A alma humana tem sede de Deus. O vazio na vida interior só pode ser preenchido pelo eterno. Contudo, na condição de pecadores, buscamos a satisfação desse desejo infinito em prazeres superficiais e momentâneos. C.S. Lewis, o maior pensador cristão do século XX, disse: “Se descubro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui criado para um outro mundo”.
No encontro de Jesus com a Samaritana, conforme João 4.1-30, aprendemos que a fonte de verdadeira satisfação é o relacionamento com Deus. Após seu encontro transformador com Jesus, aquela mulher ficou cheia de alegria, deixou tudo para trás e correu para a sua cidade para compartilhar esta experiência com outros, convidando-os a conhecerem o Messias, que eles viriam a reconhecer como o “Salvador do mundo” (v. 42).
A Samaritana representa a humanidade sedenta por satisfação e vida plena. Tentando saciar sua sede emocional e espiritual em relacionamentos superficiais e fracassados. O que vale para a vida pessoal também se aplica à família. Cada membro da família é ameaçado pela sede interior que muitos insistem em esconder e resistem em confessar.
O pecado causou uma desordem na vida interior. O desejo humano passou a ser incontrolável e autodestrutivo. Deixamos de desejar o Criador e passamos a nos satisfazer com as criaturas. São muitos os objetos: prazer imediato, riqueza, sucesso. Todos eles, parciais e provisórios. O salmista já havia declarado que nossa alma possui anseio profundo que só Deus pode preencher: […] “Assim como a corça anseia pelas águas correntes, também minha alma anseia por ti, ó Deus!” (Sl 42.1).
Jesus confrontou a mulher com essa sede interior ao dizer: “chama o teu marido” (v.16). Ela enfrentou sua realidade respondendo: “não tenho marido” (v. 17). A experiência de casamentos sucessivos revelava a busca por satisfação através de “cinco maridos” e do atual, que não era “marido” (v. 18). Cada relacionamento conjugal era um “poço” vazio. Diante desses poços, ela usava o “balde e a corda”, que representava o esforço por ser feliz.
O problema não está nas pessoas ou relacionamentos, recursos ou oportunidades concedidas por Deus, mas em fazer deles um fim em si. Acontece que Jesus não é um objeto ou recurso, mas uma pessoa cuja presença transforma completamente a vida interior. A “água viva” oferecida por Ele era um “dom de Deus” (v. 10). Mais adiante, no Evangelho, João explicará que esta vida é recebida e desfrutada pela presença do Espírito Santo no crente (7.37-39).
Quando a família é saciada na fonte que é Jesus, transborda de satisfação e alcança outras famílias sedentas de vida plena. A mulher, antes envergonhada e resistente em “chamar o marido”, agora deixa o cântaro (símbolo de sua busca vazia) e corre para testemunhar (v. 28-30) em sua comunidade. Quem experimenta a graça, transborda da graça.
Nossa missão na liderança da igreja, especialmente com relação às famílias, é conduzir famílias à Fonte. A missão de cada família é conduzir outras famílias à Fonte. Cristo expõe nossa sede, sacia-nos com sua graça e envia nossa família aos sedentos. Enquanto nossas famílias dependerem de poços vazios e de balde e corda (tentativas de fazer de pessoas, bens ou projetos a fonte de satisfação), continuarão ignorantes e confusas quanto ao seu real problema, um problema de fonte. Ninguém pode ser a fonte para o outro, mas todos podemos ser canais ligados diretamente à Fonte para que o seu amor, sua paz e a verdadeira felicidade sejam compartilhadas.