MINIBIOGRAFIA: ESTELA DE AMORIM RIBEIRO MENDES, 45 ANOS.
Missionária e Coordenadora voluntária da JMN no Viver Escola/Capelania Escolar no Estado do Espírito Santo, atua em 14 escolas municipais.
Família de 5 pessoas, todos com TDAH e um com autismo associado.
Educadora Cristã atuante, em conclusão de curso, aluna do Seminário Teológico Batista Goiano – STBG e pedagoga em formação.
Líder do Ministério Infantil da Segunda Igreja Batista de Feu Rosa, Serra-ES.
Descobri o TDAH depois de adulta, assim como meu marido também.
Desde então começamos a entender algumas coisas e focar para tentar melhorar.
A medicação é caríssima, e não tem na rede pública no meu estado, o que dificulta muito o tratamento da família toda.
Não é frescura! É real!
Leia o texto, de repente te ajuda a entender.
A gente se deita para dormir e as pernas não param, os dedos dos pés insistem em ficar se esfregando um no outro, o cérebro planeja tanta coisa que chega a doer. Três faculdades sem terminar, paradas no meio do caminho, porque enjoei, e ficou entediante, aí somos chamados de preguiçosos. Séries puladas para o último episódio. Livros lidos na primeira página, que precisava saber o final e não tinha paciência para ver o contexto, então a gente pula para a última página.
Olhar com calma a praia, ter paciência em um tratamento. Tenho tentado praticar Eclesiastes, quando diz: “Tudo tem seu tempo”…, e eu estou lutando, assim como tantos outros, e eu fico pensando nas pessoas que nem sabem que são assim, e sofrem sem saber o que está acontecendo – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade-TDAH
Neuro divergente!
Procrastinar dói, mas quando percebemos já estamos lá, atrasando, empurrando com a barriga, até desistir. Ao mesmo tempo que a rotina faz bem, você se irrita porque a hiperatividade não te deixa ficar quieta e seguir um pensamento reto.
A falta de atenção se resume a bater o pé nas coisas, esquecer datas e afazeres, olhar para o infinito e além, se queimar com a panela quente, esquecer comida no fogo ao ponto de quase colocar fogo na casa. Sair e deixar o ferro ligado, ou a porta aberta, se perder na explicação de alguém e voar tão alto que não pensamos nem em descer, de tão alto que fomos.
Não é frescura! Não é charminho e muito menos modinha. Eu sei e pouco se falava, e é por isso que há muitos diagnósticos tardios. Deixaram para trás faculdades, oportunidades de empregos, promoções no trabalho, e alguns já sofreram acidentes, porque faziam essa viagem para o infinito e além, como costumo dizer. Rsrs
E hoje, quando finalmente temos a oportunidade de tratar, de buscar recursos, somos tachados como “modinha”. Não é legal ser neuro divergente, e nem é bonito ser chamado assim, o que há por trás disso é horrível.
Hoje encontrei meu foco. Psicólogos e medicações ajudam muito. Estou muito feliz por estar no segundo ano da faculdade, por estar a um ano na capelania hospitalar e me manter firme, o foco é tudo, é o que me deixa bem. Fazer os outros se sentirem bem, isso me deixa feliz. E hoje eu digo a vocês: que não é fácil, que é uma luta constante, mandar o cérebro se acalmar, esperar um pouquinho, ter paciência com o outro que a gente acha ser lerdo, mas não é, é porque a gente quer tudo rápido, na hora. Não digitar tão rápido, é difícil, comer em uma velocidade absurda, cozinhar muitas coisas porque você precisa de opções.
Temos uma imaginação fértil e somos muito criativos, por isso escrevo muito. Conseguimos pegar vários blocos e transformar em uma imensa cidade se a gente focar, mas se algo chama a atenção, pronto, aquilo já enjoou e largamos de lado.
Não é ir e nem voltar, é o estar que conta para a gente, os outros dois cansa e entedia.
Isso dói, sabia?
Quantos planos iniciei e não consegui finalizar!
É horrível!