Estudo Expositivo em Efésios 4.11-16
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A unidade e a diversidade de dons na igreja, numa abordagem bíblico-teológica fundamentada em Efésios 4.11-16, visam orientar e direcionar a liderança da igreja para uma eclesiologia e uma filosofia de ministério saudáveis, equilibradas e discipuladoras. Trata-se de um estudo necessário para as igrejas de Cristo. Os versículos 11-16 de Efésios contêm “125 palavras, constituindo a sétima das oito frases longas de Efésios”. Temos diante de nós, um tratado teológico, de uma teologia do ministério pessoal, na comunidade de fé, é a dinâmica do ministério de Deus à sua igreja através dos séculos.
Neste breve estudo bíblico, iniciarei uma exposição do texto de Efésios 4.11-16, com o objetivo de compreender as principais implicações práticas e possibilidades para a manutenção da unidade e da diversidade de dons no contexto da igreja, a partir dos propósitos de Deus. Reconheço que muitas pessoas na igreja não têm ainda hoje uma noção clara de sua identidade como discípulo. Falta-lhes a compreensão que cada crente é chamado, capacitado e dotado por Deus para continuar a obra de Jesus. Quero encorajá-lo a seguir em frente. Primeiramente, pretendo refletir sobre a ideia de que os ministérios são desenvolvidos por pessoas designadas por Jesus.
I MINISTÉRIOS SÃO DESENVOLVIDOS POR PESSOAS DESIGNADAS POR JESUS (v.11)
E ele designou uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres.
Tradução: “A saber, ele deu alguns para serem apóstolos, e alguns para serem profetas, e alguns para serem evangelistas, e alguns para serem pastores e mestres.”
Comecemos com duas perguntas fundamentais: Quem foi designado às igrejas? Todos. Por que Jesus dotou pessoas “leigas” na igreja conforme descrito em Efésios 4.11-12 para os ministérios? No versículo 11, “E ele”, ou seja, Deus é a fonte de todos os dons. “E ele designou” – é o agir e a sabedoria de Deus sobre a missão confiada à igreja na medida em que Ele coloca as pessoas dentro da igreja com um propósito. Certa vez ouvi de um irmão: “existem igrejas sem professor para ensinar a Bíblia”. Por quê?
Entendo que Deus atua na missão da igreja com sabedoria e graça no aperfeiçoamento de pessoas às quais concede dons para unificá-la e edificá-la. O apóstolo Paulo, ao escrever suas cartas, explica a importância dos diversos ministérios desenvolvidos na igreja local e entre seus membros. Há uma variedade de dons espirituais. Vale lembrar que a palavra “dom” ou “dons” não aparece diretamente no texto bíblico, mas subentende-se que estamos falando de dons específicos concedidos à igreja por meio das pessoas que os recebem. Paulo faz referência aos dons no versículo 7.
Contudo, diante de tantas demandas hodiernas por uma liderança qualificada, performance e engajamento, a manutenção da unidade e da diversidade de dons no contexto da igreja tem sido secundarizada e secularizada, ou seja, colocada em segundo plano, sem padrões bíblicos. É necessário compreender que qualquer ministério é designado por Deus, por iniciativa divina, no contexto da igreja. Diria que tanto a igreja como a sociedade, necessitam dos ministérios do povo de Deus.
Portanto, não deveria faltar professor para ensinar a Bíblia, pregadores, ou pessoas para celebrar a Ceia do Senhor e o batismo, já que “Deus designou pessoas com diversos dons para a igreja”. O que pode estar faltando é o desenvolvimento dos ministérios de intercessão, misericórdia, compaixão e graça, além de uma obediência humilde por parte da igreja e uma maior dependência de Deus.
Retomando Efésios 4.11-16, percebemos que, na perspectiva do apóstolo Paulo, esses eram os ministérios desenvolvidos na igreja do primeiro século. Ele usa a expressão “alguns” para se referir aos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Leia também Romanos 12 e 1Coríntios 12.28.
