Paulo, outrora perseguidor dos cristãos, tornou-se um dos maiores mestres do Novo Testamento. Por onde passou, deixou discípulos – filhos na fé e sobretudo amigos. E esse fato não é de se estranhar, pois Paulo, aprendeu a arte da mentoria com um dos melhores – Barnabé (At 4.36; 9.27; 11.24-26; 13.2).
Paulo tinha um currículo excepcional, intelectualmente falando e após sua conversão, ficou no anonimato por quatorze anos antes de voltar para Jerusalém (Gl 2.1). Paulo foi rejeitado pelos apóstolos que desconfiavam da sua conversão, por ter sido perseguidor da igreja e afastou-se deles para ser ensinado e ter seu caráter forjado pelo próprio Espírito Santo.
Paulo tinha um conhecimento profundo do Antigo Testamento, aprendera aos pés de Gamaliel, mas a respeito de Cristo, nada sabia e precisava preparar-se para cumprir o chamado para o qual fora designado.
Durante os três primeiros anos de vida cristã, Paulo ficou na Arábia e Damasco, ali buscava a Deus para confirmar seu chamado e passados esses três anos foi à Jerusalém e conheceu pessoalmente, Pedro e Tiago – irmão de Jesus, ficou com eles quinze dias (Gl 1.17).
Ao voltar para sua Terra Natal, Tarso na Cilícia (Gl 1,21), recebeu a visita de Barnabé, que o convidou para ir à Antioquia para ensinar as Escrituras aos gentios juntamente com ele (At 11.25-26).
Após quatorze anos, Paulo volta à Jerusalém (Gl 2.1), onde fora comissionado para plantar igrejas juntamente com Barnabé, seu mentor. (At 13.2)
Esse período de obscuridade e solidão de Paulo foi imprescindível para que ele desenvolvesse sua teologia, recebendo do próprio Deus os ensinamentos necessários para se tornar um mestre por excelência que deixaria um legado doutrinário imensurável para o mundo cristão antigo e atual, bem como deixou marcas indeléveis nos seus discípulos.
Ao final da vida de Paulo, este vê-se só e deseja a companhia do “seu filho” Timóteo com intuito de passar-lhe as últimas instruções para o bom desempenho do seu ministério (1 Tm 4.14-15) e deixar nele as marcas de um verdadeiro educador:
1. Pessoas (2Tm 4.9)
O verdadeiro educador cristão deixa marcas indeléveis nas pessoas. Paulo queria ver Timóteo, não apenas para que esse o servisse, trazendo-lhe objetos que lhe eram necessários, mas sobretudo para passar-lhe instruções cheias de sabedoria e poder, para que pudesse cumprir bem sua missão, da qual dependia o futuro da igreja, já ameaçada por falsas doutrinas (gnosticismo e fábulas judaicas), 1Tm 1.4. Paulo queria o conforto do seu filho, mas acima de tudo queria prepará-lo para enfrentar o bom combate contra os falsos cristãos (1Tm 1.18-20). Paulo ia morrer em breve, mas queria contemplar mais uma vez o rosto de seu filho amado e confirmar sua firmeza na fé (1Tm 6.20-21).
Assim faz o verdadeiro educador cristão, mesmo diante da morte, continua instruindo e confirmando as marcas que deixou nos seus discípulos. O seu relacionamento com Timóteo foi a marca mais forte do seu ministério na vida deste.
Que venhamos marcar a vida dos nossos discípulos com um relacionamento real e verdadeiro, mas sobretudo com ensinamentos firmados nas Escrituras Sagradas.
2. Capa (simplicidade) (2Tm 4.13a)
[…], traze-me a capa.
A simplicidade de Paulo diante da vida ou mesmo diante da morte, é algo característico no seu caráter, aprendeu com o próprio Mestre dos Mestres, ele estava gozando seus últimos dias numa prisão fria e úmida, e no inverno que se aproximava, ia piorar a sua situação (2Tm 4.21).
Ali, a caminho da morte, poderia pedir qualquer coisa, que seu desejo seria realizado por seus amigos, mas, deseja uma capa para se proteger do frio. Isso é típico de outros personagens bíblicos também simples, Eliseu, que ao ver seu mestre desaparecer diante dos seus olhos, recolheu sua capa ao invés de buscar outros bens materiais de Elias (2Rs 2.14), ou como Bartimeu, que tendo a possibilidade de chegar perto de Jesus, abandonou a sua capa, tudo o que tinha (Mc 10.50).
Nos momentos finais da vida de Paulo, ele queria ter por perto, seu filho amado para seu consolo espiritual e sua capa, consolo físico.
Que a simplicidade de Paulo contagie nossos corações e que a soberba nunca se aproxime de nós.
3. Livros e pergaminho
Outra marca impressionante, que Paulo iria deixar como legado, era o apego pela Palavra. Nem nos seus últimos dias ele deixaria de pensar na sua necessidade espiritual e intelectual. Sua capacidade de escrever, ensinar e exortar, devia-se a sua experiência pessoal com Cristo e amor pelas Escrituras Sagradas. Paulo estava preso e não poderia mais pregar nem ensinar, mas poderia ler e aquecer seu coração com as doces palavras de Jesus. Paulo estava preso, mas sua mente estava livre para continuar alimentando-a da Palavra. Essa marca, Paulo deixaria não apenas em Timóteo que estava ali presenciando seus últimos dias e possivelmente presenciaria sua morte, mas, também deixou para nós, verdadeiros educadores cristãos atuais. Que possamos ser como Paulo e nunca nos acomodarmos achando que já sabemos o suficiente. Sempre há o que aprender. Precisamos ter corações ensináveis.
William Tyndale, seguiu os passos de Paulo e ao se encontrar na prisão, também pediu uma camisa de lã, uma Bíblia hebraica e uma gramática. Foi um padre protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na Universidade de Oxford. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês e a Bíblia de Tyndale foi a primeira a se beneficiar da imprensa, o que permitiu uma ampla distribuição.
Sigamos o exemplo de Paulo, vamos deixar marcas na vida daqueles que estão sob nossa orientação: relacionamento, simplicidade e apego pela Palavra.
REFERÊNCIA
Bíblia Shedd/ Editor responsável Russell P. Shedd; Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2 ed. Ver. E atual. no Brasil. São Paulo: Vida Nova. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1997. P. 1695
https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Tyndale