Pretende-se nestes dois últimos blogs do corrente ano, da Associação dos Educadores Cristãos Batistas do Brasil (AECBB), revisitar, a temática da educação cristã e seus fundamentos, a partir, Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (CBB), (grifo nosso), bem como algumas publicações no campo literário, que tratam deste assunto. Neste artigo, faço uma tentativa de reflexão, do grego, reflectere, “voltar atrás”, no sentido de tecer breves comentários introdutórios, sobre o fragmento contido, na Declaração Doutrinária da CBB.
Quero ressaltar que a atual Declaração Doutrinária da CBB, foi aprovada na segunda metade da década de 1980. Coube a uma Comissão, o trabalho de elaboração do texto da Declaração Doutrinária da CBB, para sua aprovação em Assembleia Convencional. Para os associados e demais líderes de ministério de Educação Cristã na Igreja local, é imprescindível, se apropriar deste importante documento. Conforme encontra-se disponível no site da CBB, no XIV – Educação Religiosa, transcrito na íntegra, para esse artigo, consiste no
ministério docente da Igreja, sob a égide do Espírito Santo, compreende o relacionamento de Mestre e discípulo, entre Jesus Cristo e o crente. 1. A palavra de Deus é o conteúdo essencial e fundamental nesse processo e no programa de aprendizagem cristã; 2. O programa de educação religiosa nas Igrejas é necessário para a instrução e desenvolvimento de seus membros, a fim de “crescerem em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”. Às igrejas cabe cuidar do doutrinamento adequado dos crentes, visando à sua formação e desenvolvimento espiritual, moral e eclesiástico, bem como motivação e capacitação sua para o serviço cristão e o desempenho de suas tarefas no cumprimento da missão da Igreja no mundo; (Mt 11.29,30; Jo 13.14-17; Jo 14.26; 1Co 3.1,2; 2Tm 2.15; Sl 119; 2Tm 3.16,17; Cl 1.28; Mt 28.19,20).
Considera-se que, à docência de sala de aula, (seja presencial ou virtual), é um ministério de uma Igreja Batista, uma organização religiosa, espaço privilegiado para o ensino das Escrituras. Compreende-se, entre outros aspectos, a dimensão relacional, ou seja, a figura do Mestre – Jesus Cristo e os aprendentes, como discípulos. Isto se dá “sob a égide do Espírito Santo,”.
Outro aspecto importante, contido neste fragmento, refere-se ao conteúdo essencial e fundamental nesse processo, isto é, a Palavra de Deus. Como temos abordado, desde o início, na medida em que, refletimos sobre a educação cristã e seus fundamentos, nossas bases, tanto no Antigo como no Novo Testamento, estão sedimentadas na Palavra. Basta verificar, ao final deste enunciado, a citação de vários versículos bíblicos.
Segundo Roberto do Amaral e Silva (2007, p.175 b), ao referir a educação religiosa, reconhece, o quanto, era relevante para a igreja primitiva. “Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres”. O autor compreende que o tema da Educação Religiosa não poderia faltar em nossa Declaração Doutrinária, ainda que de forma sucinta.
Por décadas, a Educação Religiosa, tem sido considerado um programa permanente da CBB.
que visa a preparar e oferecer às igrejas currículos, literatura periódica e permanente, orientação educacional provendo-lhes recursos necessários ao desenvolvimento espiritual dos seus membros em todas as suas faixas etárias, para o doutrinamento adequado deles, sua formação e capacitação para adorar, servir e desempenhar suas tarefas no cumprimento da missão da igreja no mundo. (1999, p.50b)
Conforme temos visto, a luz da Declaração Doutrinária CBB, o programa de educação religiosa, tem como parâmetros, o desenvolvimento integral, moral, eclesiástico e espiritual dos crentes. Isso inclui, o doutrinamento, a catequização dos membros, bem como a evangelização dos não crentes, cumprindo assim, a missão da Igreja no mundo. Reconheço, necessidade de tornar público esse documento, entre os crentes batistas, para que, não fique restrito apenas ao dito e escrito, do mundo oficial, mas também pelo mundo real, as igrejas e sua liderança. Segundo a dimensão filosófica, “a construção de um eficaz programa de Educação Religiosa que desse condição de constituição e formação da consciência e do pensamento batista no Brasil em seu primeiro século de existência.” (2007, p.159a)
Para Silva (p.175b), “Evangelizar e missionar implica o “ensinando-os a guardar todas as coisas” que Jesus mandou guardar. Para o autor, a “didakê”, o ensino, se complementa, ao “Kerigma”, ou seja, o anúncio das Escrituras. É necessário, que a igreja possa redescobrir o ministério de ensino, a partir de seus fundamentos bíblico testamentários. Somente assim, a igreja irá cumprir sua missão de ensino.
Em outras palavras, isso implica em oferecer às igrejas uma matriz e organização curricular, interdisciplinar, uma literatura periódica e permanente, que por décadas, tem dado o tom da identidade denominacional às Igrejas batistas em território nacional. Entendo que, na medida em que a igreja abre mão deste princípio identitário, os prejuízos são irreversíveis e irreparáveis.
