“De novo, Pedro o negou, e, no mesmo instante, cantou o galo.” (João 18:27)
Ainda escuro, lá estava ele todos os dias cantando. Para ele, com certeza, era a forma de avisar que o dia já raiava e estava na hora de levantar. Esta cena se repetiu por todos aqueles dias que, de férias, visitávamos papai. Victor era pequeno, mas ele ainda lembra do galo que cedinho ia bem em frente de nossa janela dar o seu bom dia. Como eu queria dar um sumiço naquele galo, pois ele me lembrava todos os dias, bem cedo, que estava na hora de acordar, mas depois de afugentá-lo duas ou três vezes, voltávamos a dormir. Ele bem que poderia ter uma programação para o período de férias!
O galo dá o aviso de que o dia já vai raiar ou está raiando. Já não vemos muitos galos fazendo isso, pelo menos os que moram nas cidades. Temos outras formas de avisos para nos “despertar do sono”. O canto do galo foi o aviso que Jesus deu a Pedro, para lembrá-lo que Ele, Jesus, sabe todas as coisas. Pedro diz ao Mestre: “Senhor, por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a própria vida”, mas Jesus reconhecendo que ele faria isso mesmo diz que ele não somente o seguiria, mas que também o negaria. João não nos dá detalhes de como
Pedro se comporta com o que acabara de ouvir.
Estamos sempre prontos a condenar Pedro porque ele negou a Cristo. Mas Pedro foi o que tentou não abandonar a Cristo durante o momento mais difícil. Pedro queria provar para ele mesmo, para os outros e para o seu Mestre que ele cumpriria o que acabara de falar. Ele estava disposto mesmo a dar sua vida pelo seu Mestre, pois quando toda a turba vem para prender o seu Senhor, Pedro foi o único que se levantou e puxou da espada. Imagina o que um único homem poderia fazer contra um regimento armado e várias outras pessoas prontas para briga! Mas não somente isso, Pedro sabendo dos riscos que corria, continuou seguindo seu Mestre e foi junto até o local em que poderia ser reconhecido e preso também. Ele estava disposto de fato a dar a vida por seu Senhor!
Os outros discípulos não fizeram o que Pedro fez, mas fugiram e se esconderam. Aproveitaram a deixa que Jesus deu quando disse à turba que se estavam atrás dele, que deixassem os outros irem. Mas, Pedro, não! Quer ir até o fim. Ele não dá atenção ao que o Mestre lhe fala de que ele não pode fazer por suas próprias forças. Mas o galo vai cantar e lhe avisar que ele está errado. Quando o galo canta, Pedro reconhece que o seu Senhor tinha razão e que ele não poderia lhe dar sua própria vida sem antes deixar de lado sua autossuficiência. Pedro agiu assim o tempo todo, estava sempre pronto para fazer por suas próprias forças qualquer coisa. Mas Jesus lhe mostra que não é bem assim. O canto do galo vai mostrar. No Evangelho de Lucas é relatado que Jesus olha para Pedro neste instante e Pedro, desolado, chora amargamente.
O canto do galo está o tempo todo nos avisando dos nossos erros. Mas boa parte das vezes abafamos seu canto porque queremos continuar fazendo o que fazemos. Baixamos a cabeça, não como uma forma de reconhecimento do erro e lamento pelo mesmo, mas para não fitar nosso Senhor que nos olha com compaixão e acolhimento. Pedro deve ter passado o resto daquela noite chorando e se lamentando, mas como disse o salmista, “ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5b). Pedro acordou arrependido para um novo dia e mais à frente, quando se encontrará novamente com seu Senhor ressurreto, será questionado pelo amor que declara ter. Se não temos um galo que cante de manhã cedo para nos acordar, temos outras formas de aviso. A Palavra de nosso Senhor é uma delas e pode até ficar fechada, mas o Seu Santo Espírito habitando em nós não deve ser calado. Precisamos ouvi-lo sempre e saber que somos limitados e precisamos da ajuda de nosso Senhor!