A teoria dos estágios da fé foi proposta pelo psicólogo cristão norte-americano James Fowler. A partir dos estudos de Piaget, Kohlberg e Erikson, Fowler (1992) elaborou etapas para o desenvolvimento da fé, semelhante ao desenvolvimento do ser humano. A sua proposta foi publicada em 1981, com a obra intitulada Estágios da Fé: psicologia do desenvolvimento humano e a busca de sentido.
Na visão de Fowler (1992), a fé é, em um sentido amplo, comum a todos os seres humanos, portanto é universal; é uma qualidade do viver humano; é interativa, social. Nesse sentido, desde seu nascimento, o ser humano é dotado de capacidades inatas para a fé. Essas capacidades, por sua vez, serão ativadas, de acordo com o modo como a criança é recebida no mundo e o ambiente no qual ela cresce. A concepção de fé, nessa perspectiva, é “fundamental para as relações sociais, a identidade pessoal e a formação de sentidos pessoais e culturais” (FOWLER, 1992, p. 109).
Apesar das limitações da proposta de Fowler (1992), nas palavras de Armstrong (1994, p.99), dada à sua importância, “todo estudante do processo de educação cristã deve ter conhecimento, ainda que limitado, das etapas da fé e das implicações dessa teoria para a educação cristã”. Pois, referem-se a vida religiosa do indivíduo. Assim, podem ajudar a nós, educadores cristãos, a entendermos “algo da peregrinação dos que participam de nosso programa educacional” (ARMSTRONG, 1994, p. 101).
A seguir, apresento uma breve exposição dos estágios da fé de Fowler, sintetizados por Silva (2011, p. 68, 69 e 70):
- Pré-estágio: Lactância e fé indiferenciada. De 0 aos 2 anos de idade. In útero e nos primeiros meses após o nascimento. Esta fase envolve o início da confiança emocional e nela está a base do posterior desenvolvimento da fé.
- Estágio 1: Fé intuitivo-projetiva. Aproximadamente dos 2 anos aos 6 ou 7 anos de idade. A imaginação articula-se com a percepção e com os sentimentos, criando imagens religiosas de longa duração. É o estágio em que a criança se torna consciente das proibições e normas morais, bem como da noção de sagrado. A característica marcante é de uma fé fantasiosa e imitativa.
- Estágio 2: Fé mítico-literal. Aproximadamente dos 7 aos 12 anos de idade. Este estágio corresponde ao estágio das operações concretas de Piaget, a criança começa a assumir para si as histórias, crenças e costumes de sua comunidade, apropriando-se de forma literal das crenças, símbolos e regras. Aprende a distinguir a fantasia da realidade e desenvolve a capacidade de perceber a perspectivas das outras pessoas. A fé, neste estágio, é uma construção mais linear e com sentido. “É o estágio no qual a pessoa começa a assumir para si as histórias, crenças e observâncias que simbolizam pertença à sua comunidade” (FOWLER, 1992, p. 128).
- Estágio 3: Fé sintético-convencional. Aproximadamente dos 12 aos 18 anos de idade. A referência aos termos “sintético” e “convencional” é explicada pelo autor: O sistema de fé do indivíduo que se encontra no estágio 3 é convencional no sentido de ser visto como o sistema de fé de todo o mundo ou da comunidade toda. É sintético no sentido de ser não analítico; existe como uma espécie de totalidade unificada, global (FOWLER, 1992, p. 142). A fé neste estágio possuiu uma dimensão sintetizadora e fornece uma base para a identidade e a perspectiva da pessoa.
- Estágio 4: Fé individuativo-reflexiva. Aproximadamente dos 18 aos 25 anos de idade. A pessoa, neste estágio, começa a assumir encargos e responsabilidades por seus compromissos, estilo de vida, crenças, atitudes.
- Estágio 5: Fé conjuntiva. Após os 25 anos. A fé conjuntiva implica a integração e convivência com as contradições: Implica a integração, no eu e na própria perspectiva, de muita coisa que foi suprimida ou não reconhecida no interesse da autocerteza e da consciente adaptação cognitiva e afetiva à realidade.
- Estágio 6: Fé universalizante. Atribuído à maturidade, sem idade específica. É caracterizado pelo engajamento da pessoa em uma comunidade humana e pelo comprometimento com a transformação da realidade, visando a valores últimos: O estágio 6 é extremamente raro. As pessoas que se encaixam nele geraram composições de fé, nas quais a sua percepção do ambiente último inclui todo o ser. Elas se tornaram encarnadoras e realizadoras do espírito de uma comunidade humana inclusiva.
Nesses estágios, Fowler (1992) concebe a fé, a partir de estruturas mentais, ou seja, conforme Pazmiño (2008), não é considerada a interação entre o ser humano com um Deus vivo e ativo, no âmbito de uma comunidade cristã.
Por conta disso, o educador cristão ao pensar, em seu programa educacional, deve incluir, também, outras dimensões da fé. Essas dimensões adicionais, no percurso da caminhada do cristão, nas palavras de Pazmiño (2008, p. 215): “… terão de reconhecer a pessoa e a obra de Deus e a resposta da pessoa humana a Deus que inclua entrega, surpresa, reverência, maravilha e subjetividade”.
REFERÊNCIAS
ARMSTRONG, H. Bases da educação cristã. Tradução de Merval de Souza Rosa. 2 ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994.
FOWLER, J. W. Estágios da fé: psicologia do desenvolvimento humano e busca de sentido. São Leopoldo-RS: Sinodal, 1992. (original publicado em 1981 por Harper & Row, Publishers, San Francisco, Estados Unidos da América).
PAZMIÑO, Robert. W. Temas fundamentais da Educação Cristã. 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
SILVA, Maria Eliane Azevedo. O processo de desenvolvimento da fé e a constituição do self na primeira infância, a partir de James William Fowler. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.
Resumo:
Neste artigo, apresentamos os estágios de desenvolvimento da fé, propostos por James Fowler (1992), acompanhados de breves explicações, reflexões e, ainda, ponderações sobre a sua contribuição para o trabalho do educador cristão, no âmbito da igreja local.
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Fica aqui minha gratidão pelo material disponibilizado, um material rico e essencial.