A violência contra a mulher é um problema alarmante que afeta a sociedade como um todo, incluindo as comunidades cristãs. Dados estatísticos destacam a gravidade desse problema no Brasil, onde a violência doméstica atinge níveis alarmantes, com um aumento significativo em 2022. O estudo “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil” revelou que, em média, 50 mil mulheres sofrem algum tipo de violência todos os dias, incluindo violência psicológica. Esse cenário é ainda mais preocupante para mulheres negras, de baixa escolaridade, com filhos e em determinadas faixas etárias. Além disso, a pesquisa aponta que 8 em cada 10 crimes de feminicídio são cometidos por parceiros ou ex-parceiros da vítima, e a motivação subjacente é a desigualdade de gênero.
A igreja, também está sujeita a essas questões, e as estatísticas revelam que, em alguns casos, cristãos podem compartilhar padrões de comportamento semelhantes aos da sociedade em geral, como divórcio, violência doméstica e materialismo. Eu escrevi um ebook chamado ‘Viúvas de Maridos Vivos: Quebrando o Silencio” disponível em https://abadellas.kpages.online/aba-dellas, onde busco trazer luzes para o assunto, tão recorrente e encoberto em nossas igrejas por medo, falta de acolhimento eficaz, o que vem causando mais dor e famílias não tratadas na igreja. É hora de enfrentar o problema com honestidade. É imprescindível, que a igreja conheça as formas de abusos e violência doméstica, que podem ser: física, psicológica, sexual, digital, econômica, patrimonial, institucional, moral e feminicídio. Para que identificando uma mulher em sofrimento, possa agir.
A atuação do educador cristão é essencial, para fomentar a educação na prática, sobre a não violência nos lares. Essa temática deve ser abordada nos encontros de casais e no aconselhamento pré-nupcial. Eu acompanhei um casal que, apesar de ter crescido em lares cristãos, enfrentou dificuldades devido a padrões de masculinidade tóxicos e falta de educação financeira. No entanto, com a orientação adequada e apoio pastoral, eles puderam reconhecer a agressão e buscar soluções para a violência financeira e psicológica em seu casamento.
Promover a masculinidade baseada no exemplo de Jesus Cristo, na compaixão, e no amor sacrificial são fundamentais. Para isso, é necessário ensinar homens a retornarem para seus lugares de homens no padrão bíblico. Assim como as mulheres em sofrimento, precisam se ver, com os olhos de Deus. Este processo pode e deve ser provocado pelo educador cristão, visando ensinar a comunidade cristã, responder a responsabilidade sócio emocional da igreja para com seus membros. O ideal é educar desde a infância, nos lares e culto infantil; desafiar estereótipos de masculinidade, incentivar o diálogo aberto sobre igualdade de gênero, promover a divisão equitativa de tarefas em casa e no trabalho, e combater a violência de gênero, sempre tendo a Bíblia como base.
É crucial que o educador religioso reconheça essa realidade e se envolva na promoção de uma cultura para a não violência contra a mulher, além de oferecer apoio e orientação às vítimas. A educação, conscientização e desconstrução são passos essenciais nesse processo para renovação da nossa mente. É necessário um esforço dos Educadores Cristãos em promover espaços de desenvolvimento de estratégias que envolva, pastores e líderes, homens agressores e mulheres em sofrimento e em espaços diferenciados. Porém, de forma paralela, o mesmo esforço deve ser empregado por todo cristão, para promover uma nova masculinidade que honre a Cristo. Aqui estão algumas estratégias para alcançar esse objetivo:
- Educação e conscientização: Promover a educação sobre questões de gênero e masculinidade desde a infância é fundamental. Nas igrejas, é importante abordar os estereótipos de gênero e as expectativas sociais associadas à masculinidade. Além disso, é necessário oferecer programas de educação e conscientização sobre a prevenção da violência de gênero. A educação e conscientização sobre essas questões são cruciais para promover mudanças positivas em nossa sociedade. A Bíblia nos incentiva a ensinar nossos filhos no caminho certo, para que possam crescer com princípios sólidos de igualdade e respeito. Quando educamos as gerações mais jovens sobre a importância do respeito mútuo, estamos construindo um alicerce sólido para o futuro.
- Modelos positivos: É essencial que homens que adotem uma masculinidade saudável e respeitosa sejam apresentados como modelos positivos. Isso pode ser feito através da representação de homens que valorizam a igualdade de gênero a partir do olhar de Jesus, além do respeito e da empatia. Além disso, devemos ser modelos positivos para os outros, especialmente quando se trata de masculinidade saudável e respeitosa. Jesus Cristo é o exemplo supremo de amor, compaixão e respeito, e devemos nos esforçar para segui-lo, como diz em 1Coríntios 11.1, “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo“.
- Desconstrução dos estereótipos de gênero: É importante questionar e desconstruir os estereótipos tradicionais associados à masculinidade, como a ideia de que homens não devem expressar emoções ou que ser forte significa ser agressivo. É necessário promover uma visão mais ampla e inclusiva do que significa ser homem. A desconstrução dos estereótipos de gênero é um desafio que a Bíblia nos encoraja a enfrentar. Ela nos ensina a humildade e a consideração pelos outros (Filipenses 2.3), e isso inclui desafiar as noções preconceituosas e prejudiciais de masculinidade que podem levar à violência contra as mulheres.
- Diálogo e reflexão: Incentivar o diálogo aberto e a reflexão sobre questões de gênero com homens de todas as idades é uma estratégia poderosa. Isso pode ser feito em grupos de discussão, durante práticas esportivas, workshops ou discipulados, onde a liderança pode incentivar conversas sobre masculinidade saudável. O diálogo e a reflexão são ferramentas poderosas para promover a mudança. A Bíblia nos incentiva a ser pacientes e prontos para ouvir (Tiago 1.19), o que é essencial quando discutimos questões sensíveis como a masculinidade e a violência de gênero. Ao criarmos espaços seguros para essas conversas, estamos seguindo o exemplo de Jesus.
- Redefinição de papéis: Promover a divisão equitativa de tarefas e responsabilidades dentro de casa e no ambiente de trabalho é essencial. Isso ajuda a desconstruir a ideia de que certas tarefas são exclusivamente “femininas” ou “masculinas” e contribui para a construção de relações mais igualitárias. A redefinição de papéis de gênero e a promoção da igualdade também estão enraizadas na Bíblia. Gênesis 2.24 nos lembra que o homem e a mulher se tornam uma só carne, o que reflete a parceria e a igualdade dentro do casamento e das relações. Isso é reflexo de um casal saudável onde o cabeça da casa, se submete ao Senhorio de Cristo. Quando aplicamos essa igualdade em todas as áreas da vida, estamos obedecendo ao chamado bíblico.
- Combate à violência de gênero: É fundamental combater a violência contra mulheres e meninas, além de promover a cultura do respeito e do consentimento, através da Bíblia. Isso envolve conscientização sobre os direitos das mulheres, campanhas de prevenção e o engajamento dos homens como aliados na luta contra a violência de gênero. Por fim, o combate à violência intrafamiliar, são princípios essenciais que encontramos na Bíblia. Efésios 5.25 instrui o homem a amar suas esposas da mesma maneira com que Cristo amou a igreja, o que implica um amor sacrificial e respeitoso, que reflete em toda a família.
- Apoio psicológico e ou com discipulados intencionais: Oferecer apoio psicológico, ou discipulados intencionais, com pessoas especialmente capacitadas para atender essa demanda, para homens que tenham sido afetados por padrões de masculinidade tóxicos, fora do amor sacrificial que a Bíblia indica ao esposo, também é importante e pode ser feito através de discipulado, terapias individuais ou grupos de apoio. Em Gálatas 6.2, somos chamados a ajudar uns aos outros a carregar fardos pesados, demonstrando a importância do apoio mútuo em tempos difíceis.
A Bíblia nos oferece orientações valiosas sobre como tratar uns aos outros com amor, respeito e compaixão, e isso se estende à maneira como lidamos com as questões de gênero e violência. Portanto, como educadores cristãos, temos a responsabilidade de aplicar esses princípios bíblicos em nossas abordagens pedagógicas às questões de violência contra a mulher. Completando essa série, temos o tema “A Luz da Educação Cristã: Ensinando a Comunicação Não Violenta.” Que apoia o educador a utilizar esta ferramenta para construir pontes para a restauração, disponível aqui no blog.
Fontes:
CÉSAR, Marília de Camargo. O grito de Eva: a violência doméstica em lares cristãos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021
Folha de São Paulo https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2023/03/08/brasil-bate-recorde-de-feminicidios-em-2022-com-uma-mulher-morta-a-cada-6-horas.ghtml “Brasil bate recorde de feminicídios em 2022, com uma mulher morta a cada 6 horas” Por Clara Velasco, Felipe Grandin, Marina Pinhoni e Victor Farias, g1 08/03/2023 03h30 Acesso 10/07/2023
Fórum Brasileiro de Segurança Pública https://forumseguranca.org.br/ Violência contra a mulher – Dados, pesquisas e análises. Acesso em 08/07/2023
Ramos, Andreia. Viúvas de Maridos Vivos: Quebrando o Silêncio. A violência contra a mulher no contexto cristão.2023