[…] Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, “tu me amas” mais do que estes? Ele respondeu: Sim, Senhor; tu sabes que “te amo”. Jesus lhe disse: “Cuida dos meus cordeiros” (João 21.15)
O que leva alguém a ser consciente de sua responsabilidade com a nova geração, é estar tomado de amor pelo Senhor Jesus. Quando o nosso coração estiver alinhado, em sintonia com o coração de Deus, quando O amamos, conhecemos seus planos, seus pensamentos, seu perdão, sua graça, seu grande amor, sua missão e sua bondade, enfim, tudo que está no coração dEle passa para o nosso coração. Cuidar e apascentar “meus cordeiros”, é para o pastor, para o missionário, para o líder, para todos os discípulos que amam a Jesus. Os cordeiros são os mais novos do rebanho, e eles necessitam do cuidado e um pastoreio de modo especial.
Os cordeiros e ovelhas são de Jesus, é o que Ele tem de mais precioso na Terra. Jesus deu tudo por eles, até sua própria vida. Na plenitude dos tempos, Deus agiu em nosso favor, ele se fez um de nós, se contextualizou à realidade humana e sofreu por nós. Jesus é a prova desse amor. Eu tenho no meu coração que Ele deve ter dito de uma forma bondosamente a Pedro essas palavras: “Cuide dos meus cordeiros”.
Em outras palavras é como se Jesus tivesse dito a Pedro da seguinte forma: “Sabe Pedro, eu te amo tanto, que confio a você aquilo que eu comprei com o meu sangue. O que tenho de mais precioso em todo o mundo é o meu rebanho, Simão, eu tenho tanta confiança em você, como sendo você uma pessoa que me ama sinceramente, que eu lhe faço um pastor de meus cordeiros”.2
Podemos aqui destacar que temos duas condições relevantes para a obediência de formar uma geração de discípulos. A primeira é amar a Deus: “Tu me amas”? E a segunda é saber que essa nova
geração é dEle: “Cuida dos meus cordeiros”. Quanto mais entendemos o amor de Deus por nós, mais podemos demonstrar amor pelos outros, formando uma geração que ama a Jesus.
A ênfase dos ensinamentos às crianças e adolescentes está muito, e porque não dizer totalmente relacionado ao amor dos pais, professores e líderes para com Deus. Como é relevante o ensino pautado no amor para a formação humana. O ensino de geração para geração é seguido pelo exemplo e obediência, com base no amor a Jesus.
Queridos irmãos, se os seus filhos hoje não estão caminhando com Deus, tem uma grande probabilidade de seus netos também não conhecem o amor de dEle em suas vidas. Basta não ensinar para uma geração sobre Deus, para que outras gerações não O conheçam. Os pais e líderes que se distanciam dos ensinos de Deus, podem refletir de forma negativa na vida desses cordeiros. Quando não leem a Bíblia, não oram, não se preocupam com sua vida espiritual e de ambos. Certo dia um menino encontrou um livro empoeirado na estante de sua casa, enquanto brincava com seu carrinho. Levou o livro correndo para sua mãe e perguntou a ela: – Mamãe este é o livro de Deus? – Sim, meu filho, disse a mãe. Então o menino respondeu: – Por que não devolvemos a Ele, nós não usamos?
Não foi isso que Deus planejou, Ele confiou primeiramente aos pais a serem obedientes em amar, ler, viver, prosseguir nesses preceitos como alvo de tudo o que está escrito em sua Palavra, é nesse
momento que acontece a educação informal.
Ao caminharmos com um discípulo aumenta nossa responsabilidade nesse caminho, por ter alguém seguindo nossos passos. Filhos são os discípulos dos pais. Muitas vezes nem percebemos que esses discípulos nos acompanham 24h por dia, 7 dias por semana, em todo o tempo. Filhos são discípulos em potencial colocados sob a responsabilidade dos pais. O lar é o primeiro mundo de todos nós, e se reproduz no segundo, o que se aprende no primeiro. Deus espera que os pais os preparem, que os pais projetem seus filhos nos alvos estabelecidos por Ele.
