“Mas ele me disse: A minha graça te é suficiente,
pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
Por isso, de muito boa vontade me gloriarei
nas minhas fraquezas, a fim de que o
poder de Cristo repouse sobre mim” (2Coríntios 12.9)
Ah! O imutável NÃO. Paulo pediu três vezes para Deus retirar seu espinho na carne e ouviu “a minha graça te basta”, o que foi correcional para o até então Saulo, perseguidor zeloso, soberbo, voluntarioso que agia com plena autonomia e autoridade pessoal, até cair por terra no caminho de Damasco e se tornar o vaso escolhido Paulo, conexo só do Altíssimo. Interessante notar que o Apóstolo narra esta negativa no mesmo capítulo em que expõe as visões e revelações do Senhor ao ser arrebatado até o terceiro céu (2Co 12).
Quebrantamento precede a exaltação? Lucas 18.14b: “Digo-vos que este desceu justificado para casa, e não o outro; pois todo o que se exaltar será humilhado; mas o que se humilhar será exaltado”. Onde está a força? Onde reside a fraqueza? Ambas se contrapõem e o não de Deus desmascara o ímpeto que consideramos ter em nós, revela nossa real fraqueza e expõe nossa total dependência da Rocha Eterna. Tiago 4.6: “Deus se opõe aos arrogantes, porém dá graça aos humildes”. Deus não usa o arrogante em sua altivez, antes o quebranta como fez com Moisés, palaciano, instruído por quarenta anos em todas as letras, até matar/ocultar um egípcio, fugindo para Midiã, onde foi desconstruído e moldado por Deus por mais quarenta anos, até ser chamado para Seu propósito no êxodo.
O não de Deus é um ato pedagógico que corrige rotas (Ap 2.5a): “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta às obras que praticavas no princípio”[…], que nos ensina que perdas são necessárias e nos alinha no caminho da conciliação com o Eterno. Meu pai, com sete filhos, dizia que nunca se arrependeu em dizer não e muitas vezes se arrependeu em dizer sim. Com Deus aprendemos a importância do não! Quantos dos nossos problemas decorrem da nossa dificuldade em dizer não e impor limites.
O não de Deus é um ato de amor, pois o Soberano poderia nos dar tudo, mas escolhe dar exatamente o que é necessário e melhor para cada um. “O meu Deus suprirá todas as vossas necessidades, segundo sua riqueza na glória em Cristo Jesus. Ao nosso Deus e Pai seja dada glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (Fil 4.19,20). O que é necessidade? Quantas vezes erramos em dar demais a nossos filhos, mimando e não educando.
O não de Deus é soberano. É a prevalência do agir melhor de Deus para fazer cumprir em nossas vidas seus propósitos desde seu conselho eterno. “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos são os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, os meus caminhos são mais altos que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos” (Isaías-55.8,9).
Ficar descontente com Deus por receber um não é uma prova de não estar preparado para receber o sim. Deus faz vaso novo de cacos quebrados, dá vida a ossos secos, transcende a medicina se lhe aprouver curar, Ele edita a matéria humana, pois dela é criador e sustentador. Quando nosso querer se sujeita/alinha a Deus, não importa se a resposta a cada oração for sim, espere ou não, contanto que a boa mão de Deus faça a sua vontade, permissiva ou volitiva, boa, perfeita e agradável.
O não fecha um ciclo, mas, se ficar difícil demais, então veremos apenas as pegadas de Cristo na areia, pois estaremos seguros em seus braços de amor até a travessia findar. Paulo não ficou resignado com Deus pela negativa, ao contrário, alegrou-se confiado na dimensão da soberania divina, asseverando: “Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração humano, são as que Deus preparou para os que o amam. Deus, porém, revelou-as a nós pelo seu Espírito. Pois o Espírito examina todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus” (1Coríntios 2.9,10). Que seja feita, sempre, a sua vontade, assim na terra como no céu. Amém.