Para início de conversa, é importante deixar claro que a Filosofia da Educação tem como objetivo principal aportar questionamentos no que diz respeito à educação e as suas peculiaridades. Assim, a Filosofia da Educação auxilia o educador a ter uma perspectiva mais ampla sobre o seu ofício, quando se pergunta sobre o significado desta para o ser humano.
Em uma perspectiva filosófica, para a análise de questões que permeiam o âmbito educacional, é preciso resgatar o sentido da admiração e da indagação, ou seja, é necessário construir uma atitude filosófica. Nesse sentido, nas palavras de Chauí (2004, p. 12) “A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não aos pré-conceitos, aos pré-juízos”, assim sendo, para Chauí (2004, p. 12), construir uma atitude filosófica “é colocar entre parênteses nossas crenças para poder interrogar quais são suas causas e qual é o seu sentido”. E, desse modo, resgatar a busca da verdade que sempre esteve presente no ser humano.
Na visão de Buzzi (2000), uma experiência educativa fundamentada em uma perspectiva filosófica pressupõe a inquietação. Esta acende em nós o desejo de ver e conhecer. Nada que não nos afete, mas, de alguma maneira, mobiliza-nos em nossa prática docente. Por exemplo, podemos passar por um mendigo pedindo esmola na rua indiferente à situação, pois o fato não nos diz nada, não nos afeta, não nos inquieta. Assim, da mesma forma podemos avaliar o processo de aprendizagem de um aluno, sem levar em conta a vida deste sujeito, ou a maneira como este aluno aprende, ou mesmo a situação existencial deste educando.
Em se tratando do ensino na Igreja, para uma análise profunda do processo de ensino-aprendizagem, o educador cristão precisa reavaliar seu pensamento e prática com relação às questões fundamentais da educação cristã, questões estas que devem ser levantadas por estes educadores, antes de se construir e adotar uma teoria e prática educacionais. Nesse sentido, a Filosofia da Educação pode auxiliar o educador a ter uma perspectiva mais ampla dessas questões.
Para Pazmiño (2008), a tarefa preliminar do educador cristão é formular uma visão cristã de mundo que terá implicações diretas na educação. O meio para desenvolver essa visão do mundo é a disciplina da Filosofia. A seguir, a título de ilustração, analisamos algumas considerações filosóficas da tendência pedagógica progressista de Paulo Freire e a sua aplicabilidade para o ensino cristão.
De acordo com Libâneo (2013), por conta das propostas progressistas de Paulo Freire enfocarem mais a educação das classes menos favorecidas, fora dos muros educacionais (educação não formal), suas ideias, princípios e práticas, muitos docentes direcionaram seus trabalhos para essa abordagem. Pode-se afirmar que, alguns desses pontos relevantes, que fizeram refletir a prática pedagógica de muitos docentes, foram: (i) a valorização da vida diária do educando; (ii) uma educação voltada à consciência crítica do aluno através da teoria e prática; que o aluno se torne sujeito de sua própria história; (iii) a relação amigável entre professor e aluno; o docente como mediador entre educando e o objeto de estudo; e (iv) a realidade social sendo desvendada pelos conteúdos de ensino.
Desse modo, para o autor, o ser humano assume um papel ativo no processo de ensino-aprendizagem, ou seja, essa tendência explora, para além dos conteúdos programáticos, as experiências do aprendiz, as suas necessidades e os seus interesses. Ademais, propõe que a aprendizagem se dê de forma cooperativa e articulada entre discentes e docentes.
Em relação ao ensino cristão, Pazmiño (2008) reconhece as contribuições de Paulo Freire, no sentido de focalizar a figura do aprendiz no âmbito do ensino. No entanto, pontua a limitação dessa tendência, pois apresenta uma visão otimista do ser humano e não considera os efeitos do pecado sobre a vida do estudante, ou seja, a dimensão espiritual é deixada de lado. Logo, o educador cristão deve inserir este componente em seu planejamento e, inclusive, considerar a ação do Espírito Santo em sua práxis docente. Visto que a libertação do educando não deve ser restringida às esferas social, política e econômica (proposta de Paulo Freire), mas, no caso do ensino cristão, tem que atingir, também, a transformação espiritual do ser humano, em termos de regeneração e santificação. Portanto, conforme Pazmiño (2008), o educador cristão, a partir de uma visão mais ampla, deve aportar todas essas variáveis em sua missão na Educação Cristã.
REFERÊNCIAS
BUZZI, A. Introdução ao Pensar: O Ser, o Conhecimento, a Linguagem. 27 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo, SP: Ática, 2004.
PAZMIÑO, Robert. W. Temas fundamentais da Educação Cristã. 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.