Segundo Stetzer e Putman (2018) ao referir-me a uma cosmovisão “cristianizada”, afirmam que, “não se trata de mudança no conteúdo da mensagem, mas na forma de comunicar essa mensagem”.
“[…] homens de Isaacar, conhecedores dos tempos, e que sabiam o que Israel devia fazer”. (1 Cr 12.32)
Algo que considerava entre outras coisas, a “forma de comunicar essa mensagem ao povo”. A práxis (saber fazer, agir) do educador cristão na contemporaneidade deve considerar as novas tendências na educação cristã em uma perspectiva bíblico teológica.
Aspectos conceituais: entendo que tendências, são temporais, plurais e imprevisíveis. O “novo” não é mais novo. Todo ano surgem novas tecnologias de comunicação digital emergentes como o Metaverso e a Inteligência Artificial . As tecnologias digitais de comunicação atualmente, permitem a exploração e o surgimento de cenários alternativos, nem sempre auto interpretáveis em uma perspectiva estruturada historicamente em fases:
Permita-me retroceder, quem já ouviu falar do PROJETO MINERVA? “O Projeto Minerva (1970-1989) foi um programa radiofônico ensino e aprendizagem consistia no acompanhamento das radio aulas pelos seus participantes educativo e cultural, criado durante o governo militar (1964-1985), pelo Serviço de Radiodifusão Educativa (SER) do Ministério da Educação e Cultura (MEC).”
Nos anos 1980 o uso de calculadoras simples e científicas e de computadores, chamadas “tecnologias informáticas” (TI) ou tecnologias computacionais, os softwares. A tendência metodológica foi o construcionismo. Surgem os laboratórios de informática e o uso do computador como recurso pedagógico. O papel atribuído às tecnologias era o de catalisador para a mudança pedagógica, permitindo abordagens inovadoras na educação.
A segunda fase tem início na primeira metade dos anos 1990, a partir da acessibilidade e popularização do uso dos computadores pessoais e profissionais. Diversos softwares educacionais foram então produzidos, exigindo formação continuada, suporte e alternativas para que TI fossem utilizadas em suas aulas. Estávamos saindo da zona de conforto para a zona de risco.
A terceira fase tem início por volta de 1999 com a advento da internet, utilizada como fonte de informações e como meio de comunicação entre professores e alunos. A formação continuada se dá via e-mail, chat e fóruns de discussões, por exemplo. Se consolidam expressões como “tecnologias da informação” e “tecnologias da informação e comunicação” (TIC). O ambiente virtual permitia a interação síncrona através de videoconferências.
Na quarta fase com relação ao uso das tecnologias de comunicação virtual que teve início em meados de 2004, com o advento da internet rápida. A qualidade da conexão e a quantidade de recursos com acesso à internet foram aprimorados. Destaque para o uso de vídeos, plataformas ou repositórios (YouTube entre outros). Essa fase é caracterizada pelas tecnologias móveis como celulares inteligentes, tablets, laptops, dentre outros. Neste contexto histórico, outras fases irão surgir no cenário educacional, estamos falando de tecnologias disruptivas quando nos referimos às novas tendências na educação cristã.
Para Perkin e Abraham (2017) “a transformação digital tem as seguintes premissas: (1) é inevitável e, portanto, vai acontecer, independentemente das vontades particulares de um indivíduo ou de uma organização; (2) está associada a mais do que somente tecnologia, envolvendo estratégia, processos, cultura, comportamentos e pessoas; e (3) envolve uma mudança fundamental e de âmbito ampliado, levando à reinvenção da atividade humana.”
Hoje temos a Educação 4.0. O nome surgiu como tendência à Quarta Revolução Industrial, pretende mudar a maneira como a transmissão e a aquisição do conhecimento será disponibilizado. A Educação 4.0 sinaliza como a aposta na reestruturação da aprendizagem por meio do uso da tecnologia de comunicação digital. Além de usar o computador em sala de aula, a ideia é baseada no “learning by doing”, ou seja, aprender a aprender. Essas novas tendências na educação cristã são pautadas nas metodologias ativas.
A partir desta abordagem é possível construir uma ideia de tendências como “uma mudança e alteração com capacidade de influenciar as dinâmicas” socioeducativas e o comportamento das pessoas, hábitos, crenças, valores e opiniões. Trata-se de movimento histórico, cultural, movimentos mais sólidos e permanentes. Vamos tentar mapear algumas das novas tendências tecnologias e metodológicas recentemente que podem ser aplicadas ou não ao campo da educação cristã e, perceber um descompasso entre o ensino e as aprendizagens convencionais e os novos paradigmas pedagógicos com a educação na modalidade a distância.
As novas tendências na educação em geral e, na educação cristã, estão relacionadas às “inovações tecnológicas e metodológicas que trazem novos desafios, mas também delas podem surgir novos procedimentos e soluções”. Estamos falando de tendências tecnológicas, metodológicas e processuais.
