“ Há algumas pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é amor.” (AGOSTINHO,1973).
Essa afirmação nos leva a refletir sobre nosso papel como educadores cristãos no Brasil e no mundo. Sabe-se que a Educação Cristã é pioneira e determinou por vezes o rumo da história.
O ensino religioso foi padrão para o regular em diversos momentos, proporcionando o acesso à leitura e a inclusão social. São exemplos disso, a própria tradução da Bíblia para as línguas nativas realizada pelos reformadores e a preocupação de Raikes em retirar as crianças das ruas e dar-lhes um pouco de amor e civilidade.
Mas, enquanto a educação secular vive a ascensão do EAD, pelo menos no Brasil, mesmo antes que a pandemia se estabelecesse, observamos que muitas de nossas igrejas não tem recursos materiais e nem humanos e existe pouco interesse de algumas lideranças em fortalecer este ministério. Precisamos alavancar nossas escolas bíblicas e atualizá-las.
É certo, que com a pandemia essa necessidade ficou mais evidente. Quando as portas dos templos de concreto se fecharam, a pergunta foi, como vamos cultuar? Como vamos prosseguir com os estudos? Muitas igrejas já transmitiam seus cultos online, mas a EBD não estava incluída neste planejamento.
O perfil da Escola Bíblica como agência de ensino e canal de transformação nesse processo histórico de aperfeiçoamento do homem por Deus se estabelece como prioridade e remonta às origens, aos tempos bíblicos, quando o Senhor ordenou ao seu povo que ensinasse a Lei de geração a geração (Dt 6.1-12). O autor Gagliard Junior (1997) afirma que:
“O conhecimento sucinto dessa ação diferenciada de Deus na História nos responsabiliza com a realidade de sermos instrumentos em suas mãos, para em nossos dias, por meio da escola bíblica, e como mordomos fiéis zelarmos por esse fundamental meio divino de instrução religiosa”. (JÚNIOR,1997)
São grandes os nossos desafios, como por exemplo, a conquista de espaços adequados para ensino, expansão e aperfeiçoamento da proposta de Projeto Pedagógico baseado biblicamente, grade curricular em consonância com a Palavra de Deus, corpo docente capacitado, material didático apropriado, melhor utilização da tecnologia e plataformas digitais, a contenção desta evasão estonteante que vivemos nos últimos anos, assim como, a busca pelo conhecimento da modalidade de EAD e sua implementação, entre outros.
Costumo dizer que a própria Bíblia já nos ensina muito sobre modalidade EAD e que Paulo seria nosso pioneiro neste assunto. Suas cartas instruem em sabedoria e guiavam muitos cristãos para uma práxis cristã verdadeira. O apóstolo Paulo adverte: “Que a tua conduta seja exemplar em tudo; na doutrina, mostra integridade, sobriedade, linguagem sadia e irrepreensível […]” (Tito 2.7-8a), tornando-nos potencialmente instrumentos de transformação desta práxis religiosa.
No Brasil, foi curioso como tudo aconteceu. Em 1904, o Jornal do Brasil ofereceu um curso voltado para datilógrafos por meio de correspondências e foi muito bem recebido pela comunidade, gerando outros cursos voltados para indústria e muitos jornais aderiram a ideia.
Em 1920, foi a vez das emissoras de rádio desenvolverem esse tipo de ensino e projeto. Entre 1960 e 1970 o Governo criou o Código Brasileiro de Telecomunicações, abarcando assim as emissoras de televisão. Hoje temos a nossa disposição inúmeras plataformas educativas para serem exploradas.
A modalidade EAD alavancou com a implementação da Lei n.º 9.394 de 1996 que regulamentou o ensino à distância em todos os níveis de escolarização. Mas, foi no Ensino Superior que o EAD ganhou força e destaque. .A partir de 1999, o MEC começou o credenciamento de diversos cursos em Faculdade pelo Brasil. A comodidade e a flexibilidade para organizar seu próprio horário de estudo, chamou a atenção dos alunos, assim como a economia gerada, referente aos gastos com deslocamento, entre outros.
É importante destacar que a mediação pedagógica na ECAD, entre quem aprende e quem ensina, também tem intervenções planejadas pelo professor mediador que por meio da plataforma digital consegue impactar seus alunos. Essa dinâmica provoca aprendizagem e afeta o pensamento pela interação das dimensões cognitivas e afetivas de ambas as partes, construindo significados que transcendem para uma prática efetiva e fortalecem, no caso da educação, nossa espiritualidade.
Por experiencia própria, acredito que a ECAD bem aplicada e unida a uma pedagogia simples, bíblica, didática e prática, tem caráter (trans)formador. Fortalece no aluno a disciplina e a autorresponsabilidade, caminhando para se tornar um leitor independente e ativo. Neste processo de aprendizagem acontece a valorização da experiência própria, individual e coletiva do ouvinte para aplicação do ensino desejado, tendo como mediação as ferramentas tecnológicas e como inspiração a leitura e aprofundamento na Palavra de Deus.
O feed back que teremos é a (re)construção de uma identidade de ser humano como uma nova criatura (2Co 5.17 ) que se utiliza de sua alteridade para cumprir o principal mandamento: ”amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a ti mesmo”(Mt 22.37-39), mas sem negociar com relativismos morais ou vãs filosofias.
Bibliografia / Referencial teórico
AGOSTINHO, Santo. De Magistro. Tradução de Angelo Ricci. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
JÚNIOR, Ângelo Gagliardi. Você acredita em Escola Dominical? Brasília,DF.1985.Editora MZ.
PAZMINÔ.Robert W. Temas fundamentais da Educação Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
Ensino EAD no Brasil. https://ead.catolica.edu.br/blog/historia-ensino-ead-brasil.Acesso em 02/06/2021