Não faz muito tempo que se assistiu a polêmica em relação à cerimônia de abertura das Olimpíadas e que foi gerada a partir da sua aproximação com um quadro famoso de Leonardo da Vinci, denominado “A última ceia”, muito mais que a alegoria do quadro de Giovanni Bellini “A Festa dos Deuses, apontada pelos organizadores. Basta analisar a disposição dos personagens nos dois quadros para identificar a intenção concretizada.
De fato, isso desencadeou discussões na sociedade, alguns defenderam que se tratava de uma cena artística, como se fosse uma releitura de um dado histórico ocorrido no campo das expressões, como se fosse um rememorar de uma festa pagã, dedicada aos deuses. Outros, porém, advindo de uma parcela expressiva da população e representada pelos cristãos, tiveram um posicionamento contrário, motivado pela indignação, o qual manifestaram sua não conformidade com tal representação.
Apesar de os organizadores defenderem a ideia da diversidade, da inclusão e de outras pautas, é com espanto que se constata que tais “valores” caem por terra, quando um atleta do surf brasileiro tem impressa em sua prancha a imagem do Cristo Redentor, sendo essa considerada religiosa e, portanto, discriminatória. É muita contradição, principalmente, por ser uma expressão também artística e cultural, uma marca da brasilidade, identificadora de um povo, de um estado.
Pode-se presumir a existência de dois pesos e duas medidas no processo de avaliação de medidas ou decisões impostas, ou seja, quanto a decidir se a obra é ou não representativa de uma identidade/confessionalidade. É como se não pudesse ter isso expresso por ser ofensivo ao outro. A representação é válida, desde que não envolva temas afetos à religião, porém, isso só evidencia mais uma controvérsia, pois o quadro eleito pelos organizadores, não envolvia um tema religioso?
Ainda, é interessante pontuar que se o artifício da releitura, fosse utilizado por parte desta mesma parcela indignada de cristãos sobre outras pautas da sociedade, a repercussão social seria outra. É bom defender o direito de um outro, desde que esse não seja cristão. Esta situação não deveria ser vista com surpresa pelos cristãos, muitos são os exemplos de personagens no decorrer da história (discípulos de Cristo, Policarpo, Bonhoeffer, Luther King e a lista continua), que sofreram perseguição, difamação, execução, escárnio, contudo, isso não foi suficiente para que negassem a sua fé. Antes, identifica-se o fortalecimento das convicções daqueles que fundamentam a sua razão de viver em Cristo.
Infelizmente, as controvérsias vão continuar e se intensificarão na sociedade, principalmente, porque elas são discordantes da ética cristã, que pauta o modo de viver como discípulos que amam e servem ao Mestre. Esse modo de viver necessita estar alicerçado no compromisso de ser sal e luz do mundo, por isso que incomoda e ofusca as inverdades e as incoerências apregoadas e defendidas por diferentes meios presentes na sociedade.
Não se pode ficar passivo diante dos acontecimentos que ocorrem na sociedade, antes, é essencial que se exerça a voz profética, anunciando e denunciando o que se opõe à vontade de Deus. É preciso, sim, mostrar indignação em amor, combatendo as ideias com a verdade de Cristo ao mostrar que existe algo maior que motiva a ação. Não é apenas defender dogmas religiosos, mas testemunhar sobre a mensagem que evidencia o plano providencial de Deus para a humanidade.
É preciso mover-se pela compaixão, entristecer-se por atitudes dissonantes, controvertidas e que desagradam a Deus. É interceder pelas pessoas, a fim de que possam conhecer de fato a real liberdade que transforma mente e coração. Por isso, que não cabe silenciar, mas evidenciar o propósito de viver com uma missão. Indignar-se é legítimo, mas ao mesmo tempo, compete amar com intensidade em Cristo, a fim de que se possa alcançar pessoas.
O episódio ocorrido só evidencia que a mensagem de Cristo constrange a tal ponto de se produzir um movimento de ataque, mesmo que seja em nome de uma pretensa releitura. Isso, ainda, demonstra que a mensagem do evangelho é viva, significativa e eficaz, porque ela confronta, inquieta, traz à luz sobre a natureza das atitudes que se alicerçam numa falsa liberdade, mas que de fato, é um aprisionamento.
Somente em Cristo é que se experimenta a verdadeira liberdade. Liberdade que não ultrapassa os limites da ética e que gera vida. Nela, os impactos são positivos, não causam estranheza, vergonha e nem reprovação. Antes, ela significa os relacionamentos a partir do amor de Deus. E isso faz toda a diferença na convivência com o outro.
Testemunhar a verdade em Cristo, é uma forma de evidenciar o amor de Deus. Posicionar-se, é um modo de dizer sim para a vontade de Deus e obedecer aos seus mandamentos e princípios. E, exercer a voz profética, é uma maneira de reação que produz arrependimento e mudança de atitude.
Do episódio, ainda, é preciso esclarecer que sinaliza o quanto a mensagem de Cristo causa impactos à vida humana e em seu desdobramento na sociedade, porque requer uma decisão, de negar-se a si mesmo, ou seja, o “eu”, no que diz respeito aos desejos e aos prazeres. É decidir-se por algo maior que não se limita à vontade particular do ser humano. Reside aqui a diferença do que o apóstolo Paulo afirmava de viver para Cristo e de reconhecer a sua soberania sobre toda e quaisquer circunstâncias.
Como é bom ter a certeza de uma esperança viva e de prosseguir crendo na verdade de Cristo. Com certeza, isso traz incômodos, porque não se vive para si mesmo, mas para aquele que se entregou em amor para que se pudesse ter vida e essa, eterna. De fato, como peregrinos, é preciso combater o combate, enfrentar as batalhas na força daquele que governa e sustenta todas as coisas, Deus. Essa é a garantia de uma vitória certa, mesmo que pareça aos olhos humanos incerta.