Considera-se que, tal propositura consiste no esforço coletivo de vários atores sociais, bem como segmentos representativos no âmbito denominacional. Historicamente, coube, a extinta Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP); Junta de Mocidade (JUMOC), atualmente, Juventude Batista Brasileira, União Feminina Missionária Batista do Brasil (UFMBB) e a União Missionária Batista do Brasil (UMMBB), a construção de uma identidade, na implementação de um programa educacional em âmbito denominacional. Hoje temos o protagonismo da Associação dos Educadores Cristãos Batistas do Brasil (AECBB), no sentido de dar visibilidade, tanto a figura do educador cristão, como do programa de educação cristã da Igreja local.
Nesse sentido, o pastor Jaziel Guerreiro Martins, no livro: “Manual do Pastor e da Igreja”, (2005, p.298), considera que, o Departamento de Educação Cristã, “tem a função de estruturar todo o programa de educação religiosa da igreja”. Quero aproveitar a oportunidade para dize, que neste ensaio, optou-se pela expressão “Educação Cristã”, ao invés de “Educação Religiosa”. Um dos aspectos que o autor destaca, refere-se ao planejamento educacional, que à princípio, “deve ser elaborado a partir das necessidades de seus membros, levando-se em conta todas as possibilidades da igreja em termos de espaço físico, tempo, liderança e objetivos a serem alcançados.”
Conclui que, “é muito comum os programas de educação religiosa se tornarem um fim em si mesmo”. Neste sentido, concordo com Martins que, planejamento, projetos e programas, trata-se de atividades de uma igreja para alcançar a atividade fim, ou seja, o ensino da Palavra de Deus. Percebe-se, por meio do fragmento contido na Declaração Doutrinária da CBB, eixo norteador, epistemológico, filosófico e pedagógico da educação cristã, visando resgatar a finalidade e a natureza da Igreja, como agência do Reino, no ministério educacional. Ainda que isso não esteja explícito, faz-se necessário uma maior clarividência sobre o assunto.
Um segundo aspecto destacado, refere-se aos líderes do Departamento de Educação Cristã, que “devem ser pessoas ligadas à área de educação e com larga experiência na área pedagógica,” diria que, do professor(a), exige-se a competência pedagógica (domínio do conteúdo bíblico, como capacidade de interpretar as Escrituras), competência técnica (domínio dos recursos didáticos, como as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), competência ética e estética, para ensinar aos outros, com firmeza e convicção doutrinária.
Sugiro que ao invés de “Departamento”, se adote, a expressão, Coordenação, algo menos técnico, e, mais voltado para o trabalho em equipe, ou seja, em grupo, visando o acompanhamento sistemático, intencional e metódico do trabalho da gestão de educação cristã, no contexto da igreja local.
Segundo o pastor Sócrates Oliveira de Souza, no livro: Pacto e Comunhão, (2010, p.63-4), ao tratar sobre “Os batistas e a educação”, conclui que,
A educação é uma marca visível do povo batista. Sua paixão pelo estudo da Bíblia desenvolveu o interesse pela educação religiosa, cultivada nas igrejas através das organizações de treinamento e da Escola Bíblica Dominical. Os templos se tornaram verdadeiros complexos educacionais (…).
Para o autor, os documentos batistas, “Com a Educação Religiosa veio a Educação Teológica. Percebe-se que, a noção de Educação Religiosa, é ampla, ou seja, engloba, a família, a Igreja local, as Instituições de Ensino Teológico e os colégios. Concluiu, que, “a contribuição dos batistas na área educacional é realmente notável, considerando tanto a qualidade quanto a quantidade.” É preciso criar condições para que as igrejas batistas, possam dar maior visibilidade ao ministério de educação cristã e ao ensino das Escrituras, marca indelével, ou seja, “algo que não se pode apagar”.
Considerou neste artigo para o blog da AECBB, que a Declaração Doutrinária, trata-se de um importante documento dos Batistas brasileiros, recentemente, em processo de revisão do texto original. Que a Comissão, eleita, possa debruçar-se sobre outros documentos norteadores, visando ampliar a visão e a missão dada à Educação Cristã, no meio das igrejas batistas, para o “aperfeiçoamento dos santos”. Quiçá, possamos aguçar a curiosidade e o interesse por esse tema tão importante para todos nós.
No mês de dezembro, vamos abordar os “Princípios Batistas” no que tange aos itens 7 – ensino e treinamento e 8 – Educação Cristã. Um outro importante documento dos Batistas Brasileiros.
Referência
AMARAL, Othon Ávila; BARBOSA, Celso Aloísio Santos. O livro de Ouro da CBB. Epopéia de fé, lutas e vitórias. Rio de Janeiro: JUERP, 2007a.
MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do Pastor e da Igreja. 2005.
SILVA, Roberto do Amaral. Princípios e doutrinas batistas. Os marcos de nossa fé. Rio de Janeiro: JUERP, 2007b. (Como a Bíblia nos fala hoje).
SOUZA, Sócrates de Oliveira. Pacto & Comunhão. Rio de Janeiro: 2010.