Nesta quarta parte, faço uma tentativa de elencar algumas implicações no processo de adoção de uma Educação Cristã diferenciada na prática, destacando, o reagrupamento das pessoas, de modo flexível, aberto e a partir do conteúdo bíblico-teológico, ensinado e aplicado à vida das pessoas. É importante não confundir Educação Cristã diferenciada na prática, com ensino especializado para as pessoas envolvidas no processo de ensino aprendizagem na igreja.
A partir de uma análise preliminar, diria que, muitas matrizes curriculares utilizadas nos programas educacionais são estabelecidas previamente de maneira padronizada e consistem em uma proposta educacional comum e ajustável a todos os aprendentes, utilizando os mesmos objetivos e recursos didáticos. Ou seja, há pouco espaço para aproveitamento das diferenças entre as pessoas, incluindo a faixa etária e o conhecimento bíblico prévio de cada um. As pessoas envolvidas no processo de aprendizagem, constituem-se adultos, jovens e crianças, de gerações diferentes, recebendo um ensino padronizado, uniforme, comum a todos.
A Educação Cristã diferenciada na prática se contrapõe à concepção de educação centrada na figura de um professor transmissor de conhecimentos, de exposição oral, monólogo, ou seja, o ensino como transmissão da informação. Nesta concepção, o foco passa a ser, prioritariamente, a aprendizagem das pessoas como sujeitos ativos do processo educacional. O trabalho educativo do professor consiste em uma prática participativa, contida em um projeto de formação permanente e contínua de todos os sujeitos do processo de aprendizagem.
Frequentemente observa-se o professor que ensina, mas pouco sabe sobre como as pessoas aprendem o que ele está ensinando. Em uma didática tradicional, a proposta é responder às seguintes perguntas: O que ensinar? (conteúdo); para que ensinar? (objetivos); por que ensinar? (justificativa) e como ensinar? (metodologia). Porém, não há professores se perguntando: como os sujeitos aprendem? É necessário ter uma maior clareza, acesso e rigor para alcançar um aprendizado das Escrituras a partir de um viés epistemológico, ontológico e metodológico individualizado. Isto é, “aprender a ser”, “aprender a conviver”, “aprender a pesquisar” e “aprender a avaliar”, pilares de uma proposta de Delors e colaboradores (ibid, BACICH et all, p.48).
Diante das implicações e possibilidades de se adotar Educação Cristã diferenciada na prática, deve-se começar a entender como as pessoas estão aprendendo as Escrituras, a partir de suas próprias experiências e subjetividades. Considera-se que estamos tratando de uma aprendizagem autorregulada, associada a uma apropriação do conteúdo bíblico, teológico e o envolvimento e interesse pelo estudo e desenvolvimento espiritual. Neste sentido, o impacto da Educação Cristã diferenciada na prática e no aprendizado das pessoas em relação as Escrituras será visível.
Uma Educação Cristã diferenciada, na prática, não significa criar uma sala de aula homogênea, mas resolver dilemas comuns resultantes da heterogeneidade entre as pessoas. Implica em romper com uma rotina de sala de aula, um monólogo do professor para pessoas que escutam passivamente. Cabe ao professor, repensar o seu papel na condução do estudo bíblico, tornando a aprendizagem mais agradável e palatável. Considera-se que a palavra saber tem a mesma etimologia da palavra sabor. Ou seja, é preciso colocar “sabor no saber” das Escrituras. Para isso, faz-se necessário promover a participação e a autonomia direta das pessoas aprendentes em todo o processo da prática educativa cristã.
Com relação a natureza de uma Educação Cristã diferenciada na prática, tem uma autonomia relativa, construída gradativamente, no começo não se trata de uma tarefa fácil, mas lenta, já que as pessoas estão acostumadas apenas a ouvir passivamente, sem desenvolver a sua capacidade de perguntar, aguçar sua curiosidade e criatividade de maneira dinâmica.
Pressupõe que quando uma pessoa faz uma pergunta ao professor em sala de aula, ainda que se considere que perguntar não se trata de uma tarefa fácil, parte da dúvida que lhe inquieta, para enriquecer o debate ou mesmo, como quem já sabe a resposta. Esse exercício intelectivo é raro em uma classe de EBD. Por décadas temos desenvolvido uma prática educativa cristã, centrada de forma espacial e temporal na sala de aula. A implementação de uma Educação Cristã diferenciada na prática, diferente da aula expositiva dialogada centrada na figura do professor, merece uma revisão do espaço da sala de aula convencional.
Considera-se neste ensaio, que estamos lidando com uma noção espacial e temporal insuficiente, de, aproximadamente, 40 a 50 minutos, que dificulta muito o desenvolvimento de relações saudáveis e intencionais quando o foco é a aprendizagem das Escrituras. Ou seja, um obstáculo para a implementação de uma Educação Cristã diferenciada na prática. Neste sentido, nossa visão estruturalmente estável será sempre a da “classe” e nem sempre das pessoas, da descontinuidade do que está sendo ensinado. É neste contexto que vivenciamos as nossas experiências e expectativas, para refletir como as pessoas estão aprendendo as Escrituras. A sala de aula deve ser repensada, reinventada continuamente, investida, a partir da realidade imediata das pessoas, dos aprendizes das Escrituras.
Lembre-se que as pessoas “de hoje não aprendem da mesma forma que os do século anterior.” (2015, p.47). Elas estão cada vez mais conectados uma sociedade do conhecimento, de modo que, consideramos a igreja como um dos espaços de aprendizagem, com pessoas que estabelecem novas relações com o conteúdo do conhecimento bíblico teológico, desenvolvimento de novas habilidades, de relações sócio afetivas, portanto, algo que requer que transformações e capacitações aconteçam de forma dinâmica.
“Não que sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se viesse de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus.” (2Coríntios 3.5). Neste fragmento do texto bíblico, o apóstolo Paulo, oferece uma das lições mais importantes e fundamentais na fé cristã, de como devemos nos portar diante dos desafios de aprender as Escrituras, desenvolver noções de hábitos, formação de caráter e virtudes.
Considerou que após tecer algumas implicações de uma educação cristã diferenciada na prática, faz-se necessário, desenvolver na prática um passo a passo para implantação da Educação Cristã Diferenciada na Prática.
REFERÊNCIAS
BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello. Ensino híbrido. Personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso. 2015.
SMITH, David I. Pedagogia cristã: como praticar a fé em sala de aula. 1 ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2022. (Coleção Fé, Ciências & Cultura).
ZUSHO, Rhoda Bondie Akane. Diferenciação pedagógica na prática. Rotinas para engajar todos os alunos. Porto Alegre: Penso. 2023. (Série desafios da Educação).
WEBSTER, John. A cultura da teologia. São Paulo: Vida Nova, 2023.