Quero iniciar esse artigo para o blog da AECBB afirmando que, no Antigo Testamento (AT) em especial na Torah, os cinco livros do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, levítico, Números e Deuteronômio) onde temos narrativas bíblicas que podem ser consideradas, fundamentos da educação cristã, tomo como divisa o texto de (Deuteronômio 6.3-9), com objetivo de compreender a importância da educação cristã no contexto da família. Espero que possamos refletir sempre que possível nas implicações e possibilidades de se repensar a relevância da família no processo de educar as novas gerações.
Portanto, passo a transcrever o texto para nossa leitura e edificação. Ó Israel, ouve e tem o cuidado de guardá-los, para que vivas bem e te multipliques muito na terra que dá leite e mel, como o SENHOR, Deus de teus pais, te prometeu. Ouve, ó Israel: O SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;” e as ensinarás a teus filhos e delas falarás sentado em casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. “Também as amarrarás como sinal na mão e como faixa na testa;” e as escreverás nos batentes da tua casa e nas tuas portas.
Começo este artigo compartilhando uma releitura que fiz recentemente no livro “Conexões para a vida” (2012, 94-9p.), escrito por Curt Thompson, no capítulo em que o autor faz uma referência a Deuteronômio 6, quando considera que Moisés em sua narrativa “admoesta o povo de Israel a lembrar-se que o Senhor é o único Deus e a amá-lo de todo o coração, de toda a alma e de todas as forças (v. 5). Mas como a nação de Israel deve lembrar-se de Deus? Como a igreja deve ensinar sobre Deus às novas gerações? Percebe-se que “Moisés oferece várias situações do cotidiano em que os israelitas podem construir memórias. Essas atividades não pretendem apenas fazê-los lembrar o passado como do futuro,” mas reconhecer a soberania de Deus no meio de seu povo.
Quero reafirmar que educação cristã tem seus fundamentos na família e, como disse no último blog, tem um papel basilar como instituição educacional, lugar por excelência para a educação dos filhos. Partindo desse pressuposto bíblico e teológico, diria que, a igreja ao desenvolver seu projeto de educação cristã deve ter na família cristã, uma parceria e, ao estabelecer parâmetros para se pensar a educação cristã dos filhos, isso pode ser feito através de uma pedagogia do diálogo com as famílias da igreja, em outras palavras, reúna os pais para traçar essas diretrizes e ações a fim de construir e organizar matriz curricular a partir da realidade vivida pelas famílias da igreja local. Parece algo simples, mas já parou para pensar até quando as famílias da igreja irão ficar ausentes deste processo de participação direta ou indiretamente da educação cristã dos seus filhos?
Ao retomar o texto bíblico de (Dt 6.3-9) percebe-se que Moisés está indicando que os atos de lembrar e contar a própria história afetariam a experiência dos hebreus como comunidade teocrática. Para Thompson (95p.) “lembrar aos hebreus que eles devem empenhar a memória coletiva acerca de como Deus, uma Pessoa real que apareceu na forma de uma coluna de fogo à noite e uma nuvem de dia, realizou milagres tangíveis e terrenos para eles”. As narrativas bíblicas no AT são construídas a partir da dinâmica de trazer à memória, a imaginação das pessoas aos feitos de Deus.
Quero aproveitar a oportunidade e compartilhar rapidamente algumas experiências de como é importante lembrar determinadas narrativas bem como versículos bíblicos por meio de alguns meios e recursos didáticos utilizados pelos professores no processo ensino aprendizagem das Escrituras Sagradas. Você já deve imaginar que estou referindo-me a memorização de versículos, minhas primeiras experiências de memorizar versículos não foram nos tempos de Seminário, mas na Escola Bíblica Dominical (EBD); ou em cursos intensivos com o pastor e missionário Jackson Day e Doris Day, nos livros “Narrativas Bíblicas do Antigo e Novo Testamento”, na década de 1990. Lamento muito que tais práticas educativas têm sido deixadas de lado por muitos educadores, como “arte de contar histórias”.
Considera-se que o propósito de Deus, segundo (Dt 6.3-9) não pretendia que os Dez Mandamentos substituíssem um relacionamento com Ele. Imagine uma família de hebreus reunida em torno de promessas dadas por Deus à nação de Israel, criando hábitos, crenças e mudanças de comportamentos no imaginário e na memória das pessoas. Reconheço que, trata-se da organização cultural ou da cultura organizacional, tipo de educação cristã, de sujeitos e organização social, de uma educação como prática social, para todos, de maneira informal de pensar, uma modalidade de educação cristã que valoriza a família e o papel dos pais, diferente da educação cristã desenvolvida na organização formal de uma igreja local.
Como é relevante para adultos e crianças, jovens e adolescentes ouvirem contar histórias do livramento de Deus no seio de seu povo, o drama do Êxodo sendo compartilhado através de gerações. É na ambiência familiar que os filhos se apropriam uns dos outros, através da oralidade dos pais, de uma escuta atenta e um olhar sensível que permita aos filhos aguçar sua curiosidade, explorar novas habilidades e mudanças de atitudes. Considero que, o espaço do lar, da família deve permitir que todos possam aprender os princípios bíblicos contidos nas Escrituras e, que nunca venhamos subestimar os benefícios que um ambiente saudável pode proporcionar a todos nós quando o assunto principal é glorificar a Deus e edificar a igreja através da participação da família.