Pretendo com esse ensaio abordar um tema recorrente no ministério do ensino na Escola Bíblica, isto é, o Plano de aula. Como o professor tem realizado o planejamento de suas aulas na Escola Bíblica? Nosso objetivo é compreender as implicações e possibilidades relacionadas à prática educativa do professor em sala de aula, considerar que essa prática pressupõe didaticamente, um rigor epistemológico e metodológico, cumprida com ética cristã e compromisso com a igreja.
Em uma narrativa das aulas observadas recentemente, percebe-se que alguns professores não dispõem de uma capacitação continuada em hermenêutica na exposição do texto e análise do contexto bíblico, possuem certa dificuldade de estabelecer uma conexão entre o que é essencial no texto bíblico com os exemplos muitas vezes do senso comum, da subjetividade dos sujeitos e com determinados fatos e acontecimentos históricos que não tem relação com o contexto do texto. Ou seja, são períodos distintos com suas particularidades nem sempre considerados no momento da explicação e aplicação para a realidade dos alunos. A contextualização histórica, assim como os aspectos conceituais fazem parte da compreensão do texto bíblico.
De modo que passo a destacar três princípios fundantes: a intencionalidade do processo de ensino aprendizagem, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e o conflito entre os diversos conhecimentos e saberes.
Percebe-se que falta aos professores desenvolver o raciocínio lógico que abrange processos complexos do pensamento, começo, meio e considerações finais ao ministrar aula, a fim de motivar os alunos para a resolução de problemas, proporcionar um encontro e confronto de ideias, conceitos, argumentos e contra-argumentos. Para exemplificar, os alunos se deparam com algo recorrente em uma lição, a fuga ao tema”, isso ocorre quando o professor faz uma pergunta para os alunos que não tem relação com o conteúdo da lição e que ele mesmo responde. Em alguns casos específicos, a fuga ao tema quando essas perguntas são feitas pelos próprios alunos. Nestes casos é importante que o professor faça uma retomada do tema da lição evitando a dispersão e a desatenção na sala de aula.
Ao discorrer sobre o plano de aula: Como o professor tem realizado o planejamento de suas aulas na Escola Bíblica? Ele deve sinalizar para possibilidades e implicações de inovação em sala de aula, identificando algumas trilhas viáveis para o fortalecimento de aulas inovadoras. Não tenho neste ensaio como objetivo, construir um modelo de aula ideal na Escola Bíblica, mas a busca por experiências inovadoras vividas por professores e alunos. Oportunizar aos alunos a construção da autonomia reflexiva baseada no conhecimento, algo que proporcione aos alunos um aprendizado que favorece a compreensão das necessidades básicas e a conexão com sua realidade circundante.
Percebe-se ainda que o olhar do professor é sempre para a sala de aula, nem sempre para o aluno. Há a necessidade de acompanhar o aluno em suas dificuldades de aprender e aprender a Palavra e, em decorrência disso, desenvolver uma aprendizagem individualizada.
Como vem sendo reafirmado nos ensaios anteriores, há a necessidade de repensar uma nova organização desse espaço-tempo na Escola Bíblica, numa perspectiva criativa e inovadora. Uma relação pautada na relação pedagógica é baseada na confiança e na receptividade, no diálogo e no desenvolvimento de habilidades especiais. Raramente se propõe aos alunos atividades práticas na aula.
Compreender os aspectos didáticos e epistemológicos priorizados pelos professores na Escola Bíblica é de fundamental importância para o êxito do ministério de ensino. Quais recursos tecnológicos digitais os professores utilizam com mais frequência em sala de aula? Para exemplificar, cito o notebook e a televisão na medida em que expõe os slides criados do conteúdo da aula. A interação entre o conhecimento e o conhecedor ocorre na medida em que os assuntos vão sendo desenvolvidos, quando os alunos compartilham seu conhecimento prévio e suas experiências. Você já deve ter percebido que essa narrativa das aulas observadas se refere a uma sala de aula de adultos ou idosos, mas pode ser aplicada a uma sala de aula de jovens.
Considera-se que o planejamento do plano de aula permite a reorganização do planejado por parte do professor, a necessidade de realizar uma autoavaliação ao longo do processo, possibilitando aos alunos uma maior compreensão das lições a serem desenvolvidas. Admite-se que nem sempre se considera o próprio ritmo dos alunos, já que alguns aprendem rápido, enquanto outros são mais lentos na aprendizagem. Em alguns casos, falta-lhes um repertório teórico sobre a teologia bíblica, uma breve introdução bíblica entre outros. Diante desta realidade quero sugerir três livros:
- STUART DOUGLAS; D. FEE, Gordon. Entendes o que lês? Um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Vida Nova, 2022.
