“não, há educação sem referência ao passado. Entretanto, nas sociedades modernas, a educação visa ao futuro, chamado desenvolvimento – da própria criança e da sociedade. Passado e futuro encontram-se em um ponto temporal abstrato, denominado “presente”. Este não pode ser pensado senão sob esta forma ampliada, a ser sempre redefinida conforme o objeto que se quer pensar: a contemporaneidade”. Bernard Charlot, (2008),
Estamos caminhando para a segunda parte deste subtema. Como disse anteriormente, é preciso desenvolver um olhar atento, plural, múltiplo, reflexivo e diferenciado, por se tratar de investigar a educação adj. “Cristã”, como objeto de estudo e pesquisa, o que implica considerá-lo em cenários de transformações e ao mesmo tempo, um olhar para o papel pastoral e para a figura do educador cristão, um sujeito vocacionado, com sua singularidade, com uma cosmovisão cristã bíblica de realidade interna e circundante e, ao mesmo tempo vivendo e inserido em contextos em que a cosmovisão cristã não predomina, mesmo “cristianizada”; isso torna o desafio para a igreja hodierna e para a pessoa do pastor e do educador cristão pensantes algo desafiador.
Segundo Stetzer e Putman (2018) ao se referirem a uma cosmovisão “cristianizada”, afirmam que, “não se trata de mudança no conteúdo da mensagem, mas na forma de comunicar essa mensagem”; diria de ensinar e aprender a mensagem, proclamá-la. Esse é sem dúvida um olhar atento e reflexivo que o pastor bem como o educador cristão precisa desenvolver, saber lidar com cenários de cosmovisões contraditórios aos princípios e valores do Reino de Deus.
Adianto que até aqui, não temos a pretensão de fazer novas descobertas, previsões, especulações (mesmo porque não somos expert em leitura e análise de cenários), nem tão pouco sugerir um receituário, ou um manual de orientações e soluções para os problemas práticos que vivenciamos no contexto de nossas igrejas e ministérios locais; mas desenvolver com algumas provocações, instigar o senso de oportunidade e de responsabilidade de que, o que estamos fazendo faz uma enorme diferença. Na medida do possível, faço uma tentativa de tecer ou cotejar algumas ideias que pretendo discorrer, sem nenhuma pretensão de esgotá-los. De que lugar eu falo? Como pastor e educador, vocacionado a lidar com o conhecimento absoluto e provisório
É importante dizer de que lugar eu falo. Minha trajetória no campo pastoral e da Educação Cristã, data do início da década de 1990, quando tive oportunidade de lecionar algumas disciplinas no curso de Educação Cristã, oferecidas na matriz e organização curricular do Seminário Teológico Batista Goiano – STBG. Imagino que você saiba o que motivou-me compartilhar com vocês algo sobre a temática proposta – a paixão pelo que faço, quando o assunto é aprender com o outro. Recentemente registrei um comentário do então eleito Presidente dos Estados Unidos – Joe Biden ao referir-se a sua esposa; “Jill é uma mãe, e uma educadora. Ela dedicou sua vida à educação, mas ensinar não é só o que ela faz – é quem ela é. Para os educadores da América, este é um ótimo dia, vocês terão uma de vocês na Casa Branca, e Jill vai ser uma ótima primeira-dama”.
Por isso compartilho com vocês esse comentário e a minha inquietação por esse tema que provocou minha vida pessoal, espiritual e como profissional da educação. Diria que uma característica tanto do pastor como do educador cristão é a inquietude, a resiliência e o empoderamento.
É importante dizer que o pastor e o educador cristão precisam olhar para o ministério cristão e pastoral como um dom de Deus, algo que é próprio do campo religioso, “vocação”, ambos são vocacionados por Deus, isso se aplica independente dos diferentes cenários. Entendo que, se constrói cenários a partir da historicidade e vulnerabilidade dos sujeitos, suas memórias, histórias e narrativas. É no seu ministério que eles(as) se realizam como pessoas chamadas por Deus no cumprimento da missão divina.
Dizer que, o conhecimento histórico – provisório/absoluto “é imprescindível para a prática ministerial pastoral e de educação cristã, pois por meio da trajetória humana o Senhor da história se manifesta e se faz conhecido”. Martinho Lutero considerava “a história o relato da providência divina e um guia prático para a vida”. Deus é o agente ativo do processo histórico. O pastor e o educador cristão podem e devem discernir como Deus revelou e transmitiu a verdade mediante diversos processos educativos no passado e o educador precisa apropriar-se desses processos que estão em construção.
Sabe-se que a história não se repete em termos da totalidade do acontecer, porque cada fato novo não é novo somente porque o tempo da sua ocorrência é mais recente, mas também porque enquanto fato completo envolve pessoas, lugares e tempos diferentes de qualquer outro com que se assemelha. Continua no próximo artigo.
REFERÊNCIAS
DELORS, Jacques.(Coord.) Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 7 ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2012.
FAVA, Rui. Educação 3.0. 1 ed. aplicando o PDCA nas instituições de ensino. São Paulo: Saraiva, 2014.
JARAUTA, Beatriz; IMBERNÓN, Francisco. Pensando no futuro da educação. Uma nova escola para o século XXII. Porto Alegre: Penso, 2015.
LITTLEJOHN, Robert; EVANS, Charles T. Sabedoria e Eloquência. Um modelo cristão para o ensino clássico. São Paulo: Trinitas, 2020.
MORAIS, Regis de. Educação contemporânea. Olhares e cenários. Campinas: Alínea, 2003. (Coleção educação em debate)
PETERSON, Eugene H. O caminho de Jesus e os atalhos da igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. (Série – Teologia Espiritual)
SINE Tom. O lado oculto da globalização. Como defender-se dos valores da nova ordem mundial. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
STETZER, Ed; PUTMAN, David. Desvendando o código missional. Tornando-se uma igreja missionária na comunidade. São Paulo: Vida Nova, 2018.
TAVARES, José. O poder mágico de conhecer e aprender. Brasília: Liber Livro, 2011.
THIESEN, Juares da Silva. O futuro da educação. Contribuições da gestão do conhecimento. Campinas: Papirus, 2011.