“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1)
Quando aconteceu? Como aconteceu? Quem estava lá? São perguntas usadas e que expressam a busca pela origem de um evento. Essa procura é o que tem movimentado muitos cientistas em suas pesquisas ao longo do tempo, gerando uma constante busca pela origem da vida e pela origem de nosso universo. Pela segunda lei da termodinâmica, estamos em um universo em expansão e acredita-se que o conhecimento de como são as regiões mais distantes e fora de nossa galáxia deve nos dizer como tudo ocorreu no princípio. Há uma previsão de cerca de 2 trilhões de galáxias no chamado universo observável. Embora não consigamos “descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3:11), prosseguimos tentando. Teorias são formuladas e reformuladas, teorias são levantadas e derrubadas e a mesma pergunta sempre está presente: quem estava lá quando os
fundamentos do universo foram lançados (Jó 38:4)?
A perspectiva do texto joanino está voltada para o princípio. Somos imediatamente remetidos ao princípio conforme revelado por Moisés em Gênesis, um dos livros que compõe o pentateuco judaico e que mostra a criação do universo observável e não observável, e fala da própria origem da humanidade. João usa a mesma expressão que Moisés (no princípio) para expressar que houve uma ordem criadora dada que estabeleceu tudo o que existe. Ele está preocupado em definir com clareza sobre quem ele vai passar a discorrer no seu evangelho,
sobre sua onipotência e todos os seus atributos, que são idênticos aos do próprio Deus.
João vai estabelecer que de quem ele vai começar a falar tem existência diferente da ordem criada e foi Ele quem a criou. A ordem criada não faz parte dele, não é uma extensão dele e também não é eterna, mas teve sua origem no tempo e no espaço. Moisés, que não tinha o conhecimento científico que temos hoje e o aparato experimental do telescópio espacial Hubble, recebeu a revelação de quem criou o universo e a relatou. É interessante o modo de
expressar de Moisés usando uma sequência invertida dos termos “tarde” e “manhã”, pois era de esperar que primeiro viesse a manhã e depois a tarde. Mas Moisés quer deixar claro que a ordem é estabelecida no ato criador de Deus, daí ele usa primeiro tarde (caos) que desemboca na manhã (ordem). A ordem foi sendo estabelecida a partir de atos criadores de Deus.
Para João não há quem possa responder nenhuma pergunta sobre a criação, senão quem a criou de fato. Este é o Verbo, a Palavra de Deus, no qual João vai personificar em Jesus. Não há dúvida na mente de João que Jesus é a Palavra criadora de Deus em ação lá no princípio de tudo. E agora, o ato criador de Deus é novamente estabelecido. Mas parece que a ordem é alterada. Naquele princípio, conforme relatado por Moisés, o homem é o último ato da criação e, agora, na perspectiva joanina, em Cristo, novamente em ação, é criada nova humanidade e
que deve aguardar a criação de novos céus e nova terra. Em ambos os casos, o “no princípio” é um ato de quem pode, do Deus onipotente que se revelou na pessoa do Jesus homem.
João teve a revelação especial atuando em sua própria vida, fazendo a ligação de ambos atos criadores. A manifestação pessoal do Criador na história foi vivenciada por João para que pudesse fazer um relato da sua onipotência, envolta pelo amor e demostrada na cruz, como o único meio de estabelecer a nova criação. Durante seu relato no evangelho escrito, João vai se ocupar de revelar de forma clara quem é Jesus e toda sua obra. Se o princípio revelado por Moisés é grandioso, o é mais ainda o revelado por João. Se tudo que é criado tem um
princípio, João prefere começar pelo criador de todas as coisas, o alfa e o ômega, que não abandonou sua obra criada, mas se envolveu pessoalmente com ela e demonstrou todo o seu amor. Essa é a gênese de tudo.