Sabe-se que a “contemporaneidade volta seus olhares para o futuro, e nessa direção, busca formas mais objetivas para antecipá-lo ou pelo menos, identificar os fatos que dele fazem parte”. A partir dessa premissa, posso afirmar que, estamos vivendo uma transição paradigmática. Essa premissa é o ponto de partida, ou seja, (de que lugar estamos falando) e de chegada (onde queremos chegar). Diria que a gestão do conhecimento em educação cristã, pressupõe um aprofundamento das Escrituras, juntamente com as habilidades da exegese bíblica e a capacidade de aplicabilidade à realidade das pessoas, com isso estou dizendo que será necessária uma ênfase na formação pessoal, espiritual e ministerial do educador cristão e não apenas na função laboral.
Como vimos, essas sociedades eram mais estáveis, invariantes, mutáveis e dinâmicas. Segundo Sigmund Bauman temos algo vinculado a Modernidade sólida, estável e segura, que termina, isto é, “o colapso gradual da crença moderna de que há um fim no caminho em que andamos, de que há um estado de perfeição a ser atingido no futuro”; diferentes do modelo de sociedade que temos hoje, mais instável, incerta e insegura – Modernidade líquida. As pessoas tendem a acreditar em um cenário estático, olham para trás, e não para a frente. Elas são mais reativas e menos proativas.
Ao mesmo tempo em que lançamos nosso olhar para um cenário em que a tarefa de educar (conduzir o outro) era algo pleno de sentido e uma ênfase na vida prática, no caráter, na santidade do fiel, reafirmo que aprender a Palavra precisa ser algo pleno de sentido para o cristão, algo que o prepare para uma vida de santidade, fé e amor ao próximo, já que deparamos com cenários em que os sujeitos se apresentam individualistas, secularizados, competitivos e agressivos. Esse é sem dúvida um cenário que os pastores e educadores cristãos terão que lidar (que desgastam as instituições tradicionais como a família, igreja e a escola).
Segundo Tom Sine (p.32) três graves crises ameaçam a capacidade da igreja de realizar a sua missão: “1) uma crise de previsão – a incapacidade de levar a sério o futuro; 2) uma crise de visão – a incapacidade de levar a sério o futuro de Deus; e 3) uma crise de criatividade – a incapacidade de levar a sério a imaginação que Deus nos deu”.
Esse cenário de crises nos incita de modo tão eficaz, o desfrute imediato, falta de vínculos afetivos, relativizam valores e o consumo do efêmero e desenfreado. Estamos vivenciamos a derrocada das velhas certezas em torno da educação cristã? Ao invés de influenciar, estamos nos deixando influenciar. “Portanto, irmãos, exorto-vos pelas compaixões de Deus que apresenteis o vosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém; mas que pense de si com equilíbrio, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12.1-3).
Em outras palavras, que influência temos exercido na sociedade com o nosso modelo de ensino ministrado em nossas igrejas? Nosso ensino não tem sido relacional, mas instrumental, pragmático. Segundo (WAGAR, apud LITTO, p.61), “não é missão da educação preparar os alunos agora para viver num contexto futuro, pensando não apenas nas suas vidas pessoais e profissionais, mas também nas sociedades em que pretendem viver?”.
Quando a igreja se verticaliza, isola-se e deixa de influenciar, não há o que ensinar (sentido etimológico de marcar com um sinal) aos outros, de “salvar”, mas quem? […] “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21). Conforme Sine Tom (2001,p.178) reconhecer que devemos perguntar: “por que temos tão pouca influência sobre a cultura secular? Aparentemente não somos diferentes daqueles que não frequentam a igreja”.
