O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois lhe são absurdas; e não pode entendê-las, pois se compreendem espiritualmente. Mas aquele que
é espiritual compreende todas as coisas, ao passo que ele mesmo não é compreendido por ninguém. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo” (1Co 2.14-16).
A expressão “saberes espirituais” pode causar na primeira leitura um certo estranhamento, quer seja por se desconhecer o seu significado, quer seja por sua não utilização no contexto eclesiástico, contudo, ela aponta para a presença de uma dimensão do conhecimento e da vida humana, por sinalizar para a existência de um ser biopsicossocial e espiritual.
Muito se tem enfatizado sobre a dimensão cognitiva, afetiva, física e social do ser humano, porém, não se pode colocar em segundo plano a espiritual, visto que é por seu intermédio que se estabelece conexões com a prática da fé. Assim, saberes espirituais são aqueles que ajudam no desenvolvimento e no crescimento da fé. Eles estão situados no campo da espiritualidade e são usados para promover discernimento, posicionamento e devoção.
Afirma-se que os saberes espirituais são marcas presentes na ação do ser humano e podem ser aplicados no ministério, eles evidenciam uma caminhada de fé com Deus, ou seja, intimidade e relacionamento. Nesse sentido, não guarda relação com hierarquia ou grau de conhecimento teológico, mas com ter a mente de Cristo, na medida em que se tem consciência do sentido de ser submisso a sua vontade e de manter a postura de um coração adorador.
Tais saberes fazem parte da caminhada da vida cristã, por isso, eles podem ser ensinados, na medida em que se vive os princípios bíblicos nos relacionamentos com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Esses são os que darão direção às atitudes que se manifestam em decisões, testemunho e práticas do dia a dia.
Ensina-se os saberes espirituais em todo tempo, seja na aplicação de princípios, na prática da vida devocional e na transmissão e proclamação da mensagem de Cristo que liberta e traz transformação, sendo, portanto, este o conteúdo a ser explanado, vivenciado e compartilhado. A centralidade é Cristo, porque nele se encontra o sentido de ser. Nele, se tem constituída e definida a identidade de discípulos que servem e seguem uma missão.
Compreende-se que por seu caráter prático, os saberes espirituais podem ser encontrados em situações de liderança, as quais requerem ponderações, exortações, escolhas e senso de direção e missão. Aqui, se insere o papel a ser exercido por educadores cristãos que tem como objetivo principal manter a identidade e a unidade da comunidade eclesiástica em Cristo, a partir de propostas formativas que abrangem as gerações. Isso ultrapassa a perspectiva do ensino dominical efetivado e projeta a necessidade de um programa de acompanhamento que precisa ser observado durante uma trajetória de crescimento e aperfeiçoamento da vida cristã.
Educadores cristãos são líderes escolhidos pela comunidade eclesiástica. Seu papel tem como meta manter a unidade da fé, a partir de uma visão mais ampla sobre a formação das gerações. Eles são comprometidos com a verdade e por isso atuam como sentinelas do ensino bíblico e doutrinário efetivado em diferentes contextos (escolas bíblicas, escolas de treinamento, seminários, institutos, centros formativos). Isso ocorre independentemente da terminologia adotada nas Igrejas.
O ministério de educadores cristãos é essencial para as comunidades eclesiásticas. Ele atua ao lado da liderança pastoral no sentido de planejar estratégias, ações e temas a serem desenvolvidos ao longo do ano. Esse pensar conjunto é que fortalece não apenas o ensino, mas a formação de todos aqueles que são atingidos por tal proposta.
Ainda, pode-se dizer que a atuação dos líderes de pastores e educadores cristãos em sinergia, é uma demonstração viva da presença dos saberes espirituais, porque se tem uma visão de um organismo vivo, em que há complementaridade, comunhão e presença do Espírito Santo que conduz e dá direção ao sentido de ser da comunidade eclesiástica.
Por fim, compreende-se que os saberes espirituais favorecem a interação entre as áreas ministeriais, porque se é conduzido por uma missão, não por uma posição ou papel exercido. Afinal, a meta é a edificação do corpo de Cristo, arraigados em seu amor e fortalecidos por sua palavra. O resultado não poderia ser outro do que formar verdadeiros adoradores para a glória de Deus Pai.
A presença dos saberes espirituais situa cada adorador diante de seu compromisso firme em promover o reino de Deus e o conhecimento da sua glória. Que esse seja o propósito maior do ministério de educadores cristãos, a fim de Ele cresça mais e mais e seja reconhecido sempre e eternamente. Que o desejo em servir seja, tal qual a declaração de fé do apóstolo Paulo “Portanto, não sou mais eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim. E essa vida que vivo agora no corpo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2.20). Que assim seja, amém.