“Passados oito dias, estavam outra vez ali reunidos os seus discípulos, e Tomé, com eles. Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco!” (João 20:26)
Já se passavam oito dias da ressurreição. A rotina dos discípulos pareceria ser reunirem-se à espera de um novo aparecimento de Jesus. Desta vez Tomé está com eles, pois como não havia crido que Jesus tivesse aparecido uma primeira vez (talvez um fantasma (criam nisso! (Mt 14:26)) houvesse aparecido), ele queria agora certificar-se da veracidade dos fatos. Daí os discípulos criarem sua rotina, reunirem-se até que Jesus aparecesse novamente.
Ter uma rotina não é algo, em si mesmo, ruim. Na verdade, precisamos criar uma rotina diária para desenvolvermos nossas atividades. Não é difícil encontrar na internet um passo a passo para uma “rotina diária de sucesso” ou a importância de se ter uma rotina, etc. Encontra-se de tudo! Essa questão de ter uma rotina diária foi estabelecida pelo próprio Deus, quando da criação. O ato da criação em si não foi uma rotina, pois ainda não tinha sido feita e nem foi um hábito de Deus continuar criando dia após dia até agora. Na verdade, Deus não precisa de
rotina, mas nós sim. Assim é que Deus dá uma rotina para Adão, cultivar, cuidar e guardar a criação que acabara de ser criada, onde ele mesmo se incluía. Deus havia estabelecido uma rotina diária, pois na viração do dia, Ele passeava pelo jardim e conversava com Adão. A rotina estabelecida por Deus era algo saudável e necessária para Adão.
Mas, após a queda, a rotina parece ser algo sofrível. A relação com Deus foi alterada e já não é mais tão fácil esse contato com ele. Como é difícil criarmos uma rotina de leitura bíblica e oração diárias! Mas, não só isso mudou, a relação com o trabalho mudou também, pois a partir de então, tudo seria com mais sacrifício e a fadiga tomaria de conta. Até a rotina da geração e criação de filhos mudaria, pois o sofrimento da mulher se multiplicaria. Assim, dia a dia, tentamos estabelecer nossas rotinas nas relações com Deus, com as pessoas, com a criação de forma geral e com os afazeres diários. Acho que dá para incluir também com as redes sociais (quantas pessoas escravizadas!). Algumas rotinas são mais fáceis, outras mais difíceis, de modo que vamos levando a vida.
Com os discípulos não foi diferente. Passaram três anos numa rotina intensa com o Mestre. Quanta coisa aconteceu! Mas agora, estão ali, de novo, reunidos à espera de um novo acontecimento. Após a morte de alguém, corremos o risco de permanecer numa rotina letárgica. O mundo parece desmoronar e a não ter mais significado. É necessário que algo aconteça para que a rotina a que nos submetemos seja quebrada, para que nossa vida tenha outro sentido, para que as relações sejam reestabelecidas. A rotina só muda, quando reencontramos o Senhor Jesus!
Os discípulos experimentaram a quebra da rotina que se seguia. Reencontraram o Senhor que lhes deu novo alento. Esse encontro pode ser inesperado, não importa onde aconteça, mas é necessário. É necessário pois precisamos de sua ajuda para quebrar o que nos prende e partirmos para outra. A rotina a que estávamos submetidos e que trazia sofrimento, no encontro com o Senhor, é trocada pela paz que ele dá. A rotina letárgica é trocada por uma nova que será guiada pelo Espírito Santo. Ele nos envia “para” alguma coisa, somos desafiados
novamente a sair de onde estamos e a vivenciar o novo na relação com Ele, com os outros, com a criação, com os afazeres diários. Encontrar o Senhor Jesus é sempre uma quebra da rotina. Experimentar isso diariamente deve ser nosso desafio!