Um breve percurso histórico para perceber que a partir do Renascimento começa a surgir uma preocupação com o futuro. Atualmente, o tempo vivido coloca-nos diante de um “contexto em que tanto a vida mental humana, quanto a vida orgânica do homem pode ser reproduzida tecnologicamente e clonadas? ”
Aproveitando para caracterizar esse nosso tempo, e dizer que, vivemos o tempo da Celeridade, sig. “rapidez ou agilidade; qualidade de quem ou do que é rápido, veloz e …”, Volatilidade, sig. “Qualidade do que sofre constantes mudanças; característica do que é …”, Simultaneidade, sig. “Característica ou particularidade do que é simultâneo…”, Temporalidade, sig. “Qualidade do que é provisório; interinidade”, Pluralidade, sig. “Diversidade cultural; condição do que existe em grande quantidade; fato de não …”, Complexidade, sig. “Característica do que é complexo, de difícil compreensão ou …” e do Individualismo, sig. “Tendência a não pensar senão em si, a libertar-se de …” e outros.
Vivemos em uma sociedade que se torna pós-cristã onde nossas igrejas se encontram em regiões urbanas, com gestão e organização eclesiástica, pastoral, litúrgica, missiológica e educacional diferentes umas das outras, vivendo política e econômica sob a influência da mundialização de ideologia neoliberal do mundo do trabalho. Muitas dessas questões ainda não fazem parte do nosso discurso. Dito isso, entendo que cada igreja precisa descobrir seu chamado para o ministério e refletir a diversidade do Reino em um mundo secularizado.
Nenhuma sociedade poderá subsistir sem formar em seus membros, certos valores, seja no contexto familiar ou eclesial. Como vimos o cristianismo imprimia nas pessoas a necessidade de ser catequizadas, na doutrina e na disciplina, isso cunhava a identidade, autenticidade e reconhecimento da educação cristã entre os pagãos do primeiro século. Atualmente essa tarefa é atribuída a quem?
Com relação a igreja diria que, tentar ajustar-se sempre aos diferentes cenários, atemporalidade do ministério pastoral, a ausência de um ministério de educação cristã, pressupõe desconhecer que, as igrejas são diferentes, porque se acham em cenários diferentes, mas “se ajustar às mudanças da sociedade” poderá trazer dificuldades, ao contrário deve se manter firme à Palavra, mesmo porque “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”, (Hebreus 13.8)
Os cenários são múltiplos, plurais, isso coloca-nos diante do desafio de educar em tempos incertos, pós pandemia. Nós educadores devemos ser como “Do povo de Issacar, duzentos de seus chefes, conhecedores dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer”. (1Cr 12.32). Quando me refiro a cenários múltiplos e plurais, estou entendendo aspectos relacionados ao campo social, político, econômico, religioso e educacional. O pastor e o educador cristão precisam transitar entre diferentes campos a fim de entender os diferentes cenários e sua influência sobretudo sobre o campo religioso.
Entendo que é impossível dissociar o ministério pastoral e de educação cristã desses múltiplos cenários, bem como do princípio de indissociabilidade da figura do educador cristão com os demais ministérios no contexto da igreja local. Não há educação cristã neutra. Em contrapartida, restringimos a educação cristã à igreja, aos limites da igreja, a “quatro paredes”, com isso é impossível pensar um projeto de transformação da sociedade. Sabe por quê? Porque estamos vivendo o mundinho do “Pequeno Príncipe”.
REFERÊNCIAS
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LITTLEJOHN, Robert; EVANS, Charles T. Sabedoria & Eloquência. Um modelo cristão para o ensino clássico. São Paulo: Trinitas, 2020.
MORAIS, Regis de. Educação contemporânea. Olhares e cenários. Campinas: Alínea, 2003. (Coleção educação em debate)
PETERSON, Eugene H. O caminho de Jesus e os atalhos da igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. (Série – Teologia Espiritual)
SINE Tom. O lado oculto da globalização. Como defender-se dos valores da nova ordem mundial. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
STETZER, Ed; PUTMAN, David. Desvendando o código missional. Tornando-se uma igreja missionária na comunidade. São Paulo: Vida Nova, 2018.
TAVARES, José. O poder mágico de conhecer e aprender. Brasília: Liber Livro, 2011.
THIESEN, Juares da Silva. O futuro da educação. Contribuições da gestão do conhecimento. Campinas: Papirus, 2011.