A Reforma protestante impactou a Educação cristã que caminhava a ‘pleno vapor’ em tempos da Idade Média? Quando estudamos a História da Igreja e da Educação Cristã encontramos muitos dados que descrevem a Educação cristã como um período já consolidado. Neste artigo vamos pensar em alguns aspectos que poucos autores mencionam ao narrar a História da Educação Cristã.
O período da Reforma ocorre no momento da saída da Idade Média para a entrada na Idade Moderna que ocorre entre os séculos 15, 16, 17, marcando uma passagem. A palavra impacto traz a conotação de colisão, de choque e a Reforma foi uma forte ‘colisão’ com a Igreja que resultou em muitos outros movimentos. Vamos focar nesta primeira parte alguns aspectos do contexto deste período, seus personagens e principalmente as ideias, que marcam profundas mudanças na Filosofia, na Sociedade, na Igreja, na Educação como um todo e na Educação Cristã. Nesse sentido, vamos pensar sobre: O que se passava no mundo, O que se passava na Igreja e O que se passava na Educação tendo como base na obra de Pablo Dairos (2020). Procuraremos responder à questão: Quais foram os impactos da Reforma para a Educação cristã? Lembremos que a Idade Média caracteriza o campo da Teologia e da Educação bastante imbricados e apontados pelos historiadores como o período do desenvolvimento da Educação Cristã.
O que se passava no mundo: Escreve Dairos que o famoso, ”Penso, logo existo”, escrito por Decartes, destaca a valorização do ser humano num avanço ao Humanismo que resulta em mudanças de pensamento, saindo da Racionalidade Teológica para a Racionalidade científica, marcando assim o tempo do Renascimento ou da Renascença. De outra forma, o retorno aos clássicos destaca as diversas obras de arte reconhecidas como “perfeitas”: Monalisa, A criação de Adão, Pietá, O nascimento de Vênus, A Escola de Atenas, entre outras. A invenção da imprensa em 1450 despertou grande curiosidade e os registros, agora impressos, marcaram a busca por mais informação, conhecimento. Novas leituras significam novas interpretações daquilo que era explicado de outra forma, ou seja, o alcance ao conhecimento era mais próximo resultando numa nova dimensão à educação que ameaçava a primazia da Igreja sobre o conhecimento. Os grandes empreendimentos da navegação descobertas como a nova cartografia, o heliocentrismo, a bússola, a pólvora, trazem aos empreendedores e ao mundo em geral, uma nova visão de território e diversos países como África e Ásia se tornaram a partir de portos da Europa, rotas de comércio e exploração abrindo dessa forma o conhecimento de povos, culturas, costumes, formas de governo, outras línguas, aumentando a relação sociedade e comércio. Na esteira da História devemos nos lembrar dos grandes investimentos missionários liderados pela Igreja de Roma muito bem descritas por Justo L. Gonzalez e Carlos Cardoza Orlandi na obra História do Movimento Missionário. Os grandes empreendimentos missionários protestantes vieram anos depois.
O que se passava na Igreja – A Igreja dominava o mundo social, financeiro e detinha muito poder apontando que na religião se depositavam as questões que rodeavam a sociedade como um todo. Os pré reformadores como Pedro Valdo, John Wycliff e Jan Hus foram perseguidos por suas ideias contrárias à dominação papal que contemplavam, entre algumas de suas reivindicações: o enriquecimento da Igreja; cobrança de impostos e as indulgências; o batismo infantil; a adoração aos santos; o celibato e o ascetismo; a interpretação livre das Escrituras por Bispos e Papas; entre outras. Essas questões eram consideradas como violações ao que Cristo ensinara e deviam ser abolidas voltando a Igreja aos antigos marcos presentes na Igreja de Atos. Reformar significava mudar e para mudar seria preciso enfrentar cada uma dessas violações e levar a Igreja à desejada verdade bíblica. Tais reivindicações formaram o que se conhece hoje como as 5 solas da Reforma Protestante – fundamentos da teologia defendida por Lutero: Sola fide – somente a fé; Sola scriptura – somente a Escritura; Solus Christus – somente Cristo; Sola gratia – somente a graça; Soli Deo gloria – glória somente a Deus.
O que se passava na Educação: A quem estava entregue o sistema educacional? À Igreja, aos monges e ao clero. O poder central era a Igreja porque tinha não somente a detenção do conhecimento, mas sua reprodução, além das questões de dominação política sobre governantes e autoridades. A Idade Média foi marcada pela criação de Universidades como: Bolonha em 1088; Oxford em 1096; Salamanca 1134; Universidade de Paris, 1150; Cambridge em 1209, entre outras, sob o poder da Igreja. A Idade Média no campo da Educação enfocava estudos primeiramente em gramática, retórica e a lógica, na sequência o estudo da aritmética, geografia, astronomia e música. O pensamento da renascença “favoreceu a crença nas possibilidades de o homem se superar, favoreceu o individualismo, o pioneirismo e a aventura” (GADOTTI, 1999, p. 61). Impulsionados pela invenção da imprensa, os ideais reformistas de Lutero, Calvino e os que se seguiram, trouxeram a Bíblia ao alcance do povo, atendendo a uma das reivindicações que era o acesso à Palavra de Deus. Desta forma, a participação no culto e a ‘Doutrina do sacerdócio’ trazia a possibilidade de cada cristão ser um ‘ensinador’ da verdade de Cristo e não somente as autoridades eclesiásticas.
Finalizaremos aqui este início de reflexão sobre o que se passava no mundo, na Igreja e na Educação pois nos ajudarão a entender “Os impactos da Reforma Protestante à Educação Cristã”. Até o próximo mês.
Referências
DAIRÓS, Pablo A. História Global do cristianismo. São Paulo: Vida, 2020.
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1999.