Um líder ministerial é formado para exercer sua missão no contexto eclesiástico, mantendo um posicionamento cristocêntrico, mesmo diante dos desafios das perspectivas secularistas e seus pressupostos. Assim, faz-se necessário, conceituar o que se denomina cosmovisão, sua estrutura e finalidade, com o intento de minimizar o impacto da perspectiva secularista na comunidade eclesiástica.
Um olhar sobre o conceito de cosmovisão
A cosmovisão pode ser representada a partir de uma complexa inter-relação da consciência humana com o mundo externo, o qual faz emergir um senso sofisticado de quem é o ser humano e da natureza que existe a sua volta. Somando-se a isso, ela pode conter, ainda, um senso de valores, pavimentando o caminho para uma ordem mais elevada do comportamento prático de cada pessoa a um plano mais abrangente de vida. Naugle (2017, p. 128) fornece um resumo útil para uma compreensão mais ampla do conceito de cosmovisão, ao esclarecer que a estrutura metafísica e moral de uma cosmovisão deriva dos constituintes da psique – intelecto, emoção e vontade.
Assim, percebe-se a necessidade da compreensão da realidade e das estruturas que são inerentes a mente humana (mente, emoção e vontade), como uma estrutura modeladora da pessoa, podendo flutuar acrescentando ou subtraindo ideias, valores e ações consistentes ou inconsistentes e, que apesar dos seres humanos formularem suas perspectivas de vida na mente, nem sempre obtém o resultado esperado, pois a cosmovisão obtida em função da fé, precisa estar ancorada nas águas dinâmicas, as quais estão sempre fluindo dos rios da vida.
Segundo Domingues (2020), uma cosmovisão pode iniciar-se a partir de uma história contada ou de um conjunto de pressuposições de como os grupos sociais tecem leituras da realidade. Um ponto que define a cosmovisão é que ela parte do princípio de um raciocínio lógico, que contém premissas e que serão consideradas verdadeiras ou falsas, diante do resultado apresentado.
Os pressupostos são estruturados de maneira lógica, a fim de que possam ser validados ou não na realidade. Sua validação ocorre por intermédio do grupo social, ao encontrar correlações e correspondências entre as premissas levantadas. As premissas podem ser verdadeiras ou falsas, por isso que cabe analisá-las e confrontá-las com as conclusões desenvolvidas. Pode-se, ainda, entender o conceito de cosmovisão por meio da ilustração de lentes que são utilizadas pelo ser humano para fazer interpretações sobre a realidade. Neste sentido, é possível dizer que, segundo Geisler (2002, p. 188), que a cosmovisão é o modo pelo qual a pessoa vê ou interpreta a realidade. A vida. Influenciando a maneira em que a pessoa vê Deus.
Assim, a partir do conceito exposto, pode-se compreender que a cosmovisão que permeia a vida da pessoa e que envolve aquilo que cada indivíduo é, o que ele defende, o que ele vive, está pautado nas razões e nos sentimentos que dão sentido às interpretações efetivadas. Sire (2019, p. 179) desenvolve um conceito que vai mais além de leituras, visto que na sua percepção a cosmovisão não atinge apenas o esquema mental, mas alcança profundamente o coração, ou seja, aquilo que cada ser humano atribui valor para a existência e que provê o fundamento sobre o qual vivemos, nos movemos e existimos.
O conceito de Sire introduz o tema da narrativa, que se fundamenta em pressupostos, embora ressalte o desejo do coração, bem como o sentido da vida e das respostas essenciais. Ele defende que a cosmovisão a partir de uma história narrada e de um conjunto de pressupostos, possibilita aos grupos sociais se moverem, viverem e existirem, visto que elas pavimentam o caminho que sustentará o modo de pensar a realidade. A cosmovisão, então, faz parte da vida.
Diante deste conceito, compreende-se que a cosmovisão não faz parte de teorias abstratas, visto que está envolvida com a necessidade de o ser humano encontrar e dar respostas a situações que incomodam e afetam as suas certezas, tendo em vista que a sua finalidade é obter significados para viver e continuar vivendo. A cosmovisão parte do princípio de que é necessário a utilização de lentes distintas de interpretação sobre a realidade, que buscam refletir o posicionamento de diferentes grupos sociais, os quais defendem seus pressupostos que ultrapassam defesas ideológicas.
Referências
PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: libertando o Cristianismo de seu cativeiro cultural. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
GEISLER, Norman L. Enciclopédia de apologética: resposta aos críticos da fé cristã. São Paulo: Editora Vida, 2002.
SIRE, James W. Dando nome ao Elefante: cosmovisão como um conceito. Tradução Paulo Zacharias e Marcelo Heberts. Brasília, DF, Editora Monergismo, 2019, 246 p.
DOMINGUES, Gleyds Silva. Diretrizes para a Educação Cristã Bíblica: para onde vamos? Curitiba: Editora Emanuel, 2018.
DOMINGUES, Gleyds Silva. Visão de mundo e a lente bíblica para ler a realidade. 1ª Ed.: Curitiba, Discipular, 2020.
NAUGLE, David K. Cosmovisão: a história de um conceito. Tradução Marcelo Heberts: Brasília, DF, Editora Monergismo, 2017. 488 p.