Percebam que a Bíblia tem várias mensagens que nos chama à responsabilidade de compartilhar a geração futura dos louvores do Senhor, sua força e as maravilhas que ele fez, na vida dos pais, e na vida do povo chamado, povo de Deus, o Salmo 78 é um dos clássicos.
Saibam que as pessoas que frequentam sua casa, seus amigos e os amigos de seus filhos também podem ser alcançados pelo testemunho da família. Podemos sim apontar o caminho que é Jesus Cristo e por seu poder serem transformados.
Logo que chegamos no campo missionário em 2007, tivemos uma experiência marcante de um jovem com 15 anos de idade chamado Fred. Ele cresceu estudando na escola que era administrada pelos missionários, e vivia a maior parte do seu tempo na casa dos missionários brincando com seus filhos. Os pais de Fred eram caciques na comunidade indígena, e não acreditavam nos ensinos que eram ministrados pelos missionários. Porém esse adolescente fez uma linda escolha em sua vida.
Foi acometido por um tumor em seu braço, mas seus pais não o levaram para o médico, somente com rezas queriam curar o garoto. O tumor foi evoluindo cada vez mais, de tal forma que o menino já estava quase sem forças de tanta dor e a infecção que tomava conta de seu corpo. Neste estágio bem fraco tomou seu caderno, com muitas dores ele escreveu assim: “Jesus é a única solução para o meu povo”! Mostrava essas palavras para todos de sua casa, mesmo em seu leito. Infelizmente, ele não suportou as infecções e faleceu. Seus pais acreditavam que os espíritos iam curar o seu filho. Ao chegarmos no velório vimos o altar de invocação dos espíritos montado no chão, e os caciques no fundo da casa. Entramos e vimos o seu corpo estendido em um caixão, sem flores, somente coberto com um lençol branco. Foi então que sua cunhada nos mostrou o que ele havia escrito antes de morrer. Nesse momento entendi por que os caciques estavam longe e não havia danças e invocação naquele recinto. Ele era de Deus e foi para Ele. Esse adolescente havia feito a escolha de entregar a sua vida para Deus.
Naquele momento tivemos a grande oportunidade de pregar a Palavra de Deus, que liberta, que salva e renova a esperança para seus familiares e em seguida oramos pela família. Em todos os velórios das pessoas que não são cristãs na aldeia são feitos com invocações de espíritos, danças, muitos bêbados e muitas outras coisas abomináveis diante de Deus. Passam a noite com uma batida de rezas que escutávamos de muito longe. Mas nesse velório foi diferente, parecia que os caciques não tinham forças para se levantar, pois Deus estava ali. A noite foi tranquila, não se fez barulho de nada. No cemitério o irmão desse rapaz disse o seguinte: -“Missionário, temos o costume de enterrar todos os pertences quando uma pessoa de nosso povo morre. Mas essa aqui, a Bíblia do meu irmão vai ficar comigo, eu quero conhecê-la como o meu irmão conhecia”.
Diante da terrível dor da morte, Fred declarou o seu amor a Jesus, mesmo acabando-lhes as forças testemunhou para sua casa que somente em Cristo Jesus é a solução, que só Ele pode salvar. Por meio de sua vida, muitos de sua família escolheram caminhar com Cristo, pois não há outro. Somente Jesus é o caminho, a verdade e a vida, mesmo quando se está nos últimos minutos da vida aqui, mas somente Ele pode nos dar a vida eterna na presença do Pai.
1Samuel 2.35a, registra que Deus está à procura de alguém que se levante para ensinar a essa geração: “E escolherei para mim um sacerdote fiel, que fará segundo o que está no meu coração e na minha mente”. Quando ele encontra essa pessoa, os seus ensinos se estendem à nova geração por meio da sua vida.
