Pastoreando a família
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Ao abordar a temática “Pastoreando a Família”, nosso objetivo é refletir sobre o cuidado com o lar pastoral à luz do ministério, considerando a fidelidade do pastor a Deus, à sua família e à igreja. Para isso, tomamos como base o texto de 1Timóteo 3.1-5. O princípio bíblico deste texto revela uma realidade que, infelizmente, não é rara: as negligências no ministério pastoral em relação à própria família.
Propomos, assim, uma reflexão pastoral que, embora não pretenda esgotar o tema, visa trazer uma palavra de exortação, edificação e encorajamento à perseverança. Trata-se de um chamado à consciência e ao equilíbrio entre o pastoreio da igreja e o cuidado com a primeira igreja do pastor — sua própria casa. Esta é uma contribuição necessária à agenda da família pastoral e da igreja contemporânea.
A dupla missão de pastorear a família e a igreja só será bem-sucedida se for respeitada uma ordem de prioridades: a família deve preceder a igreja. Ainda que o ministério pastoral imponha tensões e dificuldades próprias, é essencial observar essa hierarquia de responsabilidades.
- PASTOREANDO A FAMÍLIA E A IGREJA. UM OFÍCIO DIGNO DE EXCELÊNCIA
O apóstolo Paulo, ao destacar a importância do pastor ser irrepreensível, marido de uma só mulher, e que governa bem sua casa, nos ensina que o ministério pastoral começa no lar. A liderança que o pastor exerce na igreja deve ser reflexo da autoridade e cuidado que ele manifesta em sua casa. A família é o primeiro campo de prova para o pastor, pois é nela que ele pratica as virtudes que depois serão evidentes no trato com a igreja (1Tm 3.5).
1Timóteo 3.15 nos desafia a refletir sobre a consistência entre a vida privada e o ministério público do pastor. O lar deve ser o lugar onde o pastor encontra o apoio necessário para o ministério, mas também o espaço onde ele é testado, pois não há separação entre a vida familiar e o pastoreio.
Além disso, o texto nos adverte sobre o risco de um pastoreio excessivo da igreja em detrimento da família. Em uma era em que o pastorado é marcado pela pressão de atender a múltiplas demandas e expectativas, é crucial que o pastor mantenha a prioridade do seu lar, não negligenciando o cuidado espiritual de sua esposa e filhos. Portanto, o pastoreio da família e da igreja exige sabedoria, discernimento e um compromisso contínuo com o Senhor, a fim de que o pastor se mantenha firme em seu ministério, cumprindo sua missão de cuidar tanto do corpo de Cristo quanto da sua própria casa com excelência.
O pastor, como sacerdote de sua casa, deve liderar com o exemplo, buscando a transformação espiritual de sua família antes de esperar que isso aconteça na igreja. O cuidado e a liderança espiritual dentro do lar são fundamentais para que ele se mantenha firme em sua caminhada ministerial.
Além disso, a capacitação continuada para o ministério é uma responsabilidade inegociável. O pastor precisa se manter atualizado, tanto em seu conhecimento teológico quanto em suas habilidades pastorais, a fim de atender de maneira eficaz às necessidades da igreja.
- PASTOREANDO A FAMÍLIA E A IGREJA. AS QUALIFICAÇÕES DO PASTOR
As virtudes de ser equilibrado, ter domínio próprio e ser respeitável não são meros atributos de caráter, mas pilares fundamentais para que o pastor exerça sua liderança de maneira fiel e eficaz. Essas qualidades, além de serem indispensáveis para a vida ministerial, são igualmente essenciais para a saúde de sua família. O pastor que possui equilíbrio em sua vida pessoal e ministerial transmite um exemplo de estabilidade e confiança, que é fundamental para sua liderança tanto em casa quanto na igreja. O domínio próprio, por sua vez, é necessário para que ele se mantenha firme diante das tentações e desafios, sem se deixar dominar por suas emoções ou circunstâncias.
No contexto da igreja, essas virtudes são vitais para que o pastor ganhe credibilidade diante de sua congregação e, por extensão, diante da cidade. A qualidade de sua liderança em sua casa é o alicerce que sustentará sua capacidade de pastorear com excelência a igreja e a cidade.
