Houve um tempo em que as mães lactentes podiam colocar a mão no tecido de sua roupa, tirar o peito lindo, enorme e cheio de leite, colocá-lo na boca do bebê e amamentá-lo livremente. Mas, a erotização da sociedade foi capaz de sensualizar o sublime ato de uma mulher amamentar o seu filho.
Quando me tornei mãe, dentre todos os mistérios e milagres que envolvem a maternidade, um me deixou extasiada pela sua grandeza e ao mesmo tempo simplicidade: a amamentação. Os detalhes daquele ritual eram repletos de significado que abrangiam todos os aspectos do meu ser mãe.
Quando pegava o meu bebê para amamentá-lo, todo o seu corpinho passava por uma espécie de transformação e uma corrente de comunicação era formada entre nós. Suas pernas e braços se agitavam. Ele abria a boquinha repleta de ansiedade pelo alimento e buscava com os seus olhos os meus olhos. No fio invisível da ligação dos nossos corpos era impossível retirar o meu peito envolto no tecido da roupa antes que ele jorrasse. Na trajetória do seu esconderijo até à boca do bebê, um acidente maravilhoso e provocador de risos e mimos acontecia, e o peito molhava sua carinha com esguichos de leite num momento de pura magia. A alegria se expandia dia a dia, porque o fruto do meu corpo, composto com todos os nutrientes necessários, produzidos e armazenados na sua parte mais bela, se transformava no desenvolvimento do bebê.
No local onde nasci e cresci, as mulheres lactentes amamentavam seus bebês em público, sem jogar nenhuma toalha ou fralda sobre o peito. Aquele era um momento sublime e ritualístico. Nas igrejas, durante os cultos, podia-se ver o desfile de mães orando, cantando e amamentando. Eram peitos marrons, pretos e brancos, exibindo veias entrelaçadas no contorno arredondado daquilo que era a maior maravilha para mães e filhos.
Os peitos de uma mulher lactente eram envolvidos por um simbolismo e um significado que, pouco a pouco, foi sendo modificado e sensualizado. Um dia, quando eu já não estava mais lá, uma religiosa saída da capital Salvador, ao chegar na cidade em um dos cultos de sua igreja, teve a infeliz iniciativa de se levantar de seu lugar, caminhar entre os bancos e colocar o seu lenço sobre o peito de uma jovem mãe, que amamentava seu bebê. A ofensa foi tamanha que a mulher, visitante há vários domingos, nunca mais voltou à igreja. O mais triste é que a cultura do puritanismo sobrepôs à cultura do direito à amamentação em público que reinava naquele lugar, e o silêncio e a omissão dos fiéis se estabeleceu.
Arraigada ao amor à minha cultura e rebelde ao sentido sensualizado que alguns seguimentos da sociedade teimam impor às jovens mães, experimentei o que existe de mais emocionante da vida: tirar o peito, lindo, redondo e expô-lo ao mundo e ao meu filho, sentindo o leite correr pelos canais e explodir em sua boca. Muitos homens e mulheres viram meus peitos enormes e nunca me preocupei se estava por perto, porque amamentar em público era algo intrínseco em mim.
Fiz isso, porém nunca vi, na capital onde fui mãe, outra mulher tirar o peito e amamentar em público. Vi sim, muitas saírem com os bebês aos gritos e se esconderem em alguma sala para amamentar. As mais ousadas tiram o peito por baixo da blusa e não pelo decote, obrigando a criança a quase se sufocar.
Como mulher, defendo o direito de as mães exibirem seus peitos na alimentação dos filhos. Elas, porque são a fonte do melhor alimento do mundo e eles por tê-los como sua propriedade, no período da primeira infância e pelo privilégio de terem nascido de uma mãe saudável, física e emocionalmente, podendo alimentá-los com seu próprio leite.