- PLUMMER, Robert L. Hermenêutica Fiel. Introdução à interpretação Bíblica. 2 ed. São José dos Campos, Fiel. 2025.
- RYKEN, Leland. Uma introdução literária à Bíblia. São Paulo Vida Nova, 2023.
Existem outros bons livros, mas para começar indico apenas esses três livros.
Diante desta proposta de capacitar melhor o professor para o ministério do ensino na Escola Bíblica em nossas igrejas locais, ou até mesmo em nossas Instituições de Ensino teológico, o professor precisa lançar mão de Bíblias de estudo e bons comentários bíblicos. Entre as Bíblias de estudo destaca-se:
BÍBLIA DE ESTUDO DA FÉ REFORMADA. Versão Almeida Revista e Atualizada. 1 ed. São José dos Campos: Fiel e Ligonier Ministries e SBB, 2021; BÍBLIA SAGRADA. Versão revisada. De acordo com os melhores textos em hebraico e grego. Santo André: Geográfica. 2010. BÍBLIA SHEDD. Almeida Rev. e Atual. São Paulo: Vida Nova, 1997; BÍBLIA DE JERUSALÉM. Rev. ampl. Saulo Paulo: Paulus, 2008; BÍBLIA DE ESTUDO NAA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2018. Para o professor sugiro ainda a BÍBLIA DE RECURSOS para o MINISTÉRIO com CRIANÇAS. 2 ed. rev. e atual. São Paulo: Hagnos, 2003; BIBLIA DA ESCOLA BÍBLICA. Para estudar e ensinar com excelência. SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. 3ª ed. rev. e atual. São José dos Campos, Cristã Evangélica, 2017.
Entendo que o plano de ensino na Escola Bíblica indica a possibilidade para se elaborar uma didática específica voltada para a construção de um conhecimento bíblico teológico e ministerial que tem na Bíblia o livro-texto e caracteriza o campo religioso com seus hábitos, crenças, comportamentos e valores éticos de uma cosmovisão cristã. A despeito do arcabouço didático metodológico, todo o processo aprendizagem está centrado na Palavra de Deus, revelação de Deus aos homens.
Neste sentido passos importantes dados pelo professor e alunos consiste: Primeiro: na preparação espiritual, ou seja, o professor e alunos precisam buscar a presença e o conhecimento de Deus, com sabedoria e discernimento espiritual, “ouvi-lo quando Ele se dirige a você”, ter uma vida de oração e uma total dependência divina, isto é, a natureza do serviço como cristão piedoso, “Mas nós nos devotaremos à oração e ao ministério da palavra” (Atos 6.4), servimos à comunidade cristã como discípulos do Mestre. Ele mesmo nos ensina a buscar ao Pai em oração. Segundo: essa preparação, consiste em fundamentar sua prática educativa na Palavra, significa ser ensinável e aprender com a própria Palavra dando testemunho da revelação viva e ativa que Deus faz de si a nós. Terceiro: o professor ao preparar o plano de aula, deve considerar-se como membro integrante de um projeto, ou do programa educacional cristão da igreja. Ele é professor ou aluno de um currículo, ser membro da igreja, não neófito, trabalhar arduamente, com dedicação a fim de equipar os santos. “Estamos preocupados com a ideia de como ler a Bíblia quanto com a necessidade de que ela seja lida”. Quarto e último lugar: a preparação da aula propriamente dita, tem início com a elaboração do Plano de Aula. Neste momento, pressupõe que o professor percorreu um longo caminho de preparação e aprendizado que lhe proporcionou crescimento, amadurecimento espiritual a fim de contribuir para a edificação da igreja e aperfeiçoamento dos santos. Lembre-se que aula é um espaço de diálogo entre os saberes bíblicos fundamentados também nas quatro partes básicas no estudo da Bíblia: 1) Observação, que responde à pergunta: “Que vejo?”; 2) Interpretação, que responde à pergunta: “Que significa?”; 3) Correlação, que responde à pergunta: “Como isto se relaciona com o restante daquilo que a Bíblia diz?” e a 4) Aplicação, que responde à pergunta: “Que significa para mim?”.
Considerou neste ensaio que o plano de aula é um documento indispensável na práxis do professor em sala de aula. Através do seu planejamento, o professor demonstra zelo pelo ministério de ensino que Deus lhe confiou a fim de dedicar seus dons e habilidades para a edificação da igreja e o aperfeiçoamento dos santos.