Jesus possuía um modelo pedagógico próprio, que observava a pessoa em seu contexto e forma de aprender. Com uma linguagem simples, composta de exemplos práticos baseados no cotidiano dos ouvintes, em sua maioria adultos, apresentava seus ensinos por meio da metodologia andragógica, tendo por centro do aprendizado o adulto, na espera de um resultado que mostrasse a ressignificação do assunto para o aprendiz, ou seja, que aquele princípio de vida fosse aprendido de forma significativa.
As estratégias docentes usadas por Jesus no ensino de seus discípulos e demais seguidores, podem ser usadas atualmente pelos docentes no ensino da Bíblia, principalmente para o ensino dos adultos, visto que as técnicas, os recursos e a metodologia usadas, continuam pertinentes e atuais.
Esta abordagem chama-se andragogia, a forma de aprender do adulto. Esta busca a partir do contexto de vida do aprendente relaciona seu conhecimento prévio com o conteúdo a ser ministrado, após processamento, retém o aprendizado com um compromisso assumido diante da sua realidade de vida em aplicar os princípios aprendidos.
Jesus nos deixa o legado de ensinar de uma forma que auxilie os indivíduos a disseminarem o conhecimento adquirido, portanto mais que conteudismo e distribuição de informações o ensino bíblico envolve mudanças de valores e atitudes, os quais se tornam testemunho influenciando outros para também aprender.
Ao observar o método de ensino de Jesus nota-se a variação desenvolvida por ele conforme o ambiente e o público ouvinte.
Por exemplo, com a mulher samaritana, usou o método de perguntas, com os discípulos, a caminho do Jardim das Oliveiras, usou o de preleção. Iniciou uma palestra com um jovem doutor e perguntou: “como lês?” (Lucas 10.26). Filipe, o evangelista, iniciou a sua fala com o auto funcionário de Candace, e perguntou: “entendes o que lês?”(Atos 8.30). Jesus usou o método audiovisual em Mateus 6.26 (olhai para as aves do céu), Mateus 6.28 (olhai para os lírios dos campos), João 10.9 (eu sou a porta); João 15.5 (eu sou a videira verdadeira, vós as varas). O método de narração. Para ensinar certa lição a Pedro usou o método de tarefas. Mateus 17.24-27. Aprofundando-se nos evangelhos outros métodos podem ser encontrados.
Relacionar a metodologia de Jesus à forma de elaborar a prática das aulas no ambiente de educação cristã é tomar por princípio o exemplo de sempre ter o conteúdo a ser ministrado tangível à experiência das pessoas. A educação cristã é um processo de vida e não uma “preparação para o futuro”. Ela vai além das raias da simples valorização do entendimento, atinge a escolha de mudanças, compromisso com a Palavra aprendida e transformação a partir da aplicação para a vida. As técnicas e métodos para alcance destes resultados se encontram nos estudos da andragogia.
A andragogia mostra que a aprendizagem de adultos ocorre de forma diferenciada de crianças. Não se desenvolve o potencial de alcance de um grupo quando as ferramentas utilizadas não acompanham a metodologia adequada. A forma de ensinar de Jesus nos dá base bíblica para desenvolvermos o ensino bíblico de forma andragógica. Com técnicas e métodos vivenciais, que objetivam a partir de experiências práticas, estimular o cognitivo, emocional e motriz dos participantes para uma integração em prol do alcance dos alvos da aula, a abordagem andragógica vem potencializar as características dos aprendentes movendo o grupo para o conhecimento aplicável.
A andragogia trabalha com as diferenças individuais, respeitando conhecimentos prévios, vivências e habilidades do adulto, de maneira a diagnosticar e suprir as áreas de carência onde serão gerados os novos aprendizados, tendo como base o contexto em que o adulto se insere.
O conceito andragógico no desenvolvimento de pessoas diferencia-se pelo fato de estimular o autodiagnóstico e estimular o desenvolvimento de desafios pessoais para que haja mudanças nas áreas de necessidade de crescimento do indivíduo. O grupo promove a oportunidade para ocorrer o aprendizado significativo quando faz parte do processo de ensino.
Uma aprendizagem significativa, que integra conhecimento, vivência e prática, tem a capacidade de extrapolar os limites do grupo e fazer-se presente como um diferencial que o sujeito carregará por toda a vida. Estes são os resultados que Jesus obtém na sua forma de ensinar, tendo perpetuado a disseminação de seus ensinamentos a partir dos testemunhos e replicação por parte dos aprendentes.
Ensinos de Jesus
Jesus ensinava com métodos e técnicas variadas, o mais comum observado nos evangelhos são as parábolas que segundo Kistemaker (2011, p.46): “Ao contar parábolas, Jesus desenhava quadros verbais que retratavam o mundo ao seu redor. Ensinando por meio de parábolas, ele descrevia o que acontecia na vida real”. Jesus identificava símbolos relevantes no contexto dos ouvintes para ensinar os princípios de vida desejados. Como afirma Kistemaker (2011, p.46): “Isto é, ele usava uma história tirada do cotidiano, para, por intermédio de um fato já aceito e conhecido, ensinar uma nova lição. Essa lição, na maior parte das vezes, vinha no final da história e provocava um impacto que precisava de tempo para ser entendido e assimilado”. Após essa tomada de ressignificação a história tornava-se significativa e as pessoas passaram a viver e disseminar as verdades conhecidas.
Jesus ainda deixa uma fundamentação bíblica com sua afirmação em Marcos 4.11 quando fala: “Ele lhes disse: A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas tudo se diz por meio de parábolas aos de fora, […]”.
As parábolas é um recurso que cabe a todos os níveis de intelecto, cultura e social, pois como afirma Snodgrass (2010, p.30): “As parábolas normalmente atraem os ouvintes, provocam reflexões e geram ação”. Para a aplicação da Palavra de Deus na vida dos aprendizes as parábolas aplicadas de forma andragógica poderá ter os resultados de transformação de vida esperada.
Outras formas Jesus usou para ensinar: perguntas, preleções, histórias, conversas, parábolas, discussões, dramatizações, lições objetivas, planejamentos e demonstrações. Ensinou multidões, grupos, e pessoas individuais. Ensinou no templo, nas sinagogas, nas casas, nas praças, nas estradas, no deserto e na praia. Porém, o que se observa em comum é a forma andragógica que ministrou com cada ferramenta de ensino.
Andragogia
Andragogia, arte ou ciência de orientar adultos a aprender (definição creditada a Malcolm Knowles, anos 1970), (Cavalcanti,1999). O termo remete a um conceito de educação voltado para o adulto, em contraposição à pedagogia, que se refere à educação de crianças (do grego paidós = criança). Hamze (2000), em acréscimo, diz: Andragogia (do grego: andros – adulto e gogos – educar) é um caminho educacional que busca compreender o adulto. A Andragogia significa “ensino para adultos”. Andragogia é a arte de ensinar aos adultos, que não são aprendizes sem experiência, pois o conhecimento vem da realidade (escola da vida). O aprendizado é factível e aplicável. Esse aprendiz busca desafios e soluções de problemas, que farão diferença em suas vidas e aprende melhor quando o assunto é de valor imediato.
Nesse sentido, Knowles (1977 p.21, apud GOMES, PEZZI e BÁRCIA, 2006, p. 3) diz que “a teoria da aprendizagem de adultos apresenta um desafio para os conceitos estáticos da inteligência, para as limitações padronizadas da educação convencional…”. Paulo Freire compactua desse pensamento, pois se posiciona contrário às concepções tradicionais imobilistas. Um dos pressupostos do método de Paulo Freire é a ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação, que deve ser um ato coletivo e solidário – um ato de amor, dá para pensar sem susto -, não pode ser imposta. Porque educar é uma tarefa de trocas entre pessoas e, se não pode ser nunca feita por um sujeito isolado (até a autoeducação é um diálogo à distância), não pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que possui todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que não possui nenhum. (FREIRE, apud BRANDÃO, 1981, p.22).
No caminho de construção de uma educação cristã, o adulto que buscar aprender deverá ser um protagonista junto do seu grupo para ter sucesso no processo do aprender a aprender, fazendo e convivendo para assim ter seu caráter moldado pelo de Cristo em uma vida que conhece e pratica a Palavra de Deus.
A aprendizagem que ocorre pela metodologia aplicada por Jesus é orientada para a resolução de problemas e tarefas com que se confrontam na sua vida cotidiana. Portanto, cabe à educação cristã atualmente não perder este exemplo para levar seus aprendentes a uma formação para uma vida discipular baseada nos princípios bíblicos aprendidos e assim ser fonte de transformação de vidas e sociedades.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, João Ferreira. Bíblia Revista e Corrigida. Tradução, Curitiba, SBB, 1998.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? 1ª edição, São Paulo, Brasiliense, 1981.
CAVALCANTI, Roberto de Albuquerque. Andragogia: A Aprendizagem nos Adultos. Revista de Clínica Cirúrgica da Paraíba, nº 6, ano 4, jul / 1999.
Disponível emhttp://www.rau-tu.unicamp.br/nou-rau/ead/document/?view=2 Acesso em 12/12/2013.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. edição. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GOMES, Rita de Cássia Guarezi; PEZZI, Silvana e BÁRCIA, Ricardo Miranda. Tecnologia e Andragogia: aliadas na educação a distância Tema: Gestão de Sistemas de Educação a Distância (2006), Disponível em http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=121&sid=121&UserActiveTemplate=4abed Acesso em 10/12/2006.
HANZE, Amélia. Andragogia e a arte de ensinar aos adultos. Disponível em http://www.universia.com.br/html/materia/materia_gfjg.html Acesso em 12/12/2013
KNOWLES, M. Apostle of Andragogy. text reprinted with permission (www.sbdg.org.br) from article by Robert Carlson. Vitae Scholasticae, 8:1, Spring 1989.
KISTEMAKER, Simon. J. As parábolas de Jesus. 1ª edição, Editora: Cultura Cristã, São Paulo, 2011.
MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal – Treinamento em Grupo. 8ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1998.