões de Jesus, para a glória de Deus. Esse processo educativo de Paulo visa encorajar os seus interlocutores a caminharem conforme as lentes da fé, dessa forma colocariam em prática 1Co 11.1 “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”.
Sob essa ótica, observa-se que Paulo constrói um processo em que o ser humano deve romper com o orgulho e a submissão do “Eu”, para ser submisso à vontade de Deus. Essa nova reinterpretação na forma de pensar, agir e viver dentro de um determinado grupo social, sai da idolatria do Eu, para uma vida voltada para a glória de Deus.
A revelação de Deus nas Sagradas Escrituras e em Jesus, fornecem lentes de fé que capacitam a pessoa a entender melhor o processo revelacional, a fim de evitar qualquer tipo de relativismo dos pilares da fé cristã.
O processo revelacional proporciona ao educador cristão a compreensão de uma vida natural e uma vida espiritual, bem como a sua aplicabilidade em sua comunidade de fé. O desenvolvimento de uma cosmovisão cristã para o processo formativo, contribui para o amadurecimento cristão, oferecendo pilares que darão sentido ao ser, viver e estar no mundo.
Segundo o Apóstolo Paulo, uma pessoa espiritual é aquela que submete a condução de sua vida à ação do espírito dado por Deus e não na ilusão de sua racionalidade como norma absoluta, mas em uma vida firmada nos princípios basilares da fé, que a longo do tempo irá proporcionar um amadurecimento espiritual com a mente de Cristo.
Dessa forma, segundo Farinelli (2023), é possível dizer que a cosmovisão cristã não se limita somente ao comportamento do indivíduo, antes ela oferece pilares que dão um novo sentido ao indivíduo, proporcionando um novo significado à sua ação e prática dentro do grupo social em que convive.
Dito isto, é possível dizer, então, que uma cosmovisão impacta os posicionamentos das pessoas nas diferentes áreas de ação, na organização familiar, social, econômica, religiosa e política, bem como no âmbito do ensino a ser aplicado pelo educador.
Assim, ao transpor a temática de cosmovisões para que se haja um entendimento de um possível confronto estabelecido, não pode se limitar aos aspectos da fé e da espiritualidade, mas atinge as áreas social, política, econômica e cultural, observando-se que a cosmovisão é a maneira pela qual como cada grupo social percebe a sua realidade.
Dessa forma, entende-se que relação humana é influenciada pelo conhecimento que está presente na realidade de cada grupo, oportunizando ao indivíduo a capacidade de descobrir, investigar, refletir, construir e até mesmo inovar. Através do conhecimento é possível para cada pessoa projetar novas ideias e novos aprendizados, isto é, Deus proporcionou a sua criação, a capacidade para conhecer.
Para Domingues (2018, p. 99), “a ação do conhecer é ativa, participativa e criativa. Ela envolve o sujeito, dando-lhe ferramentas que o auxiliam no processo de significação pela descoberta”. Essa perspectiva indica que o ato de conhecer envolve proatividade e apropriação sobre o conhecido, gerando significação e aproximação do sujeito com o objeto.
Diante dessa breve reflexão, entende-se que cada educador precisa ser sal e luz no mundo, para que através de sua conduta, seja evidenciado o seu posicionamento e principalmente o seu compromisso na transmissão do evangelho, o qual traz boas novas e esperança para aqueles que creem, pois a nova realidade de vida é inaugurada quando a pessoa não permite mais ser guiada pelas futilidades da vida secular, mas sim conduzida pela verdade revelada em Cristo Jesus.
Referências
BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo I. Tradução Jose Maria de Almeida. São Paulo: Loyola, 1989.
BÍBLIA, Português, Bíblia de Estudo NVI, organizador geral Kenneth Barker; co organizadores Donald Burdick… [et al.]: São Paulo, Editora Vida, 2003.
CARSON, Donald A. O Deus amordaçado: o cristianismo confronta o pluralismo. Tradução de Lena Aranha e Regina Aranha. São Paulo, Shedd Publicações, 2013.
DEMAR, Gary. Quem controla a escola governa o mundo. Brasília: Editora Monergismo, 2014.
DOMINGUES, Gleyds Silva. Diretrizes para a Educação Cristã Bíblica: para onde vamos? Curitiba: Editora Emanuel, 2018.
DOMINGUES, Gleyds Silva. Visão de mundo e a lente bíblica para ler a realidade. 1ª Ed.: Curitiba, Discipular, 2020.
FARINELLI, Donato. A cosmovisão cristã: um estudo aplicado ao contexto eclesiástico sob a ótica de I Coríntios. Curitiba, 2023.
MORELAND, J. P. O Triângulo do Reino. São Paulo: Editora Vida Nova, 2011.
NASH, Ronald H. Cosmovisões em Conflito: escolhendo o cristianismo em um mundo de ideias. Brasília, DF: Monergismo, 2012.