Nesta terceira parte, pretendo refletir sobre o papel dos sujeitos no processo de aprendizagem. No caso do professor cabe desenvolver um olhar e uma escuta atenta às necessidades morais, emocionais e espirituais das pessoas, bem como seu conhecimento prévio das Escrituras, suas experiências, compreensões, interesses a partir da relação com sua realidade imediata, como parte de um processo contínuo de tomada de decisão, bem como na gestão de conflitos, em que os professores observam e escutam que, existe uma diversidade e diferenciação bíblica com relação a compreensão e apreensão dos conteúdos do conhecimento bíblico que as pessoas possam ter, isso é perceptível em sala de aula e para fora dela.
Conforme Blasius Debald (2020, p.59) ao mencionar o psicólogo norte-americano David Paul Ausbel, reafirma que ele “apresenta a teoria da aprendizagem na qual os conhecimentos prévios dos estudantes devem ser valorizados, para que eles possam construir estruturas mentais utilizando, como meio, mapas conceituais, (…)”.
É necessário desenvolver nas pessoas, uma noção de totalidade, uma cosmovisão cristã do plano salvífico de Deus, revelado nas Escrituras, (criação redimida, ou ação divina criadora, queda e providência, redenção (a ressurreição de Cristo Jesus constitui a criação) e a consumação) contraponto uma visão fragmentada, descontextualizada das Escrituras muito comum no imaginário religioso das pessoas. Segundo James K.A. Smith (2019, p.27), no livro “Imaginando o Reino”. A dinâmica do culto”, entende educação cristã como “uma compreensão mais holística da pessoa humana e da educação cristã”.
Para isso é necessário criar vínculos cognitivos, mas também socioafetivos (uma dimensão ausente do processo aprendizagem), entre os diferentes sujeitos do processo aprendizagem, ou seja, o professor e as demais pessoas que se encontram na condição de alunos que aprendem, ou aprendizes das Escrituras. Neste sentido, faço uma advertência, com relação ao índice de rotatividade de professores a cada manhã de domingo, lecionando ou ensinando as Escrituras na EBD, isso não é aconselhável e, nem saudável para se efetivar uma Educação Cristã diferenciada na prática, em sala de aula. Tal prática não favorece o senso de responsabilidade, de escuta e compromisso do professor com as pessoas com as quais ministra as Escrituras.
Na prática, os professores precisam de tempo para pensar e aprender como as pessoas estão aprendendo as Escrituras, para isso é necessário, convivência, conhecimento de como as pessoas aprendem sobre as Escrituras. Por vezes, insistimos na figura de quem ensina, mas pouco ou quase nada, como as pessoas estão aprendendo. Eles precisam de tempo para observar, ouvir e pensar na aprendizagem das pessoas enquanto ensinam as Escrituras. Algo que facilite o desenvolvimento da maiêutica socrática (relação dialética de perguntas e respostas seguidas de outras perguntas) por parte dos aprendentes.
A Educação Cristã diferenciada na prática, reconhece na aprendizagem personalizada ou individualizada aplicada a cada pessoa, a relação ao conteúdo do conhecimento bíblico teológico, seja no aspecto cognitivo, sócio afetivo, espiritual, bem como no desenvolvimento de habilidades. Neste aspecto as necessidades das pessoas são identificadas por meio de um ensino, estudo e meditação adaptados, em que as pessoas são identificadas com base em seus conhecimentos ou habilidades de manusear as Escrituras, interpretá-la e aplicá-la no seu cotidiano.
Alguns especialistas têm afirmado que “a educação funciona mais eficazmente se essas diferenças forem levadas em conta, em vez de serem negadas ou ignoradas.” (2023, p.5). Neste sentido, Educação Cristã diferenciada na prática está embasada a exemplo do que vem sendo implementado recentemente na literatura científica sobre motivação e cognição. Neste contexto, trata-se do objeto de estudo e pesquisa deste ensaio acadêmico.
Uma Educação Cristã diferenciada na prática, baseia-se em outro aspecto importante, ou seja, no trabalho em pequenos grupos, na elaboração de um plano individual de leitura das Escrituras para cada pessoa. De modo que, tal premissa reconhece que as pessoas aprendem de maneira diferente. Elas têm perfis diferentes, hábitos, ritmo próprio e comportamento distintos uns dos outros.
Permita-me fazer uma analogia com o médico. Quando você marca uma consulta no consultório médico, o profissional que lhe atende, dispõe de um documento, isto é, uma ficha que contém todas as informações necessárias e importantes que permite acompanhar seu quadro clínico. Imagina um professor utilizar um portfólio como recurso didático, numa perspectiva personalizada.
Reconheço que é possível romper com as rotinas de sala de aula, lógica de uma pedagogia cristã centrada no ensino para a pedagogia cristã na aprendizagem dos sujeitos aprendentes, algo que exigirá a reelaboração do significado do espaço da sala de aula e, assim, promover a aprendizagem personalizada, adotando os princípios da autoavaliação, da reflexão e, na medida que a liderança cristã e pastoral da igreja, percebam que estamos lidamos com um projeto centrado das Escrituras, “somos criados pela Palavra” e, com uma educação personalizada vamos alcançar nossos objetivos. No próximo blog, algumas implicações de uma Educação Cristã Diferenciada na Prática.
REFERÊNCIAS
BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; TREVISANI, Fernando de Mello. Ensino híbrido. Personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso. 2015.
SMITH, David I. Pedagogia cristã: como praticar a fé em sala de aula. 1 ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2022. (Coleção Fé, Ciências & Cultura).
ZUSHO, Rhoda Bondie Akane. Diferenciação pedagógica na prática. Rotinas para engajar todos os alunos. Porto Alegre: Penso. 2023. (Série desafios da Educação).
WEBSTER, John. A cultura da teologia. São Paulo: Vida Nova, 2023.