“Assim, pelo contrário, deveis perdoá-lo e consolá-lo,
para que não seja consumido por tristeza excessiva.”
(2Co 2.7)
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, a depressão é um transtorno comum, mas sério, que interfere na vida diária e atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, não importando a idade, sexo, condição social ou econômica. Mundialmente, cerca de 4 em cada 10 adultos dizem ter suas vidas afetadas pela depressão ou ansiedade (ver Gallup Institute). Só em 2020 cerca de 20% dos adultos foram acometidos por ela. A América Latina é a que mais sofreu com pessoas com depressão ou ansiedade (33%).
Nesta carta do apóstolo Paulo aos crentes de Corinto, quando o termo depressão ainda nem existia, parece ser este um tema a ser tratado. É importante destacar que este não é um artigo terapêutico ou científico que vai tratar sobre depressão e qualquer caso do tipo deve-se buscar ajuda médica ou psicológica.
Muitas igrejas não possuem pessoas especializadas ou algum tipo de serviço de atendimento para casos de depressão, mas também não se discute o problema. Talvez por acharem que depressão não é algo que aconteça com crentes. O que é um verdadeiro absurdo! E já de início digo que crente também pode ter depressão! As consequências da pandemia de covid19 estão aí para escancarar este fato; não que não acontecesse antes, mas que os casos aumentaram em demasiado, provavelmente devido o confinamento, às más notícias diárias, às perdas de entes queridos ou como consequência da própria Covid 19.
A propósito, existem vários casos de crentes muito sinceros, ativos no reino, que relataram casos de depressão, como David Brainerd, um dos maiores pregadores entre índios norte americanos no século 18, ou Charles Spurgeon, um dos maiores pregadores do século 19, que teve uma vida dedicada ao serviço do reino de Deus e sofria de estados depressivos crônicos. Mas Paulo, apesar de não termos um diagnóstico preciso, parece demonstrar os mesmos sintomas nesta sua carta, levando-o inclusive a pensar que morreria (2Co 1.8). Parte deste seu sofrimento era devido um sério problema que havia acontecido na igreja de Corinto e que trazia sérios transtornos ao seu ministério.
O apóstolo Paulo sabia que um mal estado de espírito podia trazer péssimas consequências (excessiva tristeza). Então ele diz que a situação precisava ser contornada, já que a igreja já havia feito o que deveria e o causador do problema havia se arrependido, “[…] de tal modo que chegamos a desesperar da própria vida” – depressão. No caso em questão, a depressão era uma consequência de pecado cometido, o que levou a sérios problemas pessoais e sociais. Mas isso não quer dizer que toda depressão seja causada por pecado! No entanto, uma pessoa arrependida, mas convivendo com consequências sociais graves de um pecado, não poderia ficar alijada do convívio da igreja porque isso seria um prato cheio para a ação de Satanás na vida do indivíduo e na vida da própria igreja (2Co 2.11). Pessoas debilitadas precisam ser amparadas e cuidadas. O perdão é necessário para restaurar a saúde do indivíduo e da igreja. Após isso, não há motivos para o alijamento, pois isso pode gerar “excessiva tristeza” ou algo pior.
Cuidar das pessoas sofridas, convalescidas, que padecem de transtornos mentais e físicos é urgente! A igreja é lugar de pessoas doentes, mas que sabem que carecem da misericórdia de Deus e buscam, além de seu auxílio, o seu perdão. A igreja não pode ignorar este problema. E para os que sofrem deste mal que é a depressão, saibam que Jesus os entende, pois não há sofrimento algum que ele não tenha experimentado (Hb 2.18; 4.15). Ou vocês não acham que nosso Senhor na agonia que antecede a cruz não teve esses mesmos sintomas? Revisitemos o evangelho e saibamos que ele era homem de dores e que sabe o que é padecer (Is 53.3). Quanto a cada um de nós, somos aqueles que devem estar sempre prontos a ajudar o que necessita, pois “é Ele (Deus) que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2Co 1.4). Amém!