Segundo Tom S. Rainer (2020, p.34), na medida que a internet se tornou cada vez mais um canal para o evangelho, para o ensino bíblico e para o ministério (…) igrejas de toda as dimensões passaram a descobrir um novo campo missionário no mundo digital.”
Sabe-se que o desenvolvimento crescente das tendências tecnológicas está agilizando a comunicação entre as pessoas nas últimas décadas da humanidade. A liderança da igreja já percebeu esse modus operandi. E como os homens de Issacar, “que sabiam o que Israel devia fazer” já começaram a agir. Perceberam mudanças na noção espacial e temporal de ensinar a Bíblia na sala de aula a fim de proclamar, ensinar e aprender. “O digital torna elásticas as noções de tempo e espaço ao possibilitar sua combinação por via de plataformas digitais.” (p.17)
No caso da “internet presente nas últimas três décadas, está incorporada até mesmo a pertences pessoais, como relógios, óculos e roupas (tecnologias vestíveis), além de utensílios, mobiliários e todo tipo de itens domésticos, como máquinas de lavar e armários (casas inteligentes).” Em novembro de 2022, um movimento característico de uma nova fase, foi lançado o Chat GPT, uma ferramenta diferente do que se conhecia como Inteligência Artificial (AI) construído para ter diálogo e interações similares às de humanos, permitindo preencher formulários, enviar e-mails, resumir e escrever textos.
Constata-se que estamos vivenciando e vivendo em um ecossistema povoado por códigos e plataformas suportadas pela inteligência computacional. Uma pesquisa recente mostrou que temos, em média, 80 aplicativos no nosso celular e usamos com frequência 40. A tecnologia se tornou ubíqua, isto é, está em toda parte e impactou todas as atividades humanas.”
Já não frequentamos regularmente, mais agências bancárias, de viagem, livrarias, lojas, hipermercados como antes, quiçá o templo entre outros espaços de convivências. Inúmeras igrejas no rastro das tendências tecnologia de comunicação digital e metodológicas tem adotado atividades presenciais, virtuais e híbridas como: o culto de oração, estudos bíblicos dominicalmente na ministração lições da Escola Bíblica dominical (EBD), nas pregações etc. Trata-se das novas tendências na eclesiologia do ministério de educação cristã e demais atividades.
É neste cenário que a igreja e o ministério de Educação Cristã precisam assumir o seu protagonismo e acompanhar as transformações da sociedade ao integrar as inovações tecnológicas e metodológicas à sala de aula e os ambientes virtuais de aprendizagem.
As novas tendências na educação cristã devem considerar a diversidade de interesses, preferências e perfis (sociais, afetivos e cognitivos) dos usurários. Ou seja, a informatização e a virtualização e o perfil dos usuários na rede, já que as pessoas estabelecem diferentes tipos de interações, nosso caso, mediados pelo propósito de ensinar e aprender a Bíblia, exigindo a formação permanente do professor e dos alunos. Uma formação intercultural, com o conhecimento e as habilidades necessárias para se engajar efetivamente professores, educadores cristãos, pastores e demais líderes das igrejas às novas tendências.
Considerações Finais
As mudanças em nossa cultura organizacional mudam muito lentamente, enquanto isso, nos deparamos com aceleradas inovações tecnológicas e metodológicas. Entre atualização e desatualização, as novas tendências na educação cristã impõem a formação continuada, em serviço, ao mesmo tempo em que à “igreja não pode sucumbir nem à idolatria tecnológica nem à ansiedade tecnológica.” Ressaltando que não se trata de um mercado educacional, as tecnologias de comunicação digital não devem ser vistas como uma concorrência do professor no processo de ensino.
Lembrar que o uso das tecnologias de comunicação digital e das metodologias ativas tem se mostrado uma ferramenta indispensável para o ministério eclesiástico. Plataformas digitais permitem que o evangelho seja compartilhado em lugares onde a presença física pode ser limitada. No entanto, é importante que esses recursos sejam culturalmente adaptados e que haja acompanhamento por parte da liderança da igreja a fim de garantir que as necessidades espirituais estejam sendo atendidas.
Vivemos em um mundo perdido, caído e, agora, saturado pelas tecnologias digitais. Ou seja, o ser humano é pecador e está destituído da glória de Deus. “Em seu ensaio Sincero, mas Errado (1951), D. Martyn Lloyd-Jones destaca: o evangelho continua relevante em uma sociedade tecnológica porque o maior problema do ser humano continua o mesmo (o pecado) e a solução continua a mesma (Jesus).” É necessário agir com prudência, sem precipitação e exageros. (Pv.14.15). “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”. (Hb 13.8). Creio que Deus é soberano, de que Ele está realmente em ação e no controle de todas essas tendências.
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