Percebe-se que em Efésios 4.11-16, não se trata de uma lista completa de dons, mas de dons suficientes para fazer a igreja crescer. Ou seja, trata-se de “pessoas com dons claramente diferentes”. A ideia central deste trecho é a distribuição de dons à igreja, dons estes concedidos para unificá-la. Ainda que o Espírito Santo não seja mencionado explicitamente, sua atuação é pressuposta, como vemos em 1Coríntios 12.4-11, 28.
Atualmente, na igreja local, os ministérios mais evidentes são o do pastor, dos professores da Escola Bíblica, do ministro de louvor e adoração, de missões e evangelismo, e do educador cristão, entre outros. Temos, portanto, a provisão: pessoas capacitadas com dons (v.11), ou seja, diaconia – serviço cristão. Lembre-se: Paulo está listando dons, não ofícios. É curioso notar que o termo “ofício” nunca é usado no Novo Testamento em relação aos dons. Neste momento, passo a fazer uma explanação dos ministérios:
. Apóstolos
John Stott (2019) aponta que o termo “apóstolo” tem três significados principais no Novo Testamento: (1) em um sentido genérico, como mensageiros (Jo 13.16); (2) como apóstolos das igrejas (2 Co 8.23), missionários enviados por igrejas locais; (3) como apóstolos de Cristo – os Doze. Paulo parece usar o termo neste último sentido, referindo-se a si mesmo (Ef 1.1) e aos demais apóstolos como fundamento da igreja (Ef 2.20; 3.5). Assim, em sentido estrito, apóstolos são aqueles que andaram com Jesus durante seu ministério terreno, testemunharam sua ressurreição e foram comissionados por Ele. Nesse sentido, não há apóstolos hoje, embora alguns assim se autodenominem.
. Profetas
Timothy Keller e Richard Coekin (2019) afirmam que Paulo se refere aqui aos profetas do primeiro século, assim como em Efésios 2.20, que preservaram a fé junto aos apóstolos fundadores, até a formação do Cânon do Novo Testamento. Stott também afirma que o profeta era um porta-voz de Deus, veículo da revelação direta. Assim, ninguém hoje pode reivindicar autoridade profética comparável à dos profetas bíblicos. O ensino apostólico e profético do Novo Testamento é o fundamento da igreja (Ef 2.20; 3.5).
. Evangelistas
O evangelista era aquele que proclamava as boas-novas. Em especial, era um missionário que levava o evangelho a novas regiões. Stott observa que, embora todos os cristãos tenham a obrigação de testemunhar, o dom de evangelista é concedido a alguns como capacitação específica para tal obra.
. Pastores e Mestres
A imagem do pastor com seu rebanho retrata o relacionamento entre o líder espiritual e a comunidade. As expressões “pastores e mestres” podem designar um só grupo (pastores ensinadores) ou dois ministérios distintos, mas relacionados. R.C. Sproul comenta que ambos os termos podem se referir a um único grupo ou a funções distintas. Seja como for, toda igreja precisa de um corpo de professores capacitados na Palavra de Deus para promover um crescimento equilibrado e saudável.
O professor é um discipulador, servo obediente e humilde. Os líderes da igreja local devem investir na capacitação continuada de pessoas, promovendo troca de experiências e aprendizado mútuo. “Todos têm um dom, mas nem todos têm um ofício.”
Embora todos os pastores devam ser mestres, nem todos os mestres cristãos são necessariamente pastores. Eles continuam sendo responsáveis por exortar, encorajar e advertir os crentes, por meio da exposição da Palavra de Deus (2 Tm 4.1-2).
Todos os dons mencionados estão, de alguma forma, relacionados ao ministério de ensino. Nada é mais necessário para a edificação da igreja em qualquer época do que uma ampla oferta de mestres capacitados por Deus. Você tem orado pelos evangelistas, educadores cristãos, pastores, mestres e missionários da sua igreja?
As igrejas precisam se conscientizar de que são verdadeiras “escolas de Cristo” no desenvolvimento de ministérios e ministros saudáveis. Os dons são concedidos por Deus para unificar a igreja. Que lições práticas podemos extrair do versículo 11 e aplicar em nosso ministério na igreja? Que relação tem com o sacerdócio de todos os crentes?
Na próxima etapa da exposição, refletiremos sobre como as pessoas estão sendo aperfeiçoadas para a obra do ministério a fim de edificar a igreja na contemporaneidade.
