“Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela?” (João 4:27)
Uma cena que não se costuma ver é a de um dos ministros do STF ir a público e num ato de humilhação e coragem pedir desculpas ao ex-presidente do próprio STF por um conjunto de palavras mal-empregadas (“negro de primeira linha”). No Brasil, o racismo constitui-se num crime inafiançável e imprescritível! (Art. 5º, inciso XLII da Constituição Federal, o qual ganhou efetividade através das leis nº 7.716/89 e 9.459/97).
Agir com racismo não é uma cena incomum e continua acontecendo nas mais diversas formas em todo lugar. Às vezes, não é preciso exprimir qualquer palavra pois a ação ou a falta dela, o olhar ou a expressão facial já denotam um preconceito velado e acalentado internamente, que foi nutrido dia a dia e, quando menos se espera, ele desabrocha ruborizando, por vezes, o ofensor e os que estão à volta, mas sempre, o ofendido!
Pior que o preconceito social (se podemos pensar assim!) é o preconceito religioso, onde já condenamos e, neste caso, para o condenado não há mais salvação. No texto bíblico acima, isto é o que se descortina para nós, pois por causa de um pretexto histórico e cultural, os discípulos de nosso Senhor manifestam, numa cena simples, toda a carga preconceituosa para com uma mulher sofrida, amargurada e alijada do contexto social. Não nos é difícil achar
motivos para justificar tal ação deliberada dos discípulos. Mas, para nosso Senhor não é assim.
Dono de sua própria agenda, Ele sabia que deveria passar por aquele caminho e ensinar algo para aqueles que o seguem. Ele ensina ao ofendido (“importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”) e ao ofensor (“erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa”) o que realmente importa e quais mudanças só Ele (Jesus) mesmo pode fazer! Temos uma tarefa importante a executar, abandonar nosso preconceito e anunciar
esta mensagem de transformação, pois só o verdadeiro evangelho anunciado é capaz de unir gente, de quebrar as barreiras do preconceito e de formar uma comunidade de verdadeiros adoradores. A pergunta proferida há tanto tempo ainda continua ecoando: “a quem enviarei, quem há de ir por nós?” Mas, prontamente, que se ouça a resposta abafadora “eis-me aqui, envia-me a mim.” Ó Deus, que a desgraça do preconceito esteja longe de mim, para que eu te
responda por quem quer que seja “eis-me aqui”!