“Também recordo a fé sincera que há em ti, que primeiro habitou em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti” (Timóteo 1.5).
O Dia dos Avós, celebrado no Brasil em 26 de julho, é muito mais do que uma data no calendário. É um convite à reflexão sobre a presença multifacetada e cada vez mais vital dessas figuras em nossa sociedade contemporânea. Longe do estereótipo do “vovô no balanço” ou da “vovó na cozinha”, os avós de hoje assumem papéis complexos e indispensáveis, atuando como verdadeiras âncoras em um mar de mudanças, pontes entre gerações e legados vivos para o futuro.
Historicamente, os avós eram vistos como os guardiões da tradição, detentores da sabedoria e da experiência acumulada ao longo da vida. A Bíblia ressalta essa valorização da experiência e da longevidade. Embora essa função continue essencial, o cenário social e familiar do século XXI redimensionou e ampliou dramaticamente o seu protagonismo. Um dos papéis mais evidentes, e muitas vezes sobrecarregados, é o de apoio na dinâmica familiar.
Com o aumento da participação feminina no mercado de trabalho e a complexidade das rotinas dos pais, os avós emergem como a principal rede de apoio para o cuidado dos netos. São eles que buscam na escola, preparam o lanche, oferecem um colo e, muitas vezes, assumem a responsabilidade primária pela educação e socialização das crianças.
Essa colaboração é fundamental para a estabilidade de inúmeros lares, mas também exige um reconhecimento e uma valorização da energia e do tempo que dedicam, muitas vezes abdicando de seus próprios planos de aposentadoria e lazer. Podemos ver um eco disso na Bíblia, embora de forma indireta, na maneira como a família e a comunidade se apoiavam mutuamente. Embora não exista um versículo específico sobre “avós cuidando de netos na ausência dos pais”, a importância da transmissão de ensinamentos e do cuidado com as gerações mais jovens é recorrente. Por exemplo, em Deuteronômio 6.6-7, os pais são instruídos a ensinar a Palavra aos seus filhos “quando te assentares em tua casa, e quando andares pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”, o que implica uma dedicação constante que, na prática de muitas famílias atuais, é compartilhada pelos avós.
Além do suporte prático, os avós são pontes intergeracionais insubstituíveis. Em um mundo digitalizado e acelerado, onde as relações tendem a ser mais superficiais e a conexão com o passado se fragiliza, eles representam a memória viva. São os contadores de histórias da família, os guardiões das tradições e os transmissores de valores que moldaram gerações.
Essa conexão com o “antes” é vital para que os mais jovens compreendam suas raízes, desenvolvam um senso de identidade e pertença, e aprendam sobre resiliência a partir das experiências de vida de seus antepassados.
A Bíblia está repleta de exemplos dessa transmissão de sabedoria e história de geração em geração. O Salmo 78.4-6 destaca essa função: “Não os encobriremos aos seus filhos, contaremos às gerações vindouras sobre os louvores do SENHOR, seu poder e as maravilhas que tem feito. Porque ele estabeleceu um testemunho em Jacó e instituiu uma lei em Israel, ordenando aos nossos pais que os ensinassem a seus filhos; para que a futura geração os conhecesse, para que os filhos que nasceriam se levantassem e os contassem a seus filhos, […]”.
Os avós, nesse sentido, cumprem um papel fundamental em perpetuar os valores e a história familiar. Mais do que isso, os avós oferecem um tipo de afeto que, por vezes, difere do amor parental. É um amor que, em muitos casos, vem desprovido das pressões e responsabilidades diretas da criação, permitindo uma relação de confiança, cumplicidade e acolhimento incondicional. Esse “porto seguro” emocional é crucial para o desenvolvimento saudável dos netos, oferecendo um espaço de escuta sem julgamento e um incentivo à individualidade. Contudo, é fundamental reconhecer que esse papel não é isento de desafios. Muitos avós enfrentam o dilema de equilibrar o apoio familiar com suas próprias necessidades de envelhecimento ativo, saúde e bem-estar.
A “avosidade” moderna pode ser exaustiva, gerando estresse e, em alguns casos, problemas financeiros e de saúde. A sociedade precisa estar atenta a essas demandas, oferecendo suporte e reconhecimento a quem tanto contribui. O mandamento bíblico de “honra teu pai e tua mãe” (Êxodo 20.12) pode ser ampliado para incluir a honra e o cuidado com os mais velhos em geral, que tanto se dedicam.
Em um cenário de rápidas transformações sociais, onde o individualismo por vezes prevalece, os avós são um lembrete vivo da importância dos laços familiares, da sabedoria que vem com a idade e da beleza do cuidado mútuo. Eles são, verdadeiramente, pilares que sustentam a estrutura familiar e social, garantindo que as pontes entre o passado, o presente e o futuro permaneçam firmes. Celebrar o Dia dos Avós é, portanto, celebrar a resiliência, o amor incondicional e a riqueza de uma geração que continua a semear, nutrir e inspirar.
Referências
BÍBLIA SAGRADA. Almeida Século 21. São Paulo: Vida Nova, 2010.
https://www.ip.usp.br/LEFAM/LEFAM/os_avos.pdf acessado 23\05\2025.