Em uma dessas conversas de família, já no fim da noite, comecei a fazer várias perguntas a um tio muito querido, o pastor Irland Pereira de Azevedo. Entre os assuntos, perguntei como ele via, hoje, o papel da educação cristã. Com a serenidade e sabedoria de quem dedicou a vida ao ensino e ao pastoreio, ele me respondeu: “A educação cristã seria muito mais eficaz se fosse entendida como educação para a vida cristã”.
Naquele instante, a frase fez todo o sentido para mim. Afinal, o nosso trabalho na educação cristã não é formar especialistas em teorias ou conhecedores de métodos. O propósito maior é formar discípulos de Jesus. Pessoas que aceitaram a Cristo como Salvador e agora caminham com o compromisso de viver para ele — com valores, princípios e atitudes baseadas na Palavra de Deus.
O chamado da educação para a vida cristã
Educar para a vida cristã nos leva a uma autêntica reavaliação: o que temos feito? Que frutos temos colhido? Mais que isso: que frutos a educação cristã tem produzido em nós?
Temos visto, com pesar, muitos educadores cristãos desanimando, desviando-se da missão ou simplesmente reduzindo seu papel à transmissão de conteúdo. Mas fomos chamados para muito mais. Fomos chamados a ensinar com propósito, a viver com intenção e a formar vidas com base na verdade do evangelho.
Educar para a vida cristã exige que tenhamos um projeto de vida — um projeto que priorize pessoas. E isso envolve reconhecer que muitos alunos, sejam crianças, adolescentes ou adultos, ainda não compreendem plenamente aquilo que estamos tentando ensinar. Será necessário voltar ao início. Recomeçar. Caminhar junto.
Retornando à essência
Estamos cercados por metodologias, recursos, tecnologias e teorias. Tudo isso pode ser útil. Mas não podemos ignorar um fato alarmante: o ensino da Palavra de Deus tem diminuído em profundidade e impacto.
Nas Escolas Bíblicas Dominicais, por exemplo, vemos a frequência diminuir e o interesse enfraquecer. E não porque faltem recursos modernos, mas porque, em muitos casos, perdemos o foco. A essência era simples e poderosa: ensinar a Bíblia. Não apenas seguir uma revista, nem depender de fórmulas prontas, mas levar o aluno até a Bíblia, e dali ajudá-lo a crescer, compreender e aplicar.
O resultado de uma educação para a vida cristã é um cristão autônomo, que sabe estudar as Escrituras por si mesmo e que encontra nelas alimento para a sua jornada com Deus. Infelizmente, temos visto cada vez mais ouvintes passivos, incapazes de alimentar-se espiritualmente sem depender de outros.
Uma urgência: voltar ao propósito
Se quisermos ver transformação real, precisamos voltar ao propósito. Precisamos de educadores que não apenas ensinem, mas vivam o evangelho; que não apenas informem, mas formem cristãos.
Este é o tempo de recomeçar. De retomar o essencial. De renovar o nosso compromisso com a Palavra de Deus e com aqueles que nos foram confiados como alunos — talvez este seja o momento de reavaliar nossos caminhos, retornar ao propósito inicial e reconstruir uma educação que leve verdadeiramente à vida — à vida cristã.