A missão do povo de Deus é levar as boas-novas a um mundo no qual as más notícias são deprimentes. Amar a Deus, ter convicção do que ensina, de tal forma que o ensino esteja de fato enraizado em sua vida. Muitas vezes cuidamos tanto do barco e deixamos muitos dessa geração se afogarem.
Passar pela pandemia, para todos, está sendo difícil e desafiador, até mesmo para as crianças e adolescentes, reforçando que eles ainda estão em uma fase natural de questionamentos e transformações. Os valores que estão ligados a emoções podem ser positivas ou negativas, a escuta, o cuidado e o acolhimento são meios de ajudar essa geração a se conhecer, suportar e superar conflitos existenciais.
Nem sempre é fácil lidar com tranquilidade quando se dá do rompimento de uma relação amorosa, da separação dos pais, nem sempre é fácil lidar com o divórcio.3 Nem sempre é fácil lidar com a violência que leva muito tempo para ser curada, se for tratada, quantos anos leva para curar a ferida de uma violência física, sexual, moral e verbal sofrida por pessoas que deveriam ser a proteção e segurança, traindo-lhes a confiança. Outro pode dizer que é sem futuro, mas ouvir da mãe, do pai todos os dias gera uma frustração, uma revolta que leva tempo para curar, que pode levar a troca de papel quando crescer, ter sérios problemas de relacionamento com pessoas do trabalho, relacionamento amoroso, de convívio.
Nem sempre é fácil lidar com o desemprego. Quanta dificuldade em lidar com o diagnóstico de uma doença grave e terminal. Nem sempre é fácil lidar com a perda do pai, da mãe ou um avô querido. Morillas afirmou que a pandemia tem intensificado o sentimento de luto devido alguns fatores, como a solidão, a falta de interação cognitiva e social, falta de toques físicos e até o medo de contrair o Covid-19.4
O diabo tem tentado roubar a infância das crianças, dos adolescentes matando-as física, emocionalmente e espiritualmente e destruindo seu futuro. Lembram, elas são de Jesus. Perceba o amor e o zelo Dele para essa geração, registrada em Mateus 18.5 e 6: “Quem recebe uma destas crianças em meu nome, recebe a mim. Mas a quem fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim seria melhor se lhe pendurassem no pescoço uma pedra de moinho e afundasse nas profundezas do mar”.
Estamos diante de um gigante desafio, mas temos uma poderosa solução: Jesus Cristo. As crianças não são discípulos em espera, elas são discípulos em treinamento. Sabemos que a religião muda a rotina das pessoas, mas somente Jesus pode mudar, transformar e salvar vidas. Fiquei emocionada com a atitude de uma criança de 7 anos. Gustavo me encontrou na escola da sua mãe, que é bibliotecária. Naquele dia tinha feito uma palestra em sua sala, compartilhando do amor de Deus em Cristo Jesus, alguns dos alunos de sua sala estavam em grupo suicida, isto mesmo, crianças de 7 e 8 anos. Anunciei de forma clara da esperança em Jesus, que Ele ama cada uma delas, que elas são dEle, o quanto Ele se importa por elas ao ponto de me enviar para compartilhar esse amor. Gustavo me desafiou, olhando bem firme para sua mãe ele disse: – Mamãe ela precisa ir à escola do papai, lá tem muitas crianças e adolescentes que estão com muitos problemas, ela falou para minha sala que Jesus é o melhor caminho, os alunos de lá também precisam saber que Jesus pode resolver os seus problemas, mãe dá o endereço da escola do papai para ela”.
Uma criança de 7 anos de idade teve essa preocupação é porque ela ama a Jesus, sabe que ele tem poder para resolver os problemas, para dar esperança, e acima de tudo aquelas crianças e adolescentes são dEle. A criança quando recebe algo bom ela quer passar adiante, como diz Gustavo: – Você precisa ir lá! Que sejamos cada vez mais despertados para formar uma geração de discípulos que entendam essa mensagem.
Faremos diferença na vida dessa geração daqui a dez anos?
No seu livro pescadores de crianças Charles H. Spurgeon diz: “Os ensinos de nossa infância deixam impressões definidas e distintas na mente, que permanecem depois que setenta anos já se passaram. Cuidemos que tais impressões sejam feitas para os mais altos propósitos”. Quais as impressões temos deixado na formação dessa geração de discípulos de Jesus? As crianças e adolescentes desse tempo precisam viver suas experiências com Deus de tal forma, que tenham condições para permanecerem firmes ao passarem no mais grosso da batalha.
Por muitas vezes alimentamos a alma das crianças e dos adolescentes, talvez seja para ganhá-lo para nós. Mas infelizmente as coisas da alma têm prazo de validade, sempre temos que dar mais, pois sempre querem mais. E por vezes não nos damos conta porque essa geração, esses cordeiros estão ansiosos, rebeldes e insatisfeitos, a resposta pode ser: Muitas vezes nós só ministramos para alma. A alma humana tem três capacidades ou potências: a capacidade de entender ou a inteligência; a capacidade de querer ou a vontade; e finalmente a capacidade de sentir ou a sensibilidade. Nossa alma sente alegria, tristeza, raiva, simpatia, tédio e outros. Estes sentimentos da alma estão sempre ligados ao corpo.
Quero despertá-los para um equilíbrio, essa nova geração são espirituais e precisam também ser ministrados no espírito, o que recebemos no espírito é o que nos leva a crer. Que a evidência do aprendizado dessa geração esteja fundamentada na fé em Jesus, que os levarão a vencer o mundo, crendo que Ele é o único caminho. Essa geração de discípulos precisa ser mais crente do que nós, ser mais cheias do Espírito Santo, necessita de ter as suas experiências pessoais com Deus, para que a cada dia possam ser fortalecidos na fé a viver com e para Jesus, o único caminho.
Avaliemos a nova geração no seu valor verdadeiro, e não os impediremos, mas que estejamos com o coração ardendo por levá-los a Jesus imediatamente. Quando se forma um discípulo nessa faixa etária, ele terá uma vida inteira para viver e servir ao Mestre. A alegria de um discípulo amoroso é trabalhar por Jesus Cristo, e dentre as formas mais altas dessa missão celeste está o cuidar de cristãos novinhos, procurando edificá-los no entendimento e na compreensão, para que saibam que Só Jesus Cristo salva.
Certos de que possam viver essa verdade, serem transformados e salvos. E quando Jesus habita no coração de uma pessoa ela não consegue permanecer calada, como Jeremias 20.9 disse em relação a
mensagem do Senhor: “Se eu disser: Não farei menção dele e não falarei mais no seu nome, então meu coração arde como fogo, pressionando os meus ossos; estou exausto de contê-lo e não tenho mais forças!”. Creia que assim será com a nova geração de discípulos, eles sairão para todos os cantos deste mundo compartilhando o que está em João 14.6: “Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém chega ao Pai, a não ser por mim“. Deus te abençoe e te use grande, para a sua glória!
Referências
1 Bíblia Almeida Século 21. disponível em : https://bibliaalmeida21.com.br/ler/
2 SPURGEON. C.R. Pescadores de Crianças. São Paulo- SP: SHEDD PUBLICAÇÕES,2016.
3 CORDEIRO, Rubens Eduardo. Pescadores de mágoas. A arte de pastoral de ouvir, entender e ajudar pessoas feridas. São Paulo: Rádio Trans Mundial, 2012.
4 MORILLAS, Abner. Luto interditado e seus desdobramentos. Disponível em: https://www.gospelprime.com.br/luto-interditadoe-seus-desdobramentos. Acesso em 10 de dez 2021.