Percebe-se muitos modelos de pedagogia influenciados por uma visão dualista, separando pensamento e sentimento. Acontece que tais modelos são muito mais fáceis de aplicar. É muito mais fácil dar uma palestra do que estruturar uma aula, envolvendo alunos como pessoas indizíveis. É muito mais fácil dar conselhos a partir de uma postura relativamente neutra do que construir ativamente uma relação multidimensional com um cliente ou um aluno. É muito mais fácil ver seres humanos como criaturas que pensam ou sentem do que lidar com pessoas como seres integrais. No livro intitulado: Sala de Aula de Qualidade Total, a autora reflete a importância de integrar aprendizagem cognitiva e emocional, ligado à experiência, sustentando a interligação entre ambas. Ou seja, na educação, não basta apenas conhecer os dados e as informações de maneira isolada. Para que os conhecimentos adquiram sentido aos jovens, é necessário situá-los no contexto mais amplo. É necessário, pois, descobrir o que une os objetos de conhecimento entre si a fim de que tomem sentido no todo de que fazem parte.
Assim como a educação precisa lidar com a pessoa integralmente, incluindo sentimentos e experiências, também o aconselhamento precisa lidar com a pessoa como um ser integral, o que inclui um elemento educativo. Contudo, no campo da educação, levantam-se vozes temerosas de que com este princípio a sala de aula simplesmente se tornaria um lugar onde o(a) professor(a) e os (as) alunos(as) compartilham suas opiniões e sentimentos sobre um determinado assunto. A este respeito vale lembrar que a compreensão de experiências e sentimentos da pessoa é fundamental para o atendimento e a análise crítica e objetiva de um assunto.
No campo do aconselhamento, a objeção é a de que o terapeuta poderia simplesmente ensinar seus valores ou a sua cosmovisão, desrespeitando a individualidade do cliente. Estes questionamentos têm sua validade. Contudo, pela pedagogia sabemos que o ensino não é doutrinação. O ensino implica na apresentação da informação de maneira a motivar sua incorporação crítica e não simplesmente sua aceitação cega. Isto, aliás, vale tanto para o ensino como para o aconselhamento.
Vale ressaltar que no campo da psicologia, Erik Erikson, Carol Gilligan, Abraham Maslow, Fritz Perls, Rollo May e Roberto Assagioli também questionaram as imagens dualistas da pessoa e a separação das funções do pensamento e do sentimento.
Educação e aconselhamento compartilham a mesma tendência de dividir as pessoas em duas partes: a parte que pensa e a parte que sente. Superar essa falsa divisão é uma tarefa que requer a interligação de dois campos, resgatando a relação íntima entre educação e aconselhamento. É a tarefa de integrar o que até agora tem caracterizado a visão fragmentada da pessoa.
Bibliografia
MAY. Rollo. O homem à procura de si mesmo. Petrópolis. Vozes, 1996.
COSET. Ramos. Sala de Aula de Qualidade Total. São Paulo. Qualitymark, 1993.
RICHARDS, Lawrence O. Teologia da educação cristã. São Paulo: Vida Nova, 1983.