A hospitalidade e o dom de ensinar, como qualidades essenciais para o pastor, não apenas enriquecem o ministério da igreja, mas também são cruciais para a liderança na família. O pastor, em sua casa, deve ser hospitaleiro, criando um ambiente de amor, acolhimento e apoio, onde sua esposa e filhos possam crescer espiritualmente. Essa abertura e disposição para servir e acolher são características que devem se estender a todos que ele lidera, mostrando que o amor de Cristo se manifesta em ações práticas, tanto no lar quanto na igreja.
A capacidade de ensinar também se reflete no cuidado diário que o pastor oferece à sua família. Ensinar à esposa e aos filhos a Palavra de Deus, ser um guia espiritual em casa, é tão importante quanto pregar na igreja. O pastor não deve se contentar em ser um líder espiritualmente capacitado apenas para os outros, mas deve ser o primeiro a exercer esse papel no ambiente familiar, pois é nesse contexto que o evangelho é vivido de forma mais próxima e pessoal.
Quanto às proibições de comportamentos extremos, como o abuso de vinho, a violência e a ganância, elas nos lembram que o pastor deve ser um modelo de autocontrole. Seu comportamento deve refletir a moderação e a paciência de Cristo. A maneira como ele lida com os conflitos, as tentações e as pressões da vida é um testemunho importante para sua família e sua igreja. Se ele não for capaz de cultivar essas virtudes em sua própria vida, colocará em risco tanto sua família quanto seu ministério.
- PASTOREANDO A FAMÍLIA E A IGREJA NA PRÁTICA DISCIPULAR
A liderança familiar do pastor não se resume à habilidade de disciplinar ou educar os filhos, mas envolve um compromisso constante de nutrir o relacionamento conjugal, proporcionar segurança emocional e espiritual à esposa e filhos, e criar um ambiente no qual todos possam crescer na fé. Quando o pastor investe tempo e energia para cultivar um casamento saudável e uma família disciplinada, ele estabelece uma base sólida não só para sua vida pessoal, mas também para seu ministério.
O pastor deve, portanto, proteger seu matrimônio, não apenas como uma responsabilidade conjugal, mas como parte essencial de sua missão ministerial.
Por fim, a importância de descansar e ter momentos de lazer com a família não pode ser subestimada. O pastor, muitas vezes, é sobrecarregado por responsabilidades ministeriais, mas ele precisa lembrar que cuidar de sua saúde física, emocional e espiritual é igualmente importante. Momentos de lazer e descanso com a família são essenciais para renovar as forças e restabelecer o equilíbrio necessário para continuar no ministério.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, ao pastorear a família, o pastor está, de fato, construindo um legado eterno para as futuras gerações. O impacto de uma família bem pastoreada vai além do que pode ser visto na vida ministerial imediata; ela influencia a vida dos filhos, da igreja e das próximas gerações. O legado que o pastor deixa em sua casa será o testemunho duradouro de sua fidelidade a Deus e à Sua obra.
REFERÊNCIA
BRIAN & CARA Croft. A família do pastor. Pastoreando sua família em meio aos desafios do ministério pastoral. São José dos Campos: Fiel, 2021.
DE DEUS, Pérsio Gomes. (et al) Fundamentos da teologia pastoral. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. (Coleção Teologia Bíblica).
FENTON, Gary. (Org.) David Goetz. O ministério na maturidade. O melhor ainda está por vir. (Coleção A Alma do Pastor). São Paulo: Vida, 2004.
GUTHRIE, Donald. 1 e 2 Timóteo e Tito. Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2020. (Série Cultura Bíblica).
TRIPP, Tedd. Ame sua família, In.: ASCOL, Tom. Amado Timóteo. Uma coletânea de cartas ao pastor. São José dos Campos: Fiel, 2005. (p.49-60).
SOBRINHO, João Falcão. O pastor e a família. In.: Agora sou pastor! Orientações e conselhos práticos para pastores. Curitiba: A.D. Santos Editora, 2011. (p.77-96)