Setembro Amarelo: Prevenção ao suicídio e abuso infantil na perspeciva teórica bíblica
O movimento Setembro Amarelo surgiu como uma estratégia de conscientização e prevenção ao suicídio, sendo atualmente a maior campanha ante estigma sobre saúde mental no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), o suicídio é uma das principais causas de morte em jovens entre 15 e 29 anos. Nesse contexto, a prevenção não deve se restringir apenas ao combate ao suicídio em si, mas também ao enfrentamento de fatores de risco relacionados, como o abuso infantil, frequentemente associado a consequências psicológicas graves na vida adulta.
A perspectiva cristã, fundamentada nas Escrituras, amplia a compreensão do cuidado integral ao ser humano, destacando a necessidade de proteção às crianças e de acolhimento àqueles que sofrem.
Segundo a OMS (2021), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, e os fatores de risco incluem experiências traumáticas na infância, como violência e abuso. A Sociedade Brasileira de Pediatria (2022) reforça que “crianças vítimas de abuso apresentam maior risco de desenvolver transtornos mentais, baixa autoestima, automutilação e comportamento suicida”.
O abuso infantil, em suas diversas formas — físico, psicológico, sexual e negligência —, compromete o desenvolvimento saudável e pode gerar marcas emocionais profundas. Conforme afirma Minayo (2011, p. 47), “a violência contra crianças e adolescentes é uma das expressões mais cruéis de violação de direitos humanos, com repercussões para toda a vida”. Assim, a prevenção ao abuso infantil se torna também estratégia essencial de prevenção ao suicídio.
A Bíblia apresenta a vida como dom sagrado de Deus e convoca seus servos a proteger os vulneráveis. O Salmo 34.18 afirma: “O SENHOR está perto dos que têm o coração quebrantado; ele salva os de espírito arrependido”, revelando o cuidado divino para com os que sofrem emocionalmente.
No Evangelho, Jesus enfatiza o valor da criança: “Mas a quem fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim seria melhor se lhe pendurassem no pescoço uma pedra de moinho e afundasse nas profundezas do mar” (Mt 18.6). Esse versículo destaca a gravidade de causar dano a uma criança, servindo de fundamento ético e espiritual para a prevenção ao abuso infantil.
Provérbios 31.8-9 exorta: “Abre tua boca em favor do mudo, em favor do direito de todos os desamparados. Abre tua boca, julga com retidão e faze justiça aos pobres e necessitados”. Logo, a proteção da infância é um imperativo bíblico que converge com a responsabilidade social de prevenir a violência e promover saúde mental.
A Igreja é chamada a ser um espaço de acolhimento e segurança. Para além do amparo espiritual, precisa assumir compromisso prático na promoção da vida, combatendo o silêncio diante da dor. Isso inclui:
- Educação e conscientização: palestras sobre saúde mental e prevenção da violência infantil;
- Políticas de proteção: criação de protocolos de segurança nos ministérios infantis;
- Acolhimento pastoral: escuta sem julgamentos e encaminhamento para profissionais especializados;
- Rede de apoio: fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Conforme reforça Freire (2019, p. 22), “o cuidado integral deve articular dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais, numa visão holística do ser humano”.
O Setembro Amarelo é um chamado para a valorização da vida e o cuidado com o sofrimento humano. A prevenção ao suicídio e ao abuso infantil deve ser entendida como responsabilidade compartilhada entre sociedade, Estado, famílias e igrejas.
A luz da Bíblia e da ciência, compreende-se que o cuidado com os vulneráveis é expressão prática do amor cristão e da defesa da vida como dom divino. A igreja, portanto, deve ser refúgio de esperança, atuando como espaço seguro e promotor de saúde integral, para que a promessa de Cristo — “[…] eu vim para que tenham vida, e a tenham com plenitude” (Jo 10.10) — seja uma realidade concreta para todos, especialmente para as crianças.
Referências
- BRASIL. Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Diário Oficial da União, Brasília, 2017.
- FREIRE, L. Cuidado Integral e Espiritualidade: reflexões sobre saúde mental na comunidade cristã. São Paulo: Paulus, 2019.
- MINAYO, M. C. Violência e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011.
- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Suicide worldwide in 2021: global health estimates. Geneva: WHO, 2021.
- SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Abuso sexual na infância e adolescência. Documento científico, Rio de Janeiro, 2022.
- BÍBLIA SAGRADA. Almeida Século 21