“Eu falo do que vi diante de meu Pai; e vós fazeis o que também ouvistes de vosso pai”
João 8.38
Em março de dois mil e dezenove, aos 92 anos, meu pai faleceu. Papai foi um homem muito simples, com pouca instrução formal, resiliente, prestativo e com uma habilidade manual incrível. Desempenhou muitas atividades, dentre as quais, cuidar dos filhos após a morte de minha mãe, quando eu tinha apenas 4 anos de idade. Ele assumiu os dois papéis cuidando dos filhos. Lembro sempre da presença dele nas reuniões de pais e mestre na escola, que em sua maioria participavam as mães. Aprendi muito vendo meu pai em ação em casa, na rua, na igreja, em todos os lugares. Era muito benquisto por todos que tinham a oportunidade de conhecê-lo e partilhar de sua convivência.
O genitor não é alguém que você escolhe e alguns nem são considerados como pai. Isso é algo extremamente ruim, penso eu, pois esta relação de paternidade tem um reflexo importante na relação com Deus. Imagine uma pessoa que tem a relação com seu genitor/pai, muito conturbada, pesada e prejudicial. Como ela vai encarar Deus como Pai? Não é algo fácil e precisa de ajustes. Nossa relação com nosso pai tem uma grande influência na relação que mantemos com nossos filhos (de cuidado, de ensino, de amor etc.), mas também com Deus!
O contexto do texto bíblico retirado do Evangelho de João nos mostra o desenrolar de uma conversa de Jesus mantida com um grupo de judeus. A discussão é no âmbito do reconhecimento de quem é o Filho (Jesus) a partir do conhecimento de quem é o Pai (Deus). Isso é muito interessante, pois conhecemos muito de nós mesmos quando olhamos para nosso próprio pai. Nós não temos relatos da relação de Jesus com seu pai José, mas sabemos que dele Jesus herdou a profissão. Deve ter feito muitos telhados e aprendeu bem como fazê-los. Jesus não estava falando de José, com quem conviveu poucos anos, mas de Deus. No entanto, a relação percebida pelas pessoas foi a relação entre Jesus e José. Veja que nossa relação com Deus tem uma íntima ligação com nossa relação com nosso pai terreno.
Além disso, o ser pai reserva em si uma forte ligação com a própria relação mantida entre Deus e seu Filho Jesus, pois é uma relação de amor, de compartilhamento de intimidade. É assim que pai e filho/filha devem viver. É algo que tive com meu pai e que agora, como pai, eu quero manter com meus filhos. Como pai somos um espelho, não só que reflete uma imagem, mas que reflete a luz recebida do próprio Deus. Assim, como pai, manter minha relação com Deus e espelhar isso aos meus filhos é essencial. Isso é o que vai fazer com que eles no futuro possam dizer – eu falo das coisas que vi e aprendi com meu pai (Jo 5.20). Para aqueles judeus, Jesus era o filho de José, o carpinteiro. Mas Jesus, está ali mostrando-lhes as obras que seu Pai (Deus) o havia incumbido de fazer.
Ser pai é uma grande tarefa dada pelo próprio Deus e que merece ser honrada pelos filhos. Fazendo isto os filhos garantem o estabelecimento de uma vida frutífera e próspera (Ef 6.2). Isto não é algo a ser feito apenas no segundo domingo de agosto, mas é no dia a dia, espelhando aquilo que aprendemos ao longo de uma vida. Assim, manter uma boa relação com Deus é essencial para deixar um exemplo permanente de como deve ser a relação entre pai e filho. Como pai, esse é o maior legado, a maior herança. Como filho ou filha, receba de seu pai aquilo que foi incumbido pelo próprio Deus. Honrem-no para terem uma vida feliz e próspera. Mantenham uma relação de amor, espelhada na relação entre Deus-Pai e seu Filho. Através de meu pai, conheci também o meu Deus. E vi nele o exemplo de uma vida dedicada. Esse foi meu pai e dou graças a Deus por ele.
FELIZ DIA DOS PAIS!