Considera-se neste segundo artigo, que a igreja tem uma missão educacional, missional e vocacional (Mt 28.18-20) que perpassa o ensino sistemático, intencional, metódico e objetivo das Escrituras, nossa única de regra de fé e prática e, sua aplicação e implicações na prática e no ministério cristão das pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o aprendizado das Escrituras de uma maneira saudável e frutífera. De modo que, a leitura e o estudo das Escrituras tornou-se uma prática cristã acessível a todos nós.
Nossa disposição e interesse em aprender as Escrituras é um fator fundamental para o desenvolvimento do cristão. De acordo com Ausbel (apud DEBALD, p.59) “para haver aprendizagem significativa, são necessárias duas condições: em primeiro lugar, o estudante precisa ter uma disposição para aprender, segundo o conteúdo a ser aprendido precisa ser potencialmente significativo”. Lendo as Escrituras deparamos com a postura dos cristãos de Bereia. Conforme o texto bíblico de (Atos 17.11) “Os de Bereia tinham mente mais aberta que os de Tessalônica, pois se mostraram muito interessados ao receber a palavra, examinando diariamente as Escrituras para ver se as coisas eram de fato assim”.
Neste ensaio estou partindo do pressuposto que a igreja é constituída de pessoas que dispõem de um conteúdo do conhecimento bíblico, teológico diferenciado das Escrituras, bem como de habilidades, hábitos, crenças e valores, mas que nem sempre é considerado como informações determinantes pelo gestor e pelo professor em sua prática educativa no espaço da sala de aula, lócus privilegiado para o ensino das Escrituras. Em outras palavras, as pessoas encontram-se em níveis, desempenhando papéis diferentes com características distintas umas das outras quando o assunto é aprendizagem das Escrituras.
Na prática, enquanto alguns têm uma noção mais refinada, profunda e duradoura das Escrituras, outros têm demonstrado um conhecimento mais limitado, dependendo do nível de apreensão que tem das Escrituras. Desde modo, a tendência pedagógica em Educação Cristã diferenciada na prática, vem para assistir esses perfis de pessoas enquanto objeto de estudo e reflexão das Escrituras. A partir desta tendência pedagógica, destaco a importância de quem aprende, mas de quem quer saber como as pessoas estão aprendendo o que está sendo ensinado.
A ideia de educação provém do verbo latino ducere, que traduz a noção de conduzir, condução. Mas educação origina-se também no verbo educere, que traduz a noção de extrair, ou de conduzir para fora e que em português produziu o verbo eduzir e a palavra edução (extração). Essas diferentes ideias etimológicas de educação aplicado à “Educação Cristã diferenciada na prática”, significa dar voz, deixar as pessoas falarem sobre o que é, como estão aprendendo nas Escrituras dentro de suas possibilidades, conhecimento bíblico e habilidades técnicas desenvolvidas.
Quanto mais atenção prestarmos às necessidades educacionais das pessoas, seu desenvolvimento espiritual, moral e emocional, ajustando nossa prática educativa a dar voz aos aprendizes, vamos alcançar nossos propósitos. Somos uma igreja aprendente, espaço de aprendizagem, para a formação do caráter, de virtudes cristãs fundamentadas no evangelho, uma comunidade de pessoas envolvidas com a leitura e com o estudo das Escrituras. Considera-se que o termo “escola” vem do grego e significa “espaço do ócio”, segundo Lilian Bacich, et all, (2015, p.103).
Ou seja, para os gregos deveria ser um local de lazer, descontração e, portanto, prazer. Qualquer local onde eles pudessem se reunir e debater ideias poderia ser considerado uma escola. Era um espaço livre, onde o sujeito ia quando queria, permanecia o tempo que julgasse necessário e debateria temas que fossem definidos em conjunto com seu mestre. A prática escolar, para os gregos, estava mais associada ao livre interesse do aluno do que à prática repetitiva e orientada a uma determinada formação técnica.
A ideia de Educação Cristã diferenciada na prática, parte do princípio bíblico, teológico de que todas as pessoas possam aprender mais e com qualidade as Escrituras de uma maneira personalizada, segundo a mediação didática de vários mediadores, principalmente o Espírito Santo de Deus. É fundamental acompanhar as pessoas a aprender também entre seus pares. Creio que Jesus ao falar sobre a promessa do Consolador disse a seus discípulos: “o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que eu vos tenho dito.” (João 14.26). O Espírito Santo a todos ensina como aprender as Escrituras. Sob a mediação do Espírito Santo é possível mobilizar a capacidade mediadora de professores e das demais pessoas envolvidas no processo ensino aprendizagem das Escrituras.
Considerou neste ensaio que a Educação Cristã diferenciada na prática, é também diária, consiste em uma tendência pedagógica do campo educacional aplicada ao PEC. Reconheço que é possível romper com as rotinas de sala de aula, lógica de uma pedagogia cristã centrada no ensino para a pedagogia cristã na aprendizagem dos sujeitos aprendentes, algo que exigirá a reelaboração do significado do espaço da sala de aula e, assim, promover a aprendizagem personalizada, adotando os princípios da autoavaliação, da reflexão e, na medida que a liderança cristã e pastoral da igreja, percebam que estamos lidamos com um projeto centrado das Escrituras, “somos criados pela Palavra” e, com uma educação personalizada vamos alcançar nossos objetivos.
A construção de um PEC, pressupõe que as pessoas têm conhecimento diferenciados das Escrituras. Parte do princípio bíblico e teológico de que todas as pessoas podem “aprender a aprender” significativamente as Escrituras de uma maneira personalizada, de maneira que tenham a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos da Escritura. Para isso, o estudante precisa ter disposição para aprender e, segundo o conteúdo a ser aprendido precisa ser potencialmente significativo”.
REFERÊNCIAS
BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello. Ensino híbrido. Personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso. 2015.
SMITH, David I. Pedagogia cristã: como praticar a fé em sala de aula. 1 ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2022. (Coleção Fé, Ciências & Cultura).
ZUSHO, Rhoda Bondie Akane. Diferenciação pedagógica na prática. Rotinas para engajar todos os alunos. Porto Alegre: Penso. 2023. (Série desafios da Educação).
WEBSTER, John. A cultura da teologia. São Paulo: Vida